Programa de incentivo turístico a servidores estaduais e as antigas barreiras
Jessé Souza*
Depois do lamentável episódio do titular da pasta sair pelas portas dos fundos, na semana passada, acusado de violência contra a mulher, a Secretaria de Cultura e Turismo (Secult) decidiu mostrar serviço ao lançar, na manhã de terça-feira, 28, o programa “Viaja Mais Servidor”, que tem a finalidade de incentivar os servidores estaduais e seus dependentes a conhecerem as belezas turísticas de Roraima.
Obviamente que o Governo do Estado tratou o evento como mais um momento de festa midiática, com toda aquela estafe governamental e a tradicional corriola de apoiadores, os quais precisam ser vistos para que possam ser lembrados na hora das canetadas. No entanto, se espremer o programa recém-lançado, sobra um suco mirrado do turismo roraimense, misturado com grande insatisfação dos servidores, os quais estão mais preocupados com a garantia de seus direitos e com melhores condições de trabalho.
A realidade leva a desconfiar de que o programa se trata de mais um placebo, assim como foi o desastroso turismo em terras indígenas, o qual caiu no esquecimento e abandonado depois do “auê” midiático, pois ainda não há consenso sobre o Turismo nas comunidades indígenas, muito menos sequer existe estrada decente para a comunidade onde o programa foi instalado, a Raposa I, inclusive uma região dominada pelo garimpo ilegal e outros ilícitos que advém dessa prática fora da lei.
O abandono do Turismo é flagrante. Basta ter como exemplo o único ponto turístico consolidado de Roraima, a Serra do Tepequém, no Município do Amajari, onde todos os tipos de desassistência governamental são visíveis. A situação das estradas é flagrante. Na questão fundiária, enquanto o governo emite título definitivos no entorno de comunidades indígenas, conforme o artigo de ontem, Tepequém segue sem regularização fundiária, favorecendo o desordenamento e práticas de especulação imobiliária.
O único grande feito atual em Tepequém, que foi a oferta do Curso Técnico de Guia de Turismo, que está sendo ministrado pelo Instituto Federal de Roraima (IFRR), sequer contou com qualquer colaboração do governo estadual, o qual tem se mostrado ausente inclusive para treinar e apoiar os condutores locais daquele principal ponto turístico do Estado. O mesmo curso está sendo ministrado no Município de Mucajaí, tudo em parceria com as prefeituras e completa inércia do governo ao menos para garantir o mínimo de apoio.
Se o principal ponto turístico de Roraima está nestas condições, com a comunidade e os empreendedores clamando por apoio ao menos na questão de acesso, para facilitar a vida dos turistas e dos que lá moram e investem, é de se imaginar nas demais regiões onde os empreendedores do Turismo não têm visibilidade nem forças políticas para cobrar recuperação de estradas e pontes de madeira caindo aos pedaços.
Diante desse quadro, que incentivo terá o servidor público colocar sua família dentro de um carro para enfrentar crateras nas rodovias e pontes prestes a desabar nas vicinais? Ou ir a locais onde não existem condições básicas para recepcionar o turista ou mesmo um visitante com seus familiares? Como ainda não foi divulgado de que forma irá funcionar o “Viaja Mais Servidor”, o que resta é esperar se algo positivo possa surgir dessa nova ação governamental além do mais do mesmo da realidade atual.
*Colunista
** Os textos publicados nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião da FolhaBV