Cotidiano

Três cidades sofrem com a falta de água

Ações para não deixar faltar água potável estão sendo feitas nos municípios de Pacaraima, São Luiz do Anauá e São João da Baliza

A estiagem que assola a população de diversos municípios do Estado já é comparada à de 1998, quando o fenômeno climático El Niño, associado às queimadas, deixou diversas localidades em situação crítica quanto ao abastecimento de água. As três cidades que enfrentam problema no abastecimento de água são Pacaraima, São João da Baliza e São Luiz do Anauá. 

No interior, produtores sofrem para manter a irrigação de plantações e alguns animais já estão morrendo. A Companhia de Águas e Esgoto de Roraima (Caer) intervém em certas localidades com caminhões pipas e cavação de poços artesianos para que não falte água para o consumo humano.

O presidente da Caer, Danque Esbell, informou que o primeiro município a sofrer com o desabastecimento de água foi Pacaraima, Norte do Estado, na fronteira com a Venezuela, conforme noticiou a Folha. Caminhões pipas retiraram água de rios e igarapés em comunidades indígenas para abastecer a sede do município.

“Já cavamos quatro poços artesianos na região. A água é direcionada para a rede de distribuição, porém, devido à alta demanda em certos horários, é difícil descer nas torneiras. Quando isso ocorre, a população pode procurar um dos poços e caminhões pipas e levar reservatórios para armazenar água”, disse.

Esbell frisou que, desde o início da semana, equipes da Caer estão no Município de São João da Baliza, Sul do Estado, onde a população também sofre com a falta d’água. “Até o momento, esses dois municípios foram contemplados com o plano de ações da Caer. Foi necessário adotar medidas de abastecimento controlado nos municípios. As bombas dos poços que abastecem os reservatórios são ligadas a cada 1h30, diariamente.

Ele informou que as mesmas medidas serão tomadas no Município de São Luiz do Anauá, também no Sul do Estado, onde técnicos da companhia monitoram a situação do abastecimento. “Até o momento, não houve desabastecimento em outras regiões, mas, caso ocorra, entramos com o plano de ações, que já vinha sendo planejado desde o início do verão, pois prevíamos que a seca seria mais severa este ano”, disse.

AGRICULTURA – Para evitar que a produção agrícola e a criação de animais fossem prejudicadas, no ano passado a Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa) cavou 2,8 mil cacimbas nos oito municípios onde foi decretada situação de emergência. Para que novas unidades sejam cavadas e as antigas recebam manutenção, as prefeituras dos municípios, em conjunto com a Defesa Civil, necessitam decretar situação de emergência para que os recursos sejam destinados.

EMERGÊNCIA – Para que a Defesa Civil e demais entidades atuem no combate à estiagem de forma ostensiva, os municípios necessitam decretar situação de emergência. Até o momento, os municípios de Normandia, Caracaraí, Mucajaí e Bonfim já entregaram toda a documentação necessária para subsidiar a decretação de situação de emergência pelo Executivo estadual.

Já Iracema, Cantá, Amajari, Alto Alegre, Rorainópolis, São Luiz, Caroebe, São João da Baliza e Uiramutã entregaram parte da documentação, sendo necessários ainda alguns documentos que devem ser entregues à Defesa Civil até hoje, dia 15. Desses, aqueles que sinalizaram a necessidade de decretar o estado de emergência são Iracema, Alto Alegre e Rorainópolis. (I.S)

Chuvas estão previstas apenas para o mês de abril

A tendência é que o quadro provocado pela forte estiagem se agrave nos próximos meses, já que, conforme as previsões climáticas, as chuvas estão previstas apenas para o mês de abril. O geógrafo e especialista em clima Carlos Sander informou que o fenômeno climático El Niño ocorre uma vez a cada dois anos e meio, o qual pode ser dividido em três categorias: fraco, moderado e forte. “O atual é considerado forte. Ele se compara ao de 1998, quando foi registrada uma das maiores secas já enfrentadas em Roraima. O primeiro registrado, desde o início das medições em 1910, foi em 1983”, explicou.

Ele frisou que a falta de chuvas pode prejudicar o abastecimento de água em algumas localidades, pois o índice pluviométrico dos rios vai diminuir. A falta de chuvas tem afetado o nível de água do Rio Branco.

Conforme o monitoramento realizado pela Agência Nacional das Águas (ANA), no dia 02 de janeiro, o nível estava em 0,02 milímetros. No decorrer dos dias, com as poucas chuvas que caíram, o nível subiu para 0,19 mm no dia 04.

O quadro mudou nos dias seguintes. Quem passa pela ponte dos Macuxi ou frequenta a Orla Taumanã pode perceber o surgimento de diversos bancos de areia. Conforme a última verificação, feita ontem, o nível do rio desceu e chegou a 0,00 mm.

A tendência é que continue chovendo menos do que o normal para a época. “O ar fica cada vez mais seco e isso colabora para a formação de incêndios florestais, pois as pastagens estão mais secas. Tudo isso somado, piora a situação”, disse.

O geógrafo informou que o excesso de chuvas no Centro-Sul do País, que vem assolando principalmente o Estado de São Paulo, está relacionado ao El Niño. “Ele muda a dinâmica geral de circulação atmosférica e é por isso que a gente tem esse efeito. Ele tira a umidade de um lugar para colocá-la em outro”, explicou. (I.S)