A crise econômica aliada ao alto índice de desemprego tem alavancado cada vez mais o mercado informal em Boa Vista. É comum ver ambulantes vendendo produtos, assim como realizando outros serviços nos semáforos dos cruzamentos mais movimentados da Capital.
Acordar cedo, preparar os produtos e ir para o semáforo comercializá-los virou rotina para o vendedor de água mineral José Mendes, 55 anos, que nasceu em Goiás e mora em Roraima desde criança. “Vim para Boa Vista em 1973, ainda muito jovem. Dez anos depois, fui trabalhar no garimpo em Serra Pelada, no Pará, e voltei em 1986 para Roraima. Daí em diante, trabalhei toda a minha vida em garimpos no Estado.
Mas, em 2011, adoeci e vim para a Capital fazer um tratamento, foi quando decidi buscar outra fonte de renda e nunca mais procurei ouro”, comentou.
Após abandonar o garimpo, começou a vender frutas no semáforo do cruzamento das avenidas Venezuela e Brigadeiro Eduardo Gomes, próximo ao Ibama. “No entanto, muitas pessoas pediam água mineral, então, aderi à ideia. Faço isso há cinco anos e essa é a minha única fonte de sustento”.
O valor de uma caixa com 12 unidades de água mineral, na distribuidora onde faz as compras, no bairro Mecejana, custa cerca de R$ 10,00. “Vendo de uma a duas caixas por dia, com valor da unidade a R$ 2,00, o que me rende de R$ 30,00 a R$ 60,00. Há meses que ganho mais e outros, menos. Não tenho uma quantia exata”, disse.
Com o dinheiro, ele consegue sobreviver e ainda fazer alguns investimentos. “Comprei uma moto, que me ajuda no transporte dos produtos. Moro sozinho, não tenho mulher nem filhos. Mas o melhor de trabalhar aqui é que faço muitas amizades, estou acostumado com as pessoas e tenho muitos clientes que me ajudam”, disse o ex-garimpeiro e agora empreendedor do mercado informal.
CALOR – O ex-peixeiro Daniel Domingos, 38 anos, também faz desse trabalho sua fonte de renda no mesmo cruzamento, das 8h às 18h. “Quando eu trabalhava na Feira do Produtor, em uma peixaria, o salário era muito pouco e eu recebia por semana. Além disso, meu patrão me enrolava muito em relação ao pagamento, por isso abandonei a profissão”, comentou.
No ramo há cerca de nove meses, Domingos mora no Cidade Satélite, zona Oeste, e todos os dias vai e volta de bicicleta. Os produtos são comprados em uma revendedora no bairro São Vicente, zona Sul, por cerca de R$ 15,00 a caixa. “Quando as vendas são boas, consigo mais ou menos R$ 50,00 por dia”, afirmou
O lucro mensal com as vendas é de R$ 1.000,00 a R$ 1.500,00, mas com as despesas como aluguel, energia e água, sobram pouco mais de R$ 300,00. “É muito pouco, pois sustento a minha esposa e filhos. Infelizmente, não tenho outra opção. O importante é poder comprar um pacote de feijão e alimentar minha família”, disse. “É possível viver assim. Mais do que tudo, é preciso acreditar em Deus, que tudo vai dar certo”. (B.B)
Venezuelano larga artesanato para limpar para-brisa de carros no sinal
Outro cidadão que tenta ganhar a vida no mercado informal que surgiu nos semáforos é o limpador de para-brisas Jhon Bryan, que atua no cruzamento das avenidas Terêncio Lima e Glaycon de Paiva, no Centro. Nascido na Venezuela, o ex-artesão trabalha e mora em Roraima há aproximadamente seis meses. “A venda de artesanato estava muito fraca, então decidi trabalhar como limpador de para-brisas”, disse.
Segundo ele, o serviço rende dinheiro suficiente para sobreviver. “Dependendo da quantidade de trabalho e de pessoas que estão dispostas a ajudar, consigo de R$ 15,00 a R$ 30,00 por dia”, informou. O gasto com os produtos de limpeza que ele utiliza chega a R$ 10,00.
Para Bryan, apesar de lhe fornecer lucro necessário para comer e pagar o aluguel, outro emprego seria ideal. “Estou procurando algo melhor, mas preciso dos documentos legais, por isso estou tentando obter a Carteira de Trabalho. Busco outra alternativa porque preciso ajudar minha família”, frisou. O objetivo dele é dar forças à mãe, seu irmão pequeno, esposa e filho que moram na Venezuela.
“Atuar nos semáforos me dá mais tranquilidade do que quando eu era artesão, pois tenho melhores condições de trabalho. Outro fato importante é que sempre procuro fazer o melhor e respeitar as pessoas durante o serviço, porque muitas delas não têm esse sentimento por mim, então pretendo conquistá-lo”, frisou. (B.B)