Jessé Souza

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Disputa pela vaga no TCE e o futuro da política roraimense nas próximas eleições

Jessé Souza*

Não se trata apenas de uma disputa política pela vaga de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE). O desenrolar dos fatos mostra algo mais profundo na cena política roraimense. É uma briga titânica por um projeto de poder:  de um lado está o grupo no comando atualmente; e, do outro, dois grupos que almejam ter as chaves dos cofres públicos, seja porque estão fora, ou seja porque flutuam atualmente no poder atual, mas querem o controle absoluto.

O que acaba sendo ocultado dentro da briga de foice é o papel do TCE, uma instituição importante como órgão de controle e que teve seu nome maculado por envolvimento de alguns de seus membros nos maiores escândalos dos últimos tempos, como o “caso gafanhoto” e as irregularidades fundiárias. E tudo indica que esta disputa tem como pano de fundo manter essas anomalias nas entranhas de uma instituição que jamais deveria ter sido manchada da forma que foi.

Os personagens que disputam o cargo de conselheiro não deixam dúvidas a respeito de que lado eles estão, cujos nomes na lista de inscrição na Assembleia Legislativa deixam bem claro que também está em jogo, nesse bolo maior, a disputa pela Prefeitura de Boa Vista, que será o mais forte trampolim para a próxima eleição ao Governo do Estado, bem como pela definição de uma nova bancada federal. Eles não descansam um minuto quando se trata de negociar seus projetos de poder.

Não há pudores entre eles. Enquanto se desenrola a disputa pelo cargo vitalício, os grandes problemas do Governo de Roraima e da Prefeitura de Boa Vista vão ficando em último plano, não importando se a população sofre com falta de energia ou com postos de saúde fechando as portas para atendimento ao público. Aliás, aos poucos estamos vendo a Capital de Roraima sendo abandonada ao descaso, em um filme repetido de um tempo não muito distante.

Em um cenário maior, enquanto os políticos disputam essa vaga no TCE, os fantasmas do passado assombram a todos como caveiras saindo do armário, a exemplo do garimpo ilegal, cujo enredo começa lá atrás, com a chegada da família do ex-senador Romero Jucá (assunto para futuros artigos) nos anos 1980 e, atualmente, com o governador Antonio Denarium e sua família se apoderando do poder junto com os empresários do agronegócio, incentivando a garimpagem nas terras indígenas desde o início do primeiro mandato.

Logo, a opinião pública não pode ficar alheia a esta briga titânica, pois dela sairá o terreno fértil e caminho pavimentado para as próximas eleições, em que os grupos mostrarão não apenas suas faces, mas também seus planos de como pretendem controlar o Estado para que tudo continue do jeito que está, ou seja, no bem-bom para eles, seus grupos e seus familiares.

Enquanto isso, o povo seguirá com saúde pública deficitária (cujos problemas começam nos postos de saúde dos bairros periféricos e findam na fila do Hospital Coronel Mota), na histórica crise energética, na constante falta de água nos bairros e municípios, na pauperização das famílias assalariadas, na cidade sem mobilidade e sem sinalização de trânsito etc.

A opinião pública não pode se omitir de acompanhar os meandros que se desenrolam a partir da disputa de uma vaga no TCE e que vão definir o que queremos daqui para frente no Governo de Roraima e na Prefeitura de Boa Vista.

*Colunista

** Os textos publicados nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião da FolhaBV