Cotidiano

Sapateiro, profissão que resiste ao tempo e uma opção na hora da crise

“Cola-se, pinta-se, engraxa-se, costura-se e conserta–se sapatos”. Estes são os dizeres na parede da modesta sapataria de Marcos Trindade, 21 anos.  Os sapatos que passam por suas mãos saem como novos, feitos como um passe de mágica. Localizada na entrada da área Caetano Filho, no Centro de Boa Vista, a sapataria foi fundada há mais de 15 anos. Hoje ela resiste ao tempo e à crise.

Como sapateiro, ele dá um jeitinho especial naquele par preferido, confortável, que tanto gostamos de usar. A profissão, porém, já teve dias melhores. Com o surgimento de calçados quase descartáveis e a diversidade de modelos no mercado, a procura por sapatarias está bem menor em relação aos tempos passados. Ainda assim, existem aqueles clientes fiéis e apaixonados que não perdem o hábito de melhorar seus calçados.

Após ter aprendido com seu pai, que também trabalha na área, Trindade tira da sapataria o aluguel do local, o custeio das suas despesas com a família e ainda paga a mensalidade do curso superior em Direito. “Tudo o que eu sei eu aprendi com meu pai. Toda a minha família trabalha com sapataria aqui, na cidade, e graças a Deus nós temos uma vida boa e bons clientes”, ressaltou.

Com orgulho e amor à profissão, Trindade afirma ser esse o motivo da resistência da profissão em dias atuais. “Se você faz um bom trabalho, o cliente volta. Ele acaba confiando e depois disso vem com mais frequência”, explicou. Conforme ele, o primeiro dono do local já não mora mais na cidade, mas passou o ponto para ele. “Estou à frente da loja tem um ano. O senhor que trabalhava aqui e que fundou o local foi embora e me deixou de presente os antigos clientes. Eu dei continuidade ao serviço de qualidade e, com isso, as pessoas continuaram vindo”, reforçou.

Dentre os serviços oferecidos no local a maior procura é pelos concertos. Uma das curiosidades destacadas pelo sapateiro é uma procura mais frequente do público feminino. “Mulher gosta mais de sapato. Se quebra um salto ou solta alguma coisa elas procuram arrumar para não ter que se desfazer dos calçados”, disse.

Os preços dos serviços acompanharam a crise. Hoje para colar um sapato o preço médio é a partir dos R$ 10.  “O mesmo preço cobrado para colar os saltos”, frisou Trindade. Para costurar ou refazer a costura do sapato é cobrado entre R$ 30 a R$ 40 reais, a depender da complexidade do serviço e o tamanho do calçado. Outro serviço muito procurado é a troca de solado, este, segundo Trindade, é o mais caro do local, variando entre R$ 60 a R$ 80.

A sapataria funciona das 8h às 17h30 e ainda oferece produtos fabricados no local, como coturnos com material mais leve e resistente, que podem alcançar valores de até R$ 80.  “Faço calçados femininos, sandálias, botas, o que for. É só pedir”, informou o sapateiro.

Para Trindade, o mercado nunca vai absorver completamente a profissão. De acordo com ele, a exigência de certos clientes sempre vai tornar necessária a sobrevivência da profissão. “Acho que sempre vai ter alguém que quer ter um bom sapato e sempre terá alguém para fazer isso na cidade. Eu aprendi com meu pai, ele aprendeu com meu avô, que aprendeu com o pai dele. Talvez essa não seja a profissão da minha filha, mas com certeza ela vai saber como consertar um sapato”, analisou Trindade. (JL)