A crise econômica enfrentada na Venezuela, agravada pela escassez de produtos básicos, tem feito com que muitos venezuelanos migrem para o Brasil. Como Roraima é o Estado brasileiro mais próximo do país vizinho, fronteira a Norte do Estado, centenas de estrangeiros, a maioria sem visto de turismo, permanecem de forma ilegal em Boa Vista.
Como muitos venezuelanos sequer possuem documentos de identidade, a maioria não consegue emprego fixo nem mesmo temporário. A única solução encontrada é o trabalho autônomo. “Eu passo o dia com um grupo de amigos no semáforo fazendo malabarismo. A gente não tem para onde ir, somos viajantes e qualquer coisa é melhor do que estar no meu país”, disse o venezuelano Pedro Rodríguez.
Segundo ele, que veio do Estado de Bolívar para Roraima com um grupo de cinco amigos, em julho, os venezuelanos estão passando fome no país vizinho, sem conseguir comprar alimentos e produtos básicos para sobrevivência. “Falta tudo lá, não temos nada. Já passei dias sem comer porque os supermercados estavam sem produtos. Decidi sair de lá por causa dessa crise, e muitos de nós também estão tomando essa decisão”, afirmou.
O venezuelano revelou que não teve dificuldades para entrar no Estado. “Não fomos parados por nenhuma fiscalização, ninguém pediu nossos documentos, nem perguntaram se éramos turistas”, relatou.
A vinda de venezuelanos tem provocado alguns transtornos. Somente nas duas últimas semanas que se passaram, dois grupos de estrangeiros que vieram do país vizinho se meteram em confusão na Capital. O primeiro caso ocorreu em uma briga generalizada em um bar localizado no Centro. O segundo, ocorrido no dia 08, envolveu uma disputa de ponto entre os próprios venezuelanos, no semáforo do cruzamento das avenidas Venezuela e Brigadeiro Eduardo Gomes.
CONTROLE – Para o professor Antônio Magalhães, deveria haver um controle mais rígido para a entrada de imigrantes no Estado. “Lá [na Venezuela] nós somos recebidos por guardas armados até os dentes, com fuzis. Aqui, os venezuelanos fazem o que bem entenderem, sem nenhum tipo de punição”, criticou.
O autônomo Marcos da Silva afirmou que as autoridades deveriam tomar providências quanto à situação. “Não tem que permitir que esses venezuelanos fiquem por aqui à toa. Estão de forma irregular e ainda causando confusão”, criticou.
VISTO – O prazo de estada máximo de um estrangeiro no Brasil, em viagem de turismo ou viagem de negócios, é de 90 dias concedidos na entrada, com a possibilidade de uma prorrogação de até outros 90 dias, totalizando o máximo de 180 dias por ano.
Depois de esgotado o prazo legal de estada, há a aplicação de multa diária no valor de R$ 8,28, podendo alcançar até o valor total de R$ 827,75. A prorrogação não é automática, tendo o estrangeiro que comparecer a uma unidade da Polícia Federal, onde deverão ser apresentados os documentos de identificação, como passaporte, cartão de entrada e saída, e comprovantes de hospedagem, bem como o comprovante de pagamento da taxa correspondente.
POLÍCIA FEDERAL – A Folha entrou em contato com a Superintendência da Polícia Federal em Roraima, para saber se o órgão fiscaliza a entrada de venezuelanos no Estado e que procedimentos os imigrantes devem fazer para permanecer de forma legal em território nacional, mas a assessoria de comunicação da PF informou que nenhum delegado iria comentar sobre o assunto. (L.G.C)