Mais um apagão energético que não pode ser tratado apenas como cena repetida
Jessé Souza*
Não se trata de texto repetido. O que se repetiu no fim de semana, de sábado à tarde até a madrugada de domingo, foi o apagão energético na Capital e interior, o que deixou a população roraimense no prejuízo e submetida aos mais diversos transtornos. Muitos empresários aproveitaram para fechar suas empresas no fim da tarde, já que não havia qualquer previsão de restabelecimento do fornecimento de energia elétrica.
Um apagão semelhante ocorreu no fim do ano passado, quando esta Coluna publicou o artigo “Setor energético segue sem explicação com mais um apagão na conta das autoridades”, no dia 06 de dezembro, cobrando das autoridades uma posição. Tal artigo tratava-se de uma continuidade do tema que havia sido tratado no dia 02 de junho do mesmo ano, quando foi publicado o artigo “O tormento dos apagões e os dados colocados à mesa que exigem explicações”.
E o ano de 2022 encerrou-se com a Assembleia Legislativa de Roraima sem dar respostas satisfatórias sobre a frágil situação do fornecimento de energia termoelétrica na Capital e interior, uma vez que, sob um intenso alarido na imprensa, os deputados daquela legislatura instalaram uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para o investigar o setor energético, em outubro de 2019.
A alegação era de que a empresa que se instalou em Roraima para gerar energia até então só havia reajustado o valor da tarifa, mas sem melhorar a qualidade do serviço prestado à população. E a CPI ficou sem resposta, enquanto as autoridades nunca deram uma posição sobre o precário serviço prestado pela empresa energética especialmente no interior do Estado, onde os apagões se tornaram um problema constante, quase que diário.
Três meses antes do apagão de 05 de dezembro, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) havia divulgado que a distribuidora que abastece a Capital e algumas localidades do interior mais próximas registrou Frequência Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora (FEC) de 2,21 apagões em março daquele ano. Ou seja, cada unidade consumidora havia sofrido mais de dois apagões no mês, considerando interrupções iguais ou superiores a três minutos.
Um novo ano iniciou, mas ninguém deu qualquer resposta sobre a situação, assim como a Assembleia Legislativa com sua CPI da Energia Elétrica e os órgãos de controle e de defesa do consumidor. No início deste ano, até a Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor entrou com uma ação contra a empresa Americanas, em Boa Vista, por supostamente vender um pacote de azeitonas com a data de validade vencida. No entanto, nada se viu em relação ao fornecimento de energia elétrica no Estado.
Com mais esse novo-velho apagão, não se pode mais admitir que o silêncio impere novamente, inclusive a própria Assembleia Legislativa com a CPI que foi criada para investigar a crise energética, mas entrou em blecaute geral. Conforme os artigos anteriores, são visíveis as falhas no sistema, as quais não conseguem ser sanadas a tempo de evitar um blecaute nas proporções do que foi registrado no fim de semana.
É preciso esclarecer o que realmente está ocorrendo, pois o fornecimento de energia elétrica é um serviço de extrema necessidade para a população e ao desenvolvimento do Estado, logo é um assunto que não pode ser tratado com tanta displicência e descaso. Não se pode mais aceitar que as causas desses apagões fiquem ocultas da opinião pública e principalmente das autoridades (ou as autoridades sabem e não querem que a população tome conhecimento?!)
*Colunista
** Os textos publicados nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião da FolhaBV