Jessé Souza

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O tripúdio em forma de nota e o desrespeito a uma instituição de quatro décadas

Jessé Souza*

Desde que encerrei meu contrato com a Folha de Boa Vista, tenho evitado não responder aos que ainda tentam associar-me à empresa de alguma forma, seja pela crítica ou por acharem que ainda continuo na empresa. A verdade é que há cinco anos deixei o jornal e não tenho mais nenhuma ingerência no comando do jornalismo. Recentemente, a título colaborativo, voltei a escrever meus artigos diários neta Coluna, no entanto, não faço mais parte da equipe.

Só que, desta vez, não posso silenciar-me a respeito de uma “nota de repúdio” assinada pela direção do Sindicato dos Policiais Penais do Estado de Roraima (Sindppen-RR), a qual foi divulgada no dia 22. A referida publicação pode muito bem ser classificada mais como uma “nota de tripúdio” do que mesmo como de repúdio, já que não se atém a debater civilizadamente os argumentos dispostos naquele artigo de opinião ou esclarecer fatos essenciais para a opinião pública tirar suas conclusões.

Particularmente, hoje não me ofendo mais com ataques pessoais contra minha capacidade intelectual ou competência profissional, pois os 20 anos de carteira assinada somente na Folha, com 32 anos atuando no mercado da Comunicação, me possibilitaram galgar espaços e credibilidade para apurar informações junto a fontes conceituadas. Então, o tripúdio a minha pessoa naquela nota eivada de leviandades não me ofende, pois quem realmente tem conhecimento do assunto sabe os pontos primordiais que levaram  àquela nota cheia de cólera espumando a cada linha.

O que mais me revoltou foi a forma com que os autores da nota destrataram a instituição Folha de Boa Vista, da qual reúno todas as propriedades possíveis para defendê-la, mesmo sem ter mais nenhuma autorização para tal nem ligação contratual. Os autores da nota, a qual tenho certeza não ter o aval de toda a diretoria daquele sindicato, apenas revelam suas verdadeiras intenções maquiavélicas de não aceitar opiniões contrárias nem de respeitar instituições, da mesma forma que não estão habituados a respeitar hierarquias.

Aqui está o “xis” da questão: nas últimas semanas, surgiu um curioso movimento de “notas de repúdio” de entidades que, em vez de debaterem e se aterem aos fatos, partem para agredir profissionais e veículos de comunicação, desvirtuando o sagrado direito de resposta e mostrando um perigoso comportamento de querer estar acima de críticas e do respeito a opiniões contrárias ou de críticas contra os seus interesses particulares ou de grupos.

O que se pode perceber é que tais entidades já perceberam a fraqueza política do atual governo, que desde o princípio buscou governabilidade distribuindo nacos do poder para aliados e até chantageadores. E acham que também podem morder os seus pedaços de poder atropelando quem os critica ou denunciam, usando a truculência como instrumento. Para isso, não respeitam a imprensa como instituição necessária para manter o jogo democrático e tentam aviltar os profissionais que têm o papel de serem críticos para o bem da coletividade.

Há quatro décadas a Folha vem cumprindo com o seu papel de ser uma instituição essencial para o debate e por oferecer os instrumentos necessários para que a opinião pública e demais instituições democráticas tenham em suas mãos os meios para monitorar o poder. E não pode ser aviltada da forma que foi por um sindicato, ou parte dele, que se acha acima da crítica. O desrespeito faz parte de um jogo leviano que precisa ser abominado pelas instituições democráticas e a opinião pública não contaminada pelo extremismo.

Já sabemos o que acontece quando grupos não aceitam o jogo do poder por meios democráticos, o qual inclui o papel da imprensa questionadora, como foi o caso do sequestro e tortura de um apresentador de TV e sua esposa. É preciso ligar o alerta de novo. As instituições precisam ser respeitadas da mesma forma que os profissionais de comunicação, cujo dever é ser crítico para que possam contribuir para o debate no seio da sociedade. O que foge do debate é truculência, que por sua vez não pode ser aceito de forma alguma.

*Colunista

** Os textos publicados nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião da FolhaBV