Opinião

Opiniao 15621

 A reforma deformada do ensino médio

Sebastião Pereira do Nascimento*

Nos diversos enunciados relativos à educação no Brasil, sempre considera-se a mesma retórica onde, lamentavelmente, condiz com uma educação em desalinho, motivada pela falta de compromisso do poder público e da própria sociedade. E na medida em que se aprofunda na busca de algum resultado, os exemplos também são sempre tacanhos e vergonhosos, evidenciando a grande despreocupação dos setores públicos e sociais no que diz respeito à educação no país.

Partindo dessa premissa, o artigo do filósofo Railson Barboza (PUC-Rio), intitulado “Reforma ou “deforma” do ensino médio?”, publicado em 24/03/2023, traz um cenário, o qual considera que “a atual “reforma” do ensino médio, expressa na Lei 13.415 de 16/02/2017, deferiu alterações radicais na proposta da Lei de Diretrizes e Bases (LDB), em relação etapa da educação básica. Dentre muitos artigos investigativos produzidos nesses últimos tempos, a tônica adotada em sua maioria é que a reforma causou uma grande “deforma” (ou deformação) na qualidade do ensino ofertada aos alunos de todo o Brasil. A proposta, em tese, visa ampliar a gama de possibilidades futuras aos jovens, ofertando-lhes a autonomia na escolha de disciplinas — consideradas optativas — visando sua trajetória após o ensino médio. Na prática a proposta representou a marginalização de diversas disciplinas, consideradas por muitos como “evasivas”, dentre as quais a filosofia e a sociologia que se sobrepõem.”

Pegando carona nessa apreciação, é justo dizer da importância das disciplinas relativas às ciências humanas — artes, história, filosofia, sociologia, educação física, etc —, como aporte curricular, visto que trazem grandes contribuições para educação no momento em que auxiliam nas reflexões sobre o conhecimento multidisciplinar, fazendo um diálogo com os saberes do dia a dia de cada um (professor e aluno) interagindo nas aulas de maneira formais e não formais.

Nesse processo de instruir, ocorre a produção do conhecimento, como bem disse Paulo Freire, quando destaca que a educação é uma resposta da finitude da infinitude. Ela é possível para o homem porque este é inacabado e sabe-se inacabado. Isto leva-o à sua perfeição. A educação, portanto, implica em busca realizada pelo sujeito, o qual deve ser o sujeito de sua própria educação. Pois, não pode ser objeto dela. Assim, a busca pela educação deve traduzir-se numa busca permanente de si mesmo  um mais além de si  capaz de captar sua realidade e de conhecê-la para transformá-la.

         

Notadamente há um grande equívoco na atual “reforma” do ensino médio, onde, segundo Railson Barboza, “…logo de cara na justificativa que a Lei trouxe vem a errônea atribuição do abandono e da reprovação dos alunos, não considerando os demais aspectos envolvidos. Quais seriam? A péssima infraestrutura da maioria das escolas no país (inexistentes ou péssimos laboratórios, falta de bibliotecas, poucos ou inexistentes espaços para educação física e atividades culturais), sem levar em consideração a carreira dos professores, com péssimos salários, e problemas na vinculação a uma única escola, tendo que “se virar” para subsistirem e dar conta de seus boletos. Além disso, quem formulou a lei ignora basicamente o afastamento de muitos jovens da escola, não somente do ensino médio, devido à necessidade em auxiliar para a renda familiar, realidade dos jovens de periferia e dos lugares descentralizados do país.”

Em outro artigo de Celso Ferretti, publicado em 2018, intitulado “A reforma do ensino médio e sua questionável concepção de qualidade de educação”, um estudo para a Unicef de 2014 evidenciou que os adolescentes apontaram como principais causas do abandono escolar, além das questões curriculares, a violência familiar, a gravidez na adolescência, a ausência de diálogo entre docentes, discentes e gestores e a violência na escola. Ou seja, os desafios externados pelos alunos não corroboram com a narrativa da mudança estrutural do currículo regular de disciplinas, sob a justificativa de melhora no conteúdo e preparo para o mundo do trabalho. Esse último, inclusive, com inúmeras justificativas que em tese colaboraram na inserção da juventude no mercado de trabalho, mas busca tornar o jovem cada vez mais “técnico” e pouco capaz de desenvolver livremente suas próprias capacidades.

À vista disso, essas medidas reforçam ainda a ideia de que o ser humano se encontra limitado à sua própria experiência pessoal e/ou ao seu próprio mundo. Do contrário, o ser humano só se aprofunda e se apropria de conhecimentos ou de múltiplas experiências mediante as relações que se interpõem com outros sujeitos e sua realidade a partir de duradouras reflexões, tendo como base uma educação que se distancie do seu recôncavo conceitual e passa ser coadjuvante das ideias e das experiências compartilhadas, possibilitando a multiplicidade e o desenvolvimento intelectual do sujeito.

Dito isso, partindo do que a Lei 13.415 preconiza, a responsabilidade do ensino médio no país é de cada Estado da federação, todavia, Railson Barboza considera que “a estruturação e a organização curricular [da “nova reforma”] partem das política
s estabelecidas no âmbito nacional, a exemplo da Lei de Diretrizes e Bases, dos Planos Nacionais de Educação e das Diretrizes Curriculares Nacionais, através de aportes elaborados por aqueles que exercem cargos em agências governamentais”, [ao invés de serem elaborados por educadores coadunados com diferentes representantes legais da sociedade civil].

Essa disputa hegemônica na educação, nas palavras de Railson Barboza, revela a impossibilidade em considerar os problemas da formação humana capazes de serem resolvidos apenas por mudanças educativas, restritas ao currículo, metodologias, formação, pois o cenário educacional apresenta limites para além das salas de aula. É necessário entendê-la, também, como campo de contradições e, portanto, como campo de possibilidades de mudança, pelo menos no âmbito cultural — em seu sentido amplo.

“Da mesma forma que o filósofo grego Sócrates foi assassinado pelo Estado, pela sociedade e pelos seus pares, acusado de “desviar” os jovens, hoje as ciências humanas sofrem pelo estigma da desvalorização de seus profissionais e da sua marginalização, devido aos discursos que pejorativamente acusa de exclusivamente “marxista”. A falta de conhecimento histórico e filosófico é uma triste realidade que coaduna com os planos dos grupos que almejam a transformação dos fatos históricos ou seu total esquecimento. O que parece tão perigoso quanto é o plano abjeto para torná-las repulsivas aos jovens, sem aplicação na vida ou sem utilidade. Sendo esse discurso constantemente propagado por setores que amam construir teorias de conspiração.” Diz Railson Barboza. 

Continuando, o mesmo professor diz que “certamente existem inúmeras ameaças à educação e o seu acesso pela juventude, mas jamais a filosofia, a história ou a sociologia seriam as grandes protagonistas. As grandes [protagonistas] seriam o desemprego, a fome, o preconceito, a violência urbana, a falta de saneamento básico, a pouca valorização dos profissionais da educação, a necessidade dos jovens em abandonar as escolas para contribuírem financeiramente dentro de suas casas, o pouco (ou quase nenhum) investimento estrutural, por parte dos governantes, em escolas e creches pelo país, dentre outras muitas coisas. No final das contas todos são afetados pela falta de ação política na educação: profissionais da educação e seus familiares, alunos e seus familiares, a sociedade cada vez menos crítica às realidades impostas por ideologias repressivas e condenatórias, além do futuro totalmente incerto e incapaz, nas mãos de quem realmente planeja apagar com a história.”

Portanto, Railson Barboza conclui que: “reformar sem pensar na estrutura, no alicerce, na base da construção é maquiar sem propósito algum. Pensar nas diversas categorias e setores da sociedade que influenciam na vivência e atuação dos discentes na escola, é trabalhoso, mas profícuo aos olhos de quem tem a educação como prioridade. Porém vai tocar na ferida de muita gente. E quem gosta de ter sua mazela exposta?”

Aqui cito novamente Paulo Freire quando se refere ao seu método de ensino a favor dos oprimidos, mostrando como é o processo de opressão e como poderia haver aprendizado com base nesta realidade, onde a libertação do indivíduo poderia se dar a partir do momento em que este indivíduo reconhecesse a sua própria condição real para que esta pudesse ser transformada. Tais disposições confrontam com o atual quadro da educação brasileira que se inspira numa ideologia burguesa, com a vanguarda educacional voltada os olhos para o novo e rejeitando valores considerados “velhos”. Portanto, para desfrutar de uma educação reparadora é preciso agir com responsabilidade e justiça, e se comprometer com o que acontece na vida da comunidade e do país.

*Filósofo, escritor e consultor ambiental.

A melhor idade é estar vivo.

Na semana passada ocupei o nobre espaço deste jornal para falar de etarismo, que chamei de “Velhofobia”. O título do artigo foi “Velho é um jovem que deu certo”. Falei do imbróglio envolvendo três mentecaptas que chamaram uma colega de faculdade, de 44 anos de velha.

Recebi várias mensagens sobre o tema, a maioria de pessoas com mais de 60 anos.

Algumas falando que após encerrarem um ciclo começaram outro ou outros. Estão estudando, fazendo dança de salão, escrevendo livro, cursando nova faculdade, escrevendo livros, transando, casando, fazendo trabalhos sociais. Enfim, estão ativas e produtivas.

Ninguém mais quer ser taxado de aposentado. A melhor definição que ouvi sobre aposentado, foi em Barcelona, de uma amiga portuguesa, que elegeu aquela fascinante e surpreendente cidade para viver. Maria, 67 anos, natural do Porto, após divorciar-se, sem filhos, resolveu tentar a sorte em terras espanhola. Morou primeiro na capital, Madri, depois fixou residência à beira mar, na ensolarada Barcelona. Em um bar, nas Rambras, bebericando um Tempranillo, Maria me contou que aposentado é aquele que voltou para seus aposentos. Deixou a sala da casa, recolhera-se ao quarto de dormir, deixando de ser ouvido. Maria, é um exemplo de reinvenção: arranjou um emprego e um namorado na Espanha, estava resignificando sua vida. Feliz com suas escolhas.

Aprendi com Maria, nunca permito que me chamem de “aposentado”. Sou Engenheiro Agrônomo, Palestrante, escritor, estudante de jornalismo, viajante, globetrotter, menos “aposentado”.

Em um voo Guarulhos-Paris, sentou-se próximo do meu acento, duas capixabas. Tia e sobrinha. A sobrinha, na faixa dos 40 anos, conheceu em um aplicativo de relacionamento, um paulista que morava em Toulon. A tia, com mais de 60 anos, foi de acompanhante, queria conhecer a França, um desejo antigo.

No desembarque no aeroporto Charles de Gaulle, fui apresentado ao futuro namorado da jovem. Fiquei em Paris, o trio seguiu para Toulon. Tempos depois soube que o rapaz paulista havia se interessado pela tia, mais velha que ele, e que voltara ao Brasil para desposa-la. Invertendo a ordem natural das coisas, o homem se interessou pela mais velha, a ponto de se casar com ela.

Os tempos mudaram, e em muitos casos, para melhor. Hoje existe um termo para designar as pessoas sem idade ou repletas de idades, são as “ageless”. São pessoas que estão no auge da vida, produzindo, acontecendo, e o melhor, fazendo acontecer.

Envelhecer hoje é muito diferente do que era envelhecer há 20, 30 anos. Isso porque, além de terem um estilo de vida e atitude muito mais saudáveis do que as gerações passadas, essas  pessoas não se definem pela idade.

Diferentemente de antigamente, essas pessoas valorizam mais o propósito do que a estabilidade de qualquer vínculo e, por isso, se recusam a ficar presas a empregos convencionais ou a relacionamentos em que não se sentem felizes. Medo de mudança não faz parte da rotina dessas pessoas. Sem se definirem por quantas primaveras passaram, elas são consideradas “ageless”, termo em inglês que significa, “sem idade”.

Os novos tempos trouxeram novos conceitos, e muitas pessoas, no mundo todo, querem dar novos rumos em suas existências. Não querem apenas sobreviver, mas viver intensamente o tempo de vida que lhes resta. Isso só se aprende com o passar dos anos.

Quando jovens, por terem mais tempo pela frente, a maioria não tem a preocupação em viver da melhor forma.

Confúcio já dizia “Qual seria sua idade se você não soubesse quantos anos você tem?”. Idade é apenas mais um número, entre tantos que temos que lidar diariamente. Afinal, depois de ter que decorar número de RG, CPF, CEP, celular, agência, conta, celular, aniversário de filho e familiares, ainda termos que nos preocupar com o número da certidão de nascimento já é demais, não é não?!

Enquanto estamos por aqui, temos que ter propósitos e projetos de vida, isso nos revigora todos os dias. Nos faz sentir vivos e participativos.

Portanto, caro leitor, amiga leitora: velho é o mundo, quando por aqui chegamos ele já existia, vamos embora e ele fica. Portanto, a melhor idade é estar vivo e com saúde.

Felicidades, feliz idade, repleta de realizações e conquistas.

Eng. Agrônomo, Palestrante, cronista e viajante. Autor do livro “Das muletas fiz asas”, o latino americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 151 países em todos os continentes.

O que eu devo fazer?

Afonso Rodrigues de Oliveira

“O preço a pagar pela tua não participação na política é seres governado por quem é inferior”. (Platão)

Como você participa na política? Talvez você nem imagine a importância que você tem na política. Mesmo quando sua participação é forçada pela obrigatoriedade, você pode participar para a correção dessa distorção. Ou você é um dos ingênuos que ainda não perceberam que enquanto houver obrigatoriedade no voto não haverá democracia? Mas considere esse absurdo como uma tarefa sua, para solucionar o problema com sua participação cidadã. E não é simples. Platão já sabia e dizia isso há mais ou menos quatrocentos anos antes de Cristo. E de lá para cá a coisa continua a mesma. Todos os grandes pensadores da humanidade sofreram o que estamos sofrendo hoje, com uma política distorcida. E continuaremos assim até que um dia, quem sabe, aprendamos a ser cidadãos.

A cada dois anos, temos eleições. E é realmente um enfrentamento. E ainda não aprendemos a escolher boa parte dos nossos representantes na política. Ainda não aprendemos que eles são nossos representantes; e que quando não sabemos escolhê-los, fatalmente sofremos os resultados do nosso desmando. E a culpa pelos resultados é só nossa. E por isso não temos moral para reclamar. Mais uma eleição vem por aí. Você está preparado para a tarefa? Sabe realmente por que vai votar no candidato que escolheu? O Brasil está necessitando de cidadãos politicamente civilizados.

Por que será que dificilmente encontramos uma frase de elogio à política e aos políticos, vinda de grandes pensadores e realmente intelectuais? Olha só essa do Rui Barbosa: “Há tantos burros mandando em homens de inteligência, que às vezes, fico pensando que a burrice é uma ciência”. Mas tudo bem. Esse papo não tem o fito de agravar nem menosprezar os políticos nem os eleitores. “Ainda temos muitos bons políticos no Congresso Nacional. O que não temos mais, é estadistas”. Taí uma tarefa toda nossa. Não vamos formar grandes estadistas votando em palhaços, e despreparados para a política. Procure ver e saber qual o preparo e formação política que tem, seu candidato. E não caia nessa, de pensar que, politicamente, a posição de um vereador é menos importante do que a de um senador. É na visão primária de diferenças que o eleitor despreparado, politicamente, comete o erro.

Você não está votando em alguém que vai mandar em você. Você está elegendo um representante seu, para representá-lo no poder público. É você quem paga o salário, tanto do presidente da República, quanto do vereador. Sua responsabilidade é muito maior do que você imagina. Pense nisso.

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