Enquanto a classe política local se digladia em torno da indicação para a vaga de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE), um ataque armado supostamente comandado por garimpeiros contra indígenas na Terra Yanomami, no último sábado (29), voltou novamente os holofotes do mundo inteiro para Roraima, e da pior forma possível. Para a imprensa internacional, agora ficou claro que nosso estado se tornou uma espécie de Velho Oeste, sem autoridade do poder público, onde o trabuco fala mais alto.

O tema ganhou a manchete dos maiores veículos de comunicação do Brasil e virou assunto de destaque no Twitter, rede social considerada formadora de opinião. Por conta disso, em meio ao pinga fogo entre os Poderes Legislativo e Executivo, desembarcou no início da tarde de ontem em Boa Vista, uma comitiva do governo federal encabeçada pelas ministras Nísia Trindade (Saúde); Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima); e Sônia Guajajara (Povos Indígenas). Também estavam o secretário Nacional de Segurança Pública, Francisco Tadeu de Alencar e o presidente do IBAMA, Rodrigo Mendonça, além de membros do Programa Federal de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos, Secretaria e Distrito Sanitário Especial Indígena (SESAI), Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI) e Secretaria de Comunicação Social (Secom).

O grupo, motivado pelas notícias do tiroteio em que um agente de saúde indígena restou morto e outros dois feridos, e que resultou também na morte de garimpeiros pela Polícia Rodoviária Federal, esteve no Hospital Geral de Roraima (HGR) e no DSEI Yanomami, onde manteve reunião com a equipe do Centro de Operações Especiais do Ministério da Saúde.

O núcleo duro do governo do estadual se apressou em providenciar uma visita do governador Antonio Denárium (PP) aos indígenas internados no HGR e emitiu nota na manhã do feriado, afirmando que o mesmo até chegou a ‘conversar’ com um dos feridos, que “pôde falar sobre os cuidados que estava recebendo da equipe da unidade hospitalar estadual”.

Em dois trechos da nota, quando o governador diz reafirmar “o compromisso de atender a todo e qualquer indígena que precise dos serviços da rede estadual de saúde, se colocando à inteira disposição para auxiliar o governo federal”, fica evidente que o fantasma vivido por ele em janeiro deste ano, quando se chegou a vislumbrar um pedido de intervenção federal devido à crise humanitária Yanomami, está de novo rondando o Palácio Senador Hélio Campos. Agora, a responsabilidade pelo recente episódio de violência contra os indígenas é de inteira responsabilidade do governo nacional e de suas forças de segurança.

E OS MINISTROS? 

Como coube a um trio de mulheres a resposta do governo federal a mais um conflito armado registrado na Terra Indígena Yanomami, a pergunta que não quer calar depois da visita das ministras Marina Silva, Sônia Guajajara e Nisia Trindade é onde estavam os ministros da Defesa e da Justiça e Segurança Pública? Afinal, a segurança nessa região é da alçada deles! 

CUMPRIU

O deputado Jorge Everton (União Brasil) cumpriu a promessa feita ao vivo na Rádio Folha, no último domingo, dia 30, e protocolou junto à Mesa Diretora da Assembleia Legislativa de Roraima, uma representação, com pedido de providências em caráter de urgência, contra o governador Antonio Denárium, por improbidade administrativa e abuso de autoridade, por fatos relacionados à eleição de conselheiro do TCE.

FATOS

Everton mais uma vez narrou o que chamou de “proposta indecorosa”, feita pelo governador no último dia 20, para que este retirasse sua candidatura ao cargo e declarasse apoio à pretensão da primeira-dama, Simone Denárium. O parlamentar afirma ter informado sua saída da base de apoio ao Governo, o que teria gerado atos de retaliação/perseguição por parte de Denárium, e menciona exonerações de indicados e intimidação com uso de aparato da Secretaria de Segurança Pública contra si. 

PUXADINHO

Ainda na entrevista do domingo, Jorge Everton disse que a “Assembleia não pode se apequenar, ser um puxadinho do Governo” e que o governador estaria confundindo a coisa pública com a privada, ao tentar impor aos parlamentares uma indicação familiar. O único parêntese que fazemos é quando ele afirma que deputados não interferem na escolha de secretários, quando o que vemos é bem o contrário.

AUDITORIA

Para concluir, pinçamos durante a entrevista informação que é das mais relevantes para a população. Conforme o parlamentar, os contratos da Secretaria Estadual de Saúde, especificamente da gestão de Cecília Lorezon, estariam sendo auditados pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) e da União (TCU). Como já publicamos cá na Parabólica, recursos federais teriam sido perdidos por falta de aplicação inclusive para as obras da maternidade. 

MATERNIDADE

É preciso que o Governo do Estado se manifeste oficialmente sobre esses recursos, fruto de emendas parlamentares, para a reforma da maternidade e que teriam sido devolvidos supostamente pela ineficiência da Secretaria de Saúde. Caso seja verdade, é realmente inaceitável que o povo esteja arcando com esse custo, sendo obrigado a receber serviços em uma estrutura improvisada de lonas há três anos, a um custo altíssimo para os cofres públicos.

TERCEIRIZAÇÃO

Outro tema no qual o governador Antonio Denárium deveria se concentrar diz respeito a tal terceirização do HGR, principalmente depois que o TCE recomendou a anulação do edital de chamamento público feito pela Sesau. A secretária Cecília Lorezon ainda está no prazo para manifestação, que precisa ser público, transparente, justificável e convincente, como a população de Roraima merece.

NÃO RESPONDER

Fontes da Parabólica dizem que o governador Antônio Denárium está sendo aconselhado por assessores a não responder às criticas do deputado estadual Jorge Everton. Na avaliação deles, qualquer manifestação do governador só iria piorar um quadro político já muito complicado e com consequências ainda imprevisíveis.

MUDANÇAS Parece que a disputa pelo TCE fez adiar as possíveis mudanças no primeiro escalão do governo estadual e que seriam anunciadas pelo governador ainda no mês de abril. Fontes dos bastidores da política local dizem que as mudanças esfriaram e alguns secretários tidos como certo de saírem ganharam sobrevida. Até quando? escaparam.

CONTRA

Pelos menos dois deputados federais roraimenses, que estão sendo apontados pela imprensa nacional e pelas redes sociais como favoráveis a aprovação do Projeto de Lei (PL) 2026/2020 – conhecido como PL das Fake News e também pela tentativa do governo de controlar a mídia-, disseram, ontem, a Parabólica que votarão contra a medida. Gabriel Mota e Defensor Stélio Dener, ambos do Republicanos, garantem que seguirão a orientação partidária, já decidida desde a semana passada. Dener, já no último domingo, em entrevista ao Programa Agenda da Semana já antecipara ser pessoalmente contra a aprovação do PL 2026/2020.