Encerra hoje a visita de uma comitiva da Embaixada dos Estados Unidos em Brasília a Boa Vista. Desde quarta-feira, 02, a conselheira para Assuntos de Meio Ambiente, Ciência, Tecnologia e Saúde da Embaixada dos Estados Unidos em Brasília, Mary Townswick, o segundo secretário da Seção de Meio Ambiente, Ciência, Tecnologia e Saúde da Embaixada, Aaron Pratt, e uma representante da Agência Internacional de Desenvolvimento dos EUA, a US Agency for International Development, estão em Roraima tendo reuniões com organizações governamentais e não governamentais.
A comitiva estadunidense, convidada pelo senador Telmário Mota (PDT) para conhecer o Estado, é motivada pelo interesse que o secretário de Estado dos Estados Unidos, John Kerry, tem com as questões relacionadas ao meio ambiente. “Queríamos vir para conhecer Roraima e aprender um pouco sobre os desafios da área ambiental”, disse Aaron Pratt, à Folha, que já visitou outros estados da região Norte, como Acre, Amazonas e Pará.
Em reuniões com o Ministério Público do Estado do Estado de Roraima, Instituto Socioambiental (ISA), Fundação Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Femarh) e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), a comitiva tratou sobre o uso de mercúrio em garimpos, comércio ilegal de madeiras, tráfico de animais e dificuldades que o Estado enfrenta nas fronteiras.
Há uma atenção especial quanto ao uso de mercúrio, uma vez que Brasil e Estados Unidos são signatários da Convenção de Minamata, que trata da eliminação de mercúrio. “Todas as reuniões foram boas, com pessoas bem abertas, dispostas a conversar sobre os desafios e os sucessos que tem sido obtidos aqui”, disse Pratt. “Por agora, o interesse é conhecer o Estado. Mas temos várias cooperações no País, principalmente nessa área de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente, acordos bilaterais sobre a mudança climática. Queríamos ver quais as possibilidades para expandir cooperações, afinal temos cientistas que visitam o País todos os dias”.
Quanto ao comércio ilegal de madeiras, Estados Unidos e Brasil trocam informações e treinamento técnico para identificação de tipos de madeiras e atividades de comércio ilegal por meio do Departamento de Justiça estadunidense com a Procuradoria-Geral da República brasileira.
Para o diretor de Recursos Hídricos da Femarh, Rogério Campos, visitas como esta são bem-vindas. “A comitiva veio conhecer um pouco da nossa realidade, do trabalho que temos feito. A visita nesse momento, no final de 2015, é especial porque temos feito grandes avanços no licenciamento, monitoramento, fiscalização e parceria com o setor produtivo no estado. Pelo que vimos, a comitiva saiu satisfeita com as informações das nossas metas de trabalho”, afirmou.
Ao final da visita, será elaborado um relatório com as informações coletadas, sugerindo os próximos passos para cooperações entre os dois países. (V.V)
Governo do Estado deveria fechar portas para Embaixada estadunidense, diz Mecias
O deputado estadual Mecias de Jesus (PRB) foi enfático: “O Governo do Estado tinha que fechar as portas para esse tipo de gente. É uma intromissão desnecessária no nosso Estado”. Ele se referiu à comitiva da Embaixada dos Estados Unidos em Brasília, que encerrou visita a Boa Vista hoje, onde tratou de questões ambientais com organizações governamentais e não governamentais.
Para o parlamentar, é de se estranhar que uma comitiva estadunidense venha a Roraima uma semana após a assinatura da carta de anuência da Fundação Nacional do Índio (Funai) liberando a construção do Linhão de Tucuruí, que interligará Roraima ao Sistema Interligado Nacional (SIN).
“Essa visita acontece coincidentemente depois da liberação da Funai para o Linhão. Depois que todas as forças políticas do Estado se uniram em busca de um bem maior para nós. Logo depois disso vem uma comitiva americana colher informações dessa natureza?”, questionou.
Mecias de Jesus acredita que os interesses vão além de somente conhecer o Estado. “Por que eles querem investigar só as questões ambientais? Para saber onde estão nosso ouro, minério diamantes, nossas jazidas minerais e onde tem petróleo no nosso Estado. É isso que eles querem. Eles destruíram o que eles tinham lá e agora querem dar palpite no nosso Estado”, disse à Folha.
Segundo o parlamentar, os estadunidenses podem se aproveitar do momento de fraqueza política pela qual passa a presidente da República, Dilma Rousseff (PT), para se aprofundarem ainda mais no Brasil. “É uma intromissão do governo americano nos países de terceiro mundo”, avaliou.
Ainda segundo ele, o Brasil é uma porta aberta para estrangeiros. “Antigamente, as Forças Armadas se valorizavam e não permitiam esse tipo de coisa. Agora, infelizmente, as Forças Armadas estão subordinadas a um ministro civil [Aldo Rebelo, do PC do B] e não se impõem mais como deveriam em defesa da pátria. O nosso Estado é completamente vulnerável, ainda mais se as nossas fronteiras não forem guardadas pelas Forças Armadas”, afirmou.
Quanto à visita de militares estadunidenses à 1ª Brigada de Infantaria de Selva, o parlamentar viu a situação com preocupação: “É capaz que alguns militares desavisadamente terminem passando informações importantes sobre a nossa defesa, que é o que eles querem. Nos tornamos um alvo muito fácil de qualquer país, principalmente dos Estados Unidos”.
“Lamento que infelizmente o Governo do Estado tenha dado guarida para esse tipo de coisa. Essas pessoas são prejudiciais para o país e principalmente para Roraima. É capaz que depois dessa visita sejam feitas mais demarcações de terras, de áreas de preservação, que saia mais um monte de pretensão americana”, concluiu. (V.V)