Jessé Souza

A criminalidade fora do controle e o grande risco quando a policia comeca a matar 15884

A criminalidade fora do controle e o grande risco quando a polícia começa a matar

Jessé Souza*

Não demorou muito para cair a máscara de estudantes seguros com policiais militares montando guarda em frente das escolas públicas e privadas. Era um óbvio placebo, em certo ponto até compreensível, a fim de dar uma sensação de segurança, ainda que falsa. Enquanto as autoridades fingiam que estava tudo bem, plantando viaturas em pontos estratégicos, a bandidagem aproveitou para ficar mais afoita. Tudo conforme esta Coluna previu. A segurança das escolas precisa de atenção, mas não da forma que foi feita.

A decisão de colocar viaturas na frente de escolas desfalcou a atuação da polícia ostensiva em toda a Capital, que já era deficitária, conforme foi abordado no artigo intitulado “As políticas do cobertor curto e de entregar o peixe dentro do contexto de insegurança”, publicado no dia 26 de abril passado. A livre circulação de armas e drogas, conforme foi comentado ontem, e o cerco ao garimpo ilegal na Terra Yanomami acabaram ampliando a criminalidade especialmente em Boa Vista. E a Segurança Pública se mostrou perdida entre brigas políticas (até na briga pela vaga de conselheiro do TCE), problemas de gerenciamento e falta de estrutura.

Enquanto era “apenas” acerto de contas entre bandidos do crime organizado, com corpos geralmente de venezuelanos desovados em áreas de enfrentamentos de facções (que vai do entorno do Mirante, no Centro, passando pelos bairros Calungá, São Vicente, 13 de Setembro e Pricumã), as autoridades de Segurança Pública fingiam que nada estava acontecendo, em um mundo mágico dos institucionais do governo. Só que a criminalidade já havia saído do controle desde que facções se apoderaram do garimpo ilegal, há pelo menos quatro anos.

Não por coincidência, começamos a assistir confronto de policiais militares com bandidos. A população aplaude, pois está submetida à insegurança e foi habituada a não enxergar que a criminalidade se combate com políticas de prevenção associadas a políticas sociais, qualificação profissional para jovens, esporte, lazer etc, além de investimento pesado em educação (algo que não se vê, pois a PM está vigiando a frente de escolas que estão caindo aos pedaços do portão para dentro da salas).

O extremo da criminalidade já vimos ocorrer no passado, não por coincidência quando o garimpo na Terra Yanomami eclodiu, na década de 1980, e a polícia começou a matar, no momento em que também começaram a surgir cemitérios clandestinos, o que significava a ação de grupo de extermínio como solução para a criminalidade. Mas, como se sabe, grupo de extermínio e polícia matando deliberadamente são um grande risco para toda a sociedade, pois esses grupos começam matando bandidos e logo se tornam um poder paralelo, desafiando os poderes constituídos e fazendo suas próprias leis.   

Para completar o quadro que estamos vivendo, a Prefeitura de Boa Vista há tempos largou a fiscalização das praças públicas, que estão sendo apoderadas pelo tráfico de drogas, permitindo que, enquanto mais viaturas são destinadas a fazer rondas na frente de escolas, permite que a malandragem, que é porta de entrada para a bandidagem, se apodere de logradouros públicos, especialmente as praças, que se tornam ponto de venda de drogas até mesmo à luz do dia. Rondas na frente de escola, sim! Mas que também seja feita a retomada das praças para garantir a segurança das famílias.

Então, há uma realidade preocupante que motivou o avanço da criminalidade no Estado, com destaque na Capital. E ainda tem o problema da imigração desordenada, que permitiu a instalação de membros de facções venezuelanas, que se aproveitam de seus compatriotas que chegam para engrossar o bolsão da pobreza. Os fatos estão aí. É necessário que vereadores, deputados e senadores discutam isso. No entanto, eles mostram que estão brigando apenas por seus interesses particulares e dos seus grupos já visando as próximas eleições.

Se nada for feito, a tendência é o caldo da criminalidade entornar mais ainda. Os sinais não são nada bons…

*Colunista

    

** Os textos publicados nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião da FolhaBV