Jessé Souza

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A capivara Filó e o crime organizado que exibe seu poderio no garimpo ilegal

Jessé Souza*

Enquanto os olhos dos brasileiros nas redes sociais estão voltados para o caso da capivara Filó, a Amazônia brasileira do extremo Norte continua sequestrada pelo crime organizado, que se apoderou do garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami. Após matarem a tiros um Yanomami e deixarem dois feridos, no sábado, quatro bandidos foram mortos ao receberam a tiros as equipes de policiais rodoviários federais e do Ibama, no domingo à noite, que foram para a região do conflito na terra indígena.

No momento em que uma multidão fazia uma manifestação para a liberação de uma capivara, em Manaus (AM), com repercussão na imprensa internacional, ninguém deu atenção para o ataque aos indígenas (mais um) na Terra Yanomami. Os bandidos sentem-se tão à vontade em praticar seus crimes que também, mais uma vez, recebeu policiais a tiros, munidos de farto armamento de grosso calibre, material este apreendido após o confronto.

O novo caso de conflito na Terra Yanomami, com sangue indígena derramado e com policiais federais afrontados, expõe outra vez o que esta Coluna vem afirmando desde o ano passado, sobre a nova geografia do crime organizado na Amazônia, que passou a atuar nos garimpos ilegais nas áreas de fronteira, ampliando seu leque de atuação e associando vários crimes, como tráfico de drogas e de armas, contrabando de ouro e cassiterita, exploração sexual de mulheres, inclusive adolescentes.

Os recentes acontecimentos mostram que o garimpo ilegal não pode ser tratado, em hipótese alguma, como uma situação de país de famílias desempregados em busca da sobrevivência. Com a retirada e saída espontânea de milhares de garimpeiros, restou a forte atuação do crime organizado, com milicianos defendendo seus negócios a qualquer custo e explorando a mão de obra de quem se dispõe a arriscar suas vidas e a desafiar as operações policiais.

Significa que as forças federais precisam intensificar a atuação de repressão, mirando a nova realidade do crime organizado resistindo e afrontando os poderes constituídos, esperando pela primeira oportunidade para reabrir novamente as frentes do garimpo ilegal, enquanto as autoridades reduzem a atuação na mesma medida em que a opinião pública é levada a se comover mais com uma capivara do que com a vida dos indígenas e com a defesa da Amazônia.

O que estamos vendo é consequência de uma política que fez de tudo para reduzir a fiscalização ambiental e as operações de fiscalização nas terras indígenas, nos últimos anos. As facções criminosas perceberam o caminho aberto, longe de qualquer repressão, para montar sua base de atuação no garimpo ilegal.

Bem alojados e auferindo lucros exorbitantes, os criminosos estão mostrando um poder de fogo que precisa ser enfrentado pelas autoridades, sob o risco de o garimpo ilegal explodir novamente na primeira oportunidade em que o Governo Federal relaxar. Até porque o crime organizado está associado com os poderes corruptos locais.

Ou vamos nos deixar comover mais com o caso de uma capivara?

*Colunista

** Os textos publicados nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião da FolhaBV