Opinião

Opiniao 15662

As mulheres e o ensino superior no Brasil Alana de Freitas Pires

É importante refletirmos sobre as conquistas e desafios de ser mulher no mundo atual. Faz-se necessário destacar a importância do ensino superior como caminho para a superação de desigualdades de gênero. Neste cenário, em específico, as mulheres têm desempenhado um papel cada vez mais importante, tendo, nas últimas décadas, um aumento significativo de matrícula em faculdades e universidades, superando a presença masculina em muitos cursos e áreas de estudo. De fato, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, por meio da segunda edição do estudo Estatísticas de gênero, apresenta que a proporção de pessoas com nível superior completo em 2019 foi de 15,1% entre os homens e 19,4% entre as mulheres. As mulheres ainda são sub-representadas em algumas áreas de estudo, bem como em cargos de liderança acadêmica. O Censo da Educação Superior em 2019 mostrou que as mulheres correspondiam a apenas 13% das matrículas nos cursos presenciais de graduação na área de Computação e Tecnologias da Informação e 22% na área de Engenharia e profissões correlatas. Já nas áreas relacionadas ao cuidado, a participação feminina é muito maior. O acesso à educação também se dá de forma desigual entre as mulheres. Em 2019, mulheres pretas ou pardas entre 18 e 24 anos apresentavam uma taxa de frequência ao ensino superior de 22%, quase 50% menor do que a registrada entre brancas (41%). As mulheres ainda são ligeiramente minoritárias entre os docentes desse nível de ensino, representando 47% dos professores de instituições de ensino superior no Brasil. Além disso, as mulheres muitas vezes enfrentam obstáculos adicionais em sua busca pela educação superior, como a discriminação de gênero, a desigualdade salarial e as responsabilidades familiares e de cuidado. Neste cenário, destaca-se o importante papel das instituições de Ensino Superior privadas que contribuem com a redução nestas desigualdades de gênero, garantindo um maior acesso do público feminino em comparação com as instituições públicas. O Censo de ensino superior (2021) coloca a participação de mulheres em Universidades Públicas a nível de Brasil em 55,5%. Quando se compara com instituições privadas, temos o aumento para 61% a nível de Brasil, demonstrando um papel mais inclusivo destas instituições. A presença crescente de mulheres no ensino superior traz benefícios significativos para a sociedade em geral, contribuindo para a diversidade de ideias e perspectivas, e criando uma cultura acadêmica mais inclusiva e igualitária. Que avancemos neste propósito a fim de criar um mundo mais justo e equitativo para todos.

Alana de Freitas Pires Pró-reitora em Unidade de Ensino Superior da Estácio

A violência nas escolas e suas possíveis causas

Sebastião Pereira do Nascimento*

Atualmente é inegável que vivemos uma crise de violência em toda sua plenitude, a qual tem envolvido grande parte da sociedade no mundo. No Brasil, a violência desponta na mesma intensidade, gerando desconforto e desequilíbrios na sociedade, onde para muitos a violência atual é um legado do passado que veio se multiplicando numa escalada desordenada, quando os mais “novos” revolvem as vísceras podres da origem e passam a reproduzir em casa, na rua e até na escola os códigos de conduta violenta. Assim, os sujeitos cada vez mais familiarizados com as práticas da violência, se manifestam ensandecidos cuja lógica não é nada demais agredir ou mesmo dar tiros, ou facadas em alguém com a intenção de matar.

Sobre essa violência nas escolas brasileiras, Telma Vinha, professora da Faculdade de Educação da Unicamp, que estuda o assunto — em entrevista para o Jornal Estado de São Paulo — considera que “toda essa violência atual, acende um alerta muito grande porque a sociedade sabe que vai acontecer de novo. Só não sabe onde. Antigamente esses casos aconteciam muito mais devido a bullying, sofrimento e agressão. Isso permanece, mas atualmente são muito mais movidos por uma radicalização da população jovem.”

A educadora classifica ainda os ataques em dois tipos: o primeiro são os motivados por vingança ou raiva. O segundo são os ataques cometido por usuários de uma cultura extremista, visando fazer o maior número de vítimas possível. Contudo, todos levam sofrimento aterrorizante às escolas, com um planejamento. É algo que a pessoa volta para mostrar do que é capaz, para se vingar. Existe premeditação, planejamento, que é geralmente aprendido na internet.

Esses grupos de pessoas, no geral, fazem parte da articulação de uma espécie de comunidade mórbida, que está nos vários acessos das redes sociais. A professora comenta ainda que “os estudantes ou outros praticantes dessas barbáries são cooptados em jogos, por exemplo, e vão para várias plataformas que ensinam como fazer ataques. Também entram nas chamadas “true crime community” [comunidade de crimes reais], uma comunidade da subcultura online, com células fascistas.”

Nessas mídias digitais é onde as pessoas exploram a fundo es
ses elos de conexões,
agindo mais com a emoção do que a razão, a maioria das vezes levadas pela generalização da violência, tendo essa celebração como expressão pessoal máxima cuja celebração é aplaudida pelo restante do grupo praticante. Também é possível constatar a partir da massificação das mídias digitais, diversas inversões de valores sociais, onde as crianças e adolescentes são cada vez mais distante e estranho para outro. E há quem tema que essa tendência geral possa ser ainda mais destrutivas socialmente, pelo fato desses grupos juvenis não se importarem com as limitações ética e moral.

Telma Vinha, atribui também essa violência, “à disseminação de ideias extremistas, discurso de ódio e culto às armas entre as crianças e jovens, além da disseminação de discursos de ódio contra minorias, isso tem encorajado atos agressivos, por exemplo, o aumento da cultura da violência, tem na sua sustentação um discurso social autorizando o tratamento dos conflitos pela violência e não pela palavra. É como se desse permissão para agir.”

Nos últimos quatro anos, com o funesto discurso de ódio e armamentista, a flexibilização do acesso às armas e as falhas no sistema de controle de armas no Brasil, isso permitiu armar não só a população criminosa, mas também pessoas comuns com potenciais para cometer bárbaros crimes. Assim, o ex-presidente Jair Bolsonaro, politicamente, é colocado como uma das principais pessoas estimuladoras desses fatídicos atentados nas escolas do país, visto que conseguiu arregimentar pessoas valetudinárias para seu intento criminoso, quando ele apostava no discurso do bem contra o mal, sendo ele o mal.

Outra coisa são as plataformas da internet. Elas têm de ser responsabilizadas também, pois muitas dessas pessoas que praticam esse terror nas escolas, antes de cometer o assassinato, anunciam os ataques na internet. Essas pessoas muitas vezes têm o desejo sôfrego de querer chamar atenção para seus problemas ou mesmo querer notoriedade social a todo custo, onde buscam incessantemente pelos meios virtuais satisfazer sua cobiça. Atitude de pessoas doentias, que sustentam algo próprio dos sociopatas, ainda mais quando essas coisas estão associadas ao desprezo pelo outro (levando a um transtorno de personalidade), onde o indivíduo passa simular sentimentos violentos, até concretizá-los.

No que se refere ao controle dessas atitudes, Telma Vinha, esclarece que não é simples frear o problema. Para ela “não adianta [ainda que seja necessário] dizer que o pai tem de acompanhar a internet. Muitas vezes os pais não têm a expertises para acompanhar seus filhos nas plataformas mais complexas. Também aumentar a vigilância e a segurança na escola não é substancial.” Do mesmo modo, a mera indignação da sociedade em geral não é produtiva. Não gera ações e acaba resultando no desânimo e sofridão.

“Não existe saída simples, mas existe um conjunto de ações possíveis de serem feitas. As escolas precisam melhorar a qualidade da convivência porque, em todos os casos, têm um sofrimento na escola vivido por todos [alunos, professores, pais de alunos, etc.]. No entanto, não adianta se não tiver uma política, um planejamento, uma intencionalidade de transformação. Se os primeiros conflitos fossem resolvidos do jeito certo e não ignorados pelas escolas ou punidos, hoje poderia ser diferente. Aumentar a inteligência da segurança pública, o monitoramento de redes, por exemplo, ajudaria muito. A comunidade afetada precisa ter um canal para denunciar. E quando esses [bárbaros] anunciam [seus ataques] antes, geralmente é sério. Não se pode ignorar”, completa a educadora.

Voltando às recomendações, a especialista aponta ainda, que “é preciso fechar essas academias e institutos infantis militares, que oferecem a aula de curso de tiro. Além disso, é preciso fortalecer e ampliar serviços de saúde mental. E também é importante a mídia não divulgar informações sobre o assassino, porque as comunidades mórbidas, cada vez que ocorre isso, comemoram e valorizam.” Muitas vezes são crianças e jovens assassinos afetados por problemas existenciais (originados em casa ou no seu grupo social), que tentam resolver seus conflitos a base da violência.

Em entrevista ao Globo, o psiquiatra forense Richard Taylor (um dos mais renomados da Inglaterra), falando sobre essa onda de massacres nas escolas, diz que muitos assassinatos não estão associados a transtornos mentais oficiais. Por exemplo, nos homicídios psicóticos, que correspondem a cerca de 3% dos assassinatos, a maioria é cometido por pessoas em surtos de esquizofrenia. Onde o estado mental do agressor está realmente diferente da normalidade. Mas a maioria dos massacres é cometida por pessoas em estados mentais emocionais alterados por raiva, ódio, impulsividade, ciúmes, etc ou podem estar associados a questões de autoestima e sensação de ego ferido.

Todavia, como citado antes, no Brasil não há uma política contra a violência capaz de intervir de forma clara e permanente. O que há são políticas contingenciais, com nítidos interesses promocionais dos gestores públicos, que nada trazem de concreto para a sociedade e muito menos para a comunidade escolar. Não se ver o interesse concreto do Estado de transversalizar os poderes da educação, da cultura, do esporte e da ciência, que aliados às boas condições de trabalho, moradia, lazer, etc., ascenderiam a qualidade de vida da população brasileira, sobretudo dos jovens e crianças que teriam outra perspectiva de vida, e não a altern
ativa angustiante que os leva à prática da violência institucionalizada.      

Em Roraima, os problemas não são diferentes de outras regiões do país, o descaso é quase completo. O que assistimos nesses últimos dias é estarrecedor, quando grupo de “estudantes” vem divulgando pela internet ameaças de massacre em escolas de Boa Vista. É a derrocada das instituições públicas de segurança e a reconhecida incapacidade do Estado de atuar diante da violência como todo — aqui entra também o poder judiciário e sua incapacidade de julgar segundo as regras constitucionais e leis criadas pelo poder legislativo do país. Só como exemplo, o jovem assassino que invadiu uma creche na cidade de Saudade (SC) e matou três crianças em 04 de maio de 2021, quase dois anos depois, ainda não foi condenado, posto que deve ir a júri popular, conforme o Tribunal de Justiça de Santa Catarina.

Por outro lado, toda essa gama de violência evidencia o quanto estamos vivendo dissociadas dos afetos humanos e amparadas pela vaidade extrema, além da bruteza social, onde cada um visa apenas o seu bel-prazer, quando sair disparando ódio e violência no intuito de apenas machucar o outro. Não bastante, essas ações desorientadas tanto causam indignação às pessoas comprometidas as boas relações sociais, como deterioram cada vez mais os valores ético e morais da sociedade, salientando que sem a resistência moral, as pessoas entram em turbulência mental, e consequentemente deixam de fazer as coisas certas.

*Filósofo, escritor e consultor ambiental.

Não deixe que ela leve você

Afonso Rodrigues de Oliveira

“Bendita crise que vai ampliar minha visão”. (Mirna Grzich)

Já percebeu que as crises são uma sequência? Uma chega, cumpre o dever dela e vai embora. Mas não sai enquanto não for substituída. E nessa piroga furada vai levando a gente. Então vamos aprender para não nos deixarmos levar por elas. Qualquer um que tenha minha idade sabe quantas crises já vivemos. Quantas febres amarelas, vermelhas, rosas e sei lá quantas. E todas misturadas com as crises do dia a dia. Pela manhã fiquei pensando em quantas crises já vivemos, desde que comecei a prestar atenção a elas. Na minha infância foi um desespero com a malária, febre-amarela e tantas outras. Quantos parentes e amigos já perdi, levados pelas crises.

Pronto, acabou. Estamos ainda no início do quarto mês do ano vinte e três do século vinte e um. Então vamos viver a vida do século vinte e um. Vamos ser felizes com o que somos, para podermos fazer o melhor, para sermos mais felizes no nosso próximo retorno. Porque independentemente da vida que temos e da que levamos, estamos no grupo do ir e vir. Então, por que ficar se preocupando ou se torturando com os itens da vida? Os problemas estão aí para nos ensinar a vencê-los. Então são nossos mestres e não torturadores. Vamos nos valorizar para não sermos martirizados pelo que deveria ser visto e usado como ensino para a racionalidade.

Não nos esqueçamos de que estamos no século vinte e um, da era cristã. Não prestamos atenção a quantos milênios e eternidades vivemos antes da era cristã. E pelo que podemos notar, não progredimos tanto assim. E por isso não devemos ficar perdendo tempo com coisas e acontecimentos que não nos levam a não ser para o fundo do poço. “A vida é uma peça de teatro que não permite ensaio. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos”. (Charles Chaplin).

É importante que não saiamos do palco. Não permitamos que a cortina se feche sem que tenhamos consciência do que cumprimos. E como vivemos num mundo em evolução, que não consegue evoluir, devemos fazer nossa parte da melhor maneira que pudermos fazer. E sempre podemos ser o melhor, mesmo quando nos consideramos o melhor. O Bobe Marley orienta: “Não viva para que sua presença seja notada, mas para que sua falta seja sentida”. E só sentirão nossa falta quando soubemos viver na presença. Então vamos viver cada minuto do nosso dia, hoje, como ele deve ser vivido dentro do progresso racional. Porque não há progresso sem racionalidade. Recado que deve ser ouvido, dos que souberam e sabem viver a vida. Pense nisso.

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