Moradores do Residencial Vila Jardim, no bairro Cidade Satélite, zona Oeste, reclamam da falta de regras e bons costumes no condomínio. Eles cobram que a Companhia de Desenvolvimento de Roraima (Codesaima) organize logo as eleições para a escolha dos síndicos e representantes de blocos. Enquanto não há responsável por manter a ordem no residencial, vizinhos batem boca e quase sempre não entram em acordo. As discussões ficam cada vez mais acaloradas e já houve até agressão física. As discussões são sobre situações que vão desde animais soltos à utilização da churrasqueira.
“Tem um morador que passa o dia todo escutando som no volume máximo. O barulho perturba todos que moram no bloco. A gente pede para ele baixar o volume, mas ele alega que ninguém é chefe para dar ordem no condomínio”, reclamou a dona de casa Helena Rosa dos Santos, moradora do bloco Ingá.
Moradores dos andares de cima, segundo os vizinhos, jogam pela janela alguns lixos, como sacos e até latinhas. A convivência não está sendo harmoniosa, por isso os moradores querem um representante em caba bloco. “O cachorro da vizinha fez cocô na grama que fica na porta do meu apartamento. Aí, eu pedi para ela limpar, mas quem disse que ela limpou? Então, eu juntei e joguei na frente da porta dela. Ora, ela tem que aprender a viver em condomínio. Se o cão dela sujar, então que ela limpe”, resmungou a dona de casa.
O lixo também é motivo de discórdia entre os vizinhos. Alguns colocam os sacos fora da lixeira. Os animais rasgam os sacos e o vento espalha o lixo. Na área de lazer de cada bloco, há uma churrasqueira, que também é motivo de discussão. “O vizinho fez uma festa, usou a churrasqueira, mas não a lavou quando terminou. Aí, sou eu que vou lavar? Se usou, tem que lavar. A churrasqueira não é só dele, é de todos os moradores do bloco”, reclamou a estudante Lenice Lima, de 18 anos, moradora do bloco Açaí.
Moradores alegam que o ambiente está virando uma anarquia, tudo porque, até o momento, não há definição das regras a serem seguidas por todos. “Por isso que a gente quer que a Codesaima providencie logo isso para que possamos escolher os representantes de bloco e síndicos”, cobrou a estudante.
Eles também reclamaram da ausência do poder público. Recordaram que diretores da Codesaima se comprometeram, na entrega dos imóveis, que manteria uma equipe multidisciplinar no local para orientar e ajudar os contemplados na resolução de conflitos e definição de regras, o que, até agora, não aconteceu.
MAIS PROBLEMAS – Inaugurado há pouco mais de um mês, o residencial já apresenta sinais de descaso. A grama de todo o conjunto está morrendo porque não está sendo molhada. Por isso, moradores cobram a instalação de torneiras na área externa dos blocos. Moradores também cobram a instalação de torneiras na área das lixeiras para que os moradores lavem o local. “O fedor é forte e a gente tem que carregar água em baldes até a lixeira para lavá-la. É preciso que a Caer [Companhia de Água e Esgoto de Roraima] instale as torneiras nessas áreas”, reivindicou uma moradora.
Os moradores ainda cobram a construção de um posto de saúde, mais rondas da Polícia Militar e agentes para ordenar o trânsito em horário de pico, pois já houve acidente com vítima em um dos blocos, segundo os moradores. “O posto do bairro fica muito longe e aqui mora muita mãe solteira que tem vários filhos. É difícil ir ao posto do bairro porque o ônibus demora muito e não passa táxi-lotação”, reclamou a doméstica.
Ladrões também estão atacando no Residencial. Ontem, pela manhã, por exemplo, uma motocicleta foi roubada da área do estacionamento do bloco Açaí. Na semana passada, em outro bloco, seis motocicletas foram furtadas, segundo os moradores. “É preciso um PM boxe aqui. Os carros da polícia passam sempre, mas isso não inibe a ação dos bandidos”, observou a doméstica Ane Barbosa, de 42 anos, moradora do bloco Açaí. (AJ)
Famílias encaram nova realidade
Muitas famílias estão com dificuldades para encarar a nova realidade, pois morar em condomínio é muito diferente de morar na casa de parentes ou em imóvel alugado. A convivência muitas vezes deixa de ser pacífica e começa a faltar privacidade. Mas a mudança radical não incomodou a vida de muitas famílias, como a do seu Maurício Moura, de 62 anos, servidor público federal morador do bloco Ingá. “Aqui é bem melhor do que onde eu morava, na casa de parentes, no bairro Senador Hélio Campos. Estou gostando muito desta nova vida”, disse.
Sobre os problemas no residencial, Maurício afirmou que a melhor coisa a fazer é dialogar, buscar uma solução sem conflito. “A gente espera que sejam logo eleitos os síndicos e representantes de blocos. Aí, poderemos fazer e cumprir as regras”, frisou.
O residencial foi entregue no mês passado pela presidente Dilma Rousseff (PT) e custou R$ 185 milhões. Tem 2.992 moradias divididas em 121 condomínios, com a área privativa de 39,66 m². Os apartamentos têm sala, dois quartos, cozinha e banheiro, todos dentro das normas técnicas do “Minha Casa, Minha Vida”. Cada proprietário paga uma prestação de R$ 25,00 a R$ 80,00. As unidades devem ser quitadas em 10 anos. (AJ)
Comissão Técnica deverá elaborar regimento interno
O Governo do Estado afirmou que, a partir de uma parceria entre a Secretaria Estadual de Trabalho e Bem-Estar Social (Setrabes) e Companhia de Desenvolvimento de Roraima (Codesaima), foi instituída a Comissão Técnica de Trabalho Social, que desenvolverá, em 30 dias, tempo prorrogável por igual período, ações de apoio e fortalecimento à participação efetiva das quase três mil famílias que moram no Residencial Vila Jardim.
Os trabalhos iniciarão após a publicação em Diário Oficial, que deve ocorrer até a próxima semana. Um dos primeiros trabalhos será a elaboração e aprovação de um regimento interno com a participação efetiva dos moradores, além da criação de um conselho fiscal e eleição dos representantes de condomínio, que atuarão como um elo entre governo e moradores do residencial.
A Comissão vai levar também serviços de esporte, lazer, emprego e renda, cursos de capacitação e assistência social. Será implantando o “Plantão Social”, com psicólogos, assistentes sociais e advogados que farão atendimentos aos moradores em casos de necessidade e a ouvidoria do próprio residencial, com caixinhas onde os moradores poderão depositar suas dúvidas e sugestões de melhorias dos atendimentos oferecidos.
CAIXA – Com relação às ações referentes à Gestão Condominial e Trabalho Técnico Social do Residencial Vila Jardim, a Caixa Econômica Federal informou que todas estão sob responsabilidade do Governo do Estado. Conforme frisou, foi informado, pela Codesaima, que o atraso na execução das ações aconteceram em razão de ajustes no projeto e que as atividades já foram retomadas.