O registro do primeiro caso suspeito de microcefalia relacionada ao zika vírus, no Estado, foi anunciado na manhã de ontem pelo serviço de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Estadual de Saúde (Sesau), durante entrevista coletiva. Segundo a coordenadora da Vigilância em Saúde, Daniela Souza, o bebê nasceu no dia 03 de janeiro e, dois dias depois, foi incluído no Registro de Eventos em Saúde Pública Referente às Microcefalias (Resp–Microcefalia). Na entrevista também estavam a diretora técnica do Laboratório Central, Cátia Meneses, e a diretora do Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de Nazareth, Cristiane Born.
Daniela informou que o material para exame está sendo encaminhado para o Instituto Evandro Chagas, em Belém-PA, que é o laboratório referência para a Região Norte. “Só com o resultado desse exame é que podemos confirmar ou não a relação dessa microcefalia com o zika”, disse.
O caso está sendo investigado pela Vigilância Epidemiológica da Prefeitura de Boa Vista a fim de confirmar a relação entre a microcefalia e o vírus zika, sob o monitoramento da Sesau. Pelo menos mais 36 grávidas estão sendo monitoradas pela Atenção Básica da Prefeitura de Boa Vista e que estão na relação de pessoas suspeitas com zika, da Sesau.
Segundo a assessoria da Sesau, a criança, do sexo masculino, nasceu de parto normal no Hospital Materno Infantil após 37 semanas de gestação, com 2,6 kg e perímetro cefálico de 32 centímetros. A mãe do bebê realizou sete consultas durante o pré-natal, feito nos postos de saúde, e teve suspeita de zika durante o quinto mês de gestação, com microcefalia diagnosticada após o parto.
“Tanto a mãe como a criança passam bem. A criança está na rede de atendimento normalmente com todo atendimento de reabilitação”, disse Daniela, ao ressaltar que, no momento do parto, foram adotados os procedimentos de protocolo da Atenção à Saúde para Microcefalia do Ministério da Saúde. Nestes casos, o recém-nascido com suspeita de microcefalia é submetido a exames necessários e encaminhado para estimulação precoce, que visa à maximização do potencial de cada criança, englobando o crescimento físico e a maturação neurológica, comportamental, cognitiva, social e afetiva, que poderão ser prejudicados pela microcefalia.
REGISTROS – Segundo dados da Sesau, os primeiros registros de microcefalia no Estado foram em 2010, com um caso, e mais dois casos em 2013. Novo informe epidemiológico divulgado na terça-feira, 12, pelo Ministério da Saúde, indica 3.530 casos suspeitos de microcefalia relacionada ao vírus zika em todo o país.
MICROCEFALIA – A microcefalia não é um agravo novo. Trata-se de uma malformação congênita, em que o cérebro não se desenvolve de maneira adequada. Neste caso, os bebês nascem com perímetro cefálico menor que o normal, que habitualmente é superior a 32 centímetros. Esse defeito congênito pode ser efeito de uma série de fatores de diferentes origens, como as substâncias químicas, agentes biológicos infecciosos, como bactérias, vírus e radiação.
Cerca de 90% das microcefalias estão associadas ao retardo mental, exceto nas de origem familiar, que podem ter o desenvolvimento cognitivo normal. O tipo e o nível de gravidade da sequela vão variar caso a caso. Tratamentos realizados desde os primeiros anos melhoram o desenvolvimento e a qualidade de vida. (R.R)
Sesau convoca população para ação de enfrentamento ao zika
A coordenadora da Vigilância em Saúde, Daniela Souza, disse que o Estado está se preparando para o enfretamento ao zika vírus e aos possíveis casos de microcefalia que possam aparecer em Roraima. Para isso, afirmou que a Sesau está adquirindo 300 kits para os agentes de endemias, 80 bombas costais para pulverização de larvicida em todos os municípios, além de dois aparelhos de ultrassonografia para dar suporte ao diagnóstico de eventuais casos de microcefalia na maternidade e no Centro de Referência de Saúde da Mulher.
“O mais importante agora é mobilizar as pessoas para combater o mosquito. Os agentes com as bombas costais poderão entrar na casa das pessoas e pulverizar o veneno nos quintais, já que os carros fumacês só passam nas frentes das casas”, disse.
Ela informou que foi criado o comitê de emergência em Saúde Pública para monitoramento epidemiológico, e todos os municípios receberam notas técnicas com informações sobre o protocolo de vigilância para zika, além de intensificar os treinamentos para fortalecer o diagnóstico da atenção básica nos postos de saúde, que é a porta de entrada para os pacientes com sintomas da doença.
A Coordenação-Geral de Vigilância em Saúde treinou os profissionais do Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de Nazareth para reforçar o diagnóstico de zika e possíveis casos de microcefalia na unidade, onde são realizados cerca de 90% dos partos do Estado. Gestores, especialistas e profissionais de saúde recebem diversas orientações para promoverem a identificação precoce da virose e os cuidados especializados da gestante e do bebê. Novos treinamentos serão realizados para abranger outros aspectos da doença, principalmente junto aos profissionais do programa Mais Médicos, na Atenção Básica.
“O Estado está adotando todas as medidas necessárias para conter o avanço do mosquito, mas o agente principal é a população e, se não houver a colaboração, essas ações não surtirão efeito”, destacou.
SALA – Outra medida no combate ao mosquito Aedes aegypti – transmissor da zika, dengue, chikungunya e febre amarela urbana – e para barrar o avanço das doenças transmitidas por este vetor, é a instalação de uma sala de situação para gerenciamento e controle das ações de combate aos vírus, que discutirá as ações com os municípios e definirá diretrizes para intensificar o combate em todo o Estado, além de consolidar e divulgar informações sobre as ações e os resultados obtidos.
Daniela explicou que a medida irá proporcionar a articulação junto a órgãos como Defesa Civil, Ministério Público e outras secretarias para ação mais efetiva a fim de garantir que a meta de controle vetorial seja atingida. “Vamos envolver todas as secretarias municipais do interior e da Capital, bem como alunos que possam levar informações para as famílias de forma que todos se envolvam no combate aos criadouros do mosquito”, disse.
DADOS – De acordo com o Sistema de Informação de Agravos de Notificação, em 2015 foram registrados 951 casos confirmados de dengue. Em relação aos dados de zika, foram 18 casos confirmados em Boa Vista e 3 em Mucajaí. Já para chikungunya, foram registrados 17 casos no mesmo período. (R.R)