A falta de fiscalização e de orientação a banhistas acaba contribuindo para as ocorrências de afogamentos e outros acidentes nos balneários da Capital. Aos fins de semana, quando o número de banhistas aumenta, os poucos guarda-vidas do Corpo de Bombeiros e da Defesa Civil Municipal não atendem à demanda, fazendo com que o lazer muitas vezes possa acabar em tragédia. Foi o que aconteceu no primeiro dia deste ano, sexta-feira passada, quando Noêmia de Lima, de 19 anos, mergulhou no Rio Branco e seu corpo foi encontrado somente ontem, três dias depois, nas imediações da ponte dos Macuxi.
O tenente-coronel Anderson, comandante do Batalhão do Corpo de Bombeiros, disse que apenas aos domingos há fiscalização com trabalho de prevenção nos balneários da cidade. São três guarda-vidas no balneário da Polar, no bairro Caçari, zona Leste, e cinco na Praia Grande, do outro lado do Rio Branco, no Município do Cantá, segundo o tenente-coronel. Os bombeiros contam com duas embarcações na Praia Grande e uma na Polar.
Nos demais balneários da Capital, a orientação fica por conta dos fiscais da Defesa Civil Municipal. Tanto o governo como a prefeitura não dispõem de efetivo suficiente para fiscalizar os balneários da Capital em todos os dias da semana ou ao menos a partir de quinta-feira, quando começa o movimento nos principais balneários públicos na área urbana.
“Fazemos um trabalho de prevenção em parceria com o município, mas percebemos que a maioria dos afogamentos ocorre por causa da ingestão excessiva de bebida alcoólica. O banhista também não percebe o movimento da água, que cria bancos de areia, provocando o desnivelamento do solo do rio. Isso também provoca afogamentos, pois os poços se movem e alguns deles chegam a medir mais de três metros de profundidade”, alertou.
AFOGAMENTOS – O número de afogamentos nos balneários da Capital aumentou em mais de 20% no ano passado. Em 2013, segundo registro dos Bombeiros, foram 14. No ano seguinte, o número caiu para 11. Mas no ano passado, 20 banhistas se afogaram.
Para evitar mais acidentes e até mortes, o comandante fez um apelo aos banhistas. Pediu para que tenham um cuidado redobrado, principalmente com as crianças, fazendo reconhecimento das áreas de banho, e evitar o consumo excessivo de bebida alcoólica.
“Nossa orientação ainda é que os banhistas evitem atravessar o rio em embarcações sem os equipamentos de segurança, entre eles, principalmente, o colete salva-vidas. É preciso também observar a condição da embarcação e sua lotação”, orientou o comandante. (AJ)
ALTA TEMPORADA
Barqueiros atravessam até 100 banhistas por dia
Nos meses de janeiro e fevereiro, temporada de férias e de sol em Roraima, aumenta o movimento nos balneários da Capital. O mais procurado, a Praia Grande, do outro lado do Rio Branco, já no Município do Cantá, mas numa área em frente de Boa Vista, fica lotado a partir de sexta-feira.
Por dia, em apenas um porto visitado, na manhã de ontem pela equipe da Folha, cerca de 100 pessoas atravessam o rio em embarcações. Quem trabalha no ramo há muito tempo oferece o serviço de acordo com as normas de segurança. Mas muitos ainda arriscam a vida por se recusarem a utilizar os equipamentos de segurança, como o colete salva-vidas, por exemplo.
“Quando há festas do outro lado do rio, o número de barqueiros aumenta e muitos trabalham sem o colete salva-vidas. Não há fiscalização por parte das autoridades. Os bombeiros dizem que é de responsabilidade da Capitania dos Portos, mas aqui não há. Então, a gente que trabalha na legalidade também cobra uma fiscalização mais rigorosa”, frisou o empresário de turismo, Sebastião de Souza e Silva, de 54 anos, mais conhecido como Babazinho, dono de um porto no bairro São Pedro, zona Leste.
Outro problema enfrentado pelos barqueiros é a falta de conscientização dos banhistas. Muitos se negam a colocar o colete. “Então, fica difícil porque não podemos colocar o equipamento de segurança à força no cliente. Ele tem que se conscientizar que o colete é para garantir sua segurança. Afinal, ele é o responsável por sua vida”, observou.
Babazinho também citou outras irregularidades que ocorrem nas praias do Rio Branco. Os veículos de tração, como triciclos e até motocicletas, trafegam nas praias e colocam em risco a vida de quem quer apenas pegar um sol. Nas águas, os jet skis e lanchas potentes também ameaçam a segurança dos banhistas. (AJ)
Barqueiros clandestinos colocam vidas em risco
Os órgãos responsáveis pela segurança não sabem ao certo quantos barqueiros trabalham na travessia do Rio Branco, mas o barqueiro Hugo Paixão, de 63 anos, acredita que dezenas deles surgem de todos os cantos quando tem festa na praia do outro lado do rio.
“Há 14 anos trabalho atravessando banhistas para a Praia Grande e minha embarcação tem os coletes salva-vidas. Mas, nos dias de festa, muitos aparecem para fazer a travessia e não apresentam o equipamento de segurança. É preciso mais fiscalização dos órgãos competentes”, cobrou.
Outra denúncia séria é que muitos barqueiros, segundo seu Hugo, trabalham embriagados. “Vou logo avisando que, se eu ver, vou entregar para os bombeiros, pois não é justo a gente ser penalizado por um ou dois que apenas aparecem aqui em tempo de festa”, criticou.
A travessia custa R$ 6,00 por pessoa, ida e volta. Mas seu Hugo avisou que o preço vai subir nos próximos dias para R$ 8,00 por causa do aumento do preço da gasolina. “Apesar da época, consideramos o movimento fraco. Ontem [dia 03], por exemplo, fiz apenas R$ 80,00. Antes fazia muito mais”, comparou. (AJ)
Equipes municipais atuam aos finais de semana e feriados
Para garantir a segurança dos banhistas, a Secretaria Municipal de Segurança Urbana e Trânsito afirmou que envia todos os sábados, domingos e feriados equipes da Defesa Civil para atuarem nos balneários do Caranã (zona Oeste), Cauamé (Norte) e Caçari (Leste). São de dois a três guarda-vidas em cada praia para acompanhar a movimentação e fazer recomendações para prevenir acidentes e afogamentos. A prefeitura reforça que a Praia Grande faz parte do Município do Cantá.
A orientação é que todos estejam atentos para os locais permitidos para banho e principalmente com o consumo de bebida alcoólica, que pode colocar em risco a vida de muitas pessoas. As equipes orientam ainda com relação a saltos em locais inapropriados, impactos ambientais e armazenamento adequado do lixo. Condutores de lanchas e Jet skis são orientados a evitarem navegar em praias que tenham grande fluxo de banhistas. (AJ)