Cotidiano

Crianças passam mal após consumirem alimento estragado

Mãe das crianças relatou que produtos não foram congelados de forma correta e que funcionária teria dito que freezer é desligado durante a noite

A engenheira civil Fernanda Assis levou um susto após os três filhos passarem mal logo depois de consumirem um empanado de frango vendido em um supermercado localizado no bairro 31 de Março, zona Norte de capital.

Conforme a consumidora, tudo começou na segunda-feira passada, 11, quando ela e a mãe decidiram fazer compras no supermercado e decidiram levar para casa três caixas de empanados de frango. O prazo de validade apresentados na embalagem indicava que o produto poderia ser consumido até março deste ano.

“Chegamos em casa, armazenamos direitinho no congelador e quando foi na quarta-feira, 13, à noite, a minha mãe disse que iria fazer os empanadinhos para eles comerem, até pelo fato de a gente ter ficado o dia todo ocupado e seria algo mais prático. Ela [mãe] tinha um arrozinho, um feijãozinho. Ou seja, tudo muito fresquinho e ela sempre teve um cuidado em relação à organização, principalmente nessa questão de limpeza, e empanado não é um alimento que a gente serve todo o dia”, contou.

Horas depois de servir o alimento, a engenheira contou que as três crianças começaram a apresentar sintomas de vômito e dores estomacais. Ela chegou a levá-las para o hospital, mas, devido à aplicação de um remédio antienjoo, acabaram reagindo bem, não sendo necessária a ajuda médica.

“A minha mãe foi até a mim e disse que estava acontecendo algo com meu filho mais novo, de três anos, porque ele não parava de vomitar. Logo em seguida, o meu outro filho, de seis anos, começou a se queixar de dores na barriga, e, do nada, a minha filha mais velha, de sete anos, também apresentou os mesmos sintomas. Meu pai chegou comigo e me aconselhou levá-los para o hospital, mas antes disso, eu tinha dado um remédio para os dois mais velhos e a medicação acabou surtindo efeito, somente o meu mais novo que continuava ruim. Chegamos a levar para o hospital, mas ele acabou dormindo e a gente decidiu voltar para casa”, relatou.

Por conta do horário do ocorrido, as crianças acabaram dormindo na casa da avó e Fernanda seguiu a com sua rotina no dia seguinte. No entanto, os dois mais velhos voltaram a apresentar os sintomas, porém, com maior intensidade. A engenheira não pensou duas vezes e os levou diretamente para o Hospital da Criança Santo Antônio (HCSA).

“Por volta de 8 horas, a minha mãe me ligou e disse que os meus outros dois filhos voltaram a apresentar os sintomas de vômito e que já não sabia o que fazer. Imediatamente fui até ela e os levei para o hospital. Chegando lá, o médico fez um exame mais detalhado e logo constatou que eles estavam com uma infecção intestinal grave e que precisavam de medicação. As crianças tomaram soro. Ele receitou os medicamentos e nós fomos para a casa”, disse.

Com o diagnóstico confirmado, Fernanda e a mãe decidiram investigar o que poderia ter contribuído para o quadro de infecção intestinal das crianças, foi quando se lembraram dos empanados de frango, que ainda estavam na geladeira da casa.

“Para ter certeza, fomos verificar as caixas de mini chicken’s que estavam na geladeira. Como uma delas já estava aberta, nós decidimos fritar o que havia sobrado, já que minha mãe não havia utilizado todo o conteúdo na quarta. No que nós terminamos de fritá-los, ao abrir um dos empanados, a cor estava amarelada, muito diferente do que era para ser e o cheiro também estava diferente. Então, não poderia ser outra coisa”, frisou.

Na sexta-feira, 15, outro susto. Dessa vez com o filho mais novo. Segundo a engenheira, por conta dos sintomas, a criança acabou passando mal, sendo levada desacordada até o HCSA. “Fiquei totalmente desesperada naquele momento e nem sei como consegui chegar até lá. Minutos depois de chegar ao hospital, meu marido apareceu com meu filho do meio e ele estava com a pele pálida e as mãos e a boca roxa. Na hora que o vi, achava que ele estava morto. O atendimento foi rápido, ele acabou reagindo, mas o médico disse que se tivéssemos demorado um pouco mais, meu filho poderia ter entrado em óbito”, destacou.

INVESTIGAÇÃO – Após o ocorrido com os dois filhos mais velhos na quinta-feira, 14, Fernanda decidiu procurar a gerência do supermercado, que faz parte de uma franquia local. Segundo ela, não havia nenhum gerente no horário, sendo atendida por um encarregado do estabelecimento.

“Com as caixas e com a nota fiscal, eu expliquei a situação e informei que os produtos estavam estragados. Ele olhou para elas e insistiu que estavam dentro do prazo de validade. Logo em seguida, ele saiu e disse que iria verificar o que poderia fazer, eu falei tudo bem, mas ressaltei que para evitar que ocorressem problemas com outros consumidores, o ideal era recolher todas as caixas que estava lá, porque não acredito que só uma estava estragada”, ressaltou.

Nesse período, uma funcionária teria relatado que, por medidas de economia de energia, o estabelecimento desligava o freezer do supermercado a partir das 23 horas, religando o equipamento somente às 7 horas do dia seguinte, o que teria deixado a engenheira civil ainda mais revoltada.

“No período em que essa pessoa saiu, uma funcionária do supermercado veio até mim e relatou que, por economia de energia, todo o final de expediente eles desligavam o freezer de frios e só religavam no dia seguinte. Creio que ela não sabia que o que estava me comentando era grave. Feito isso, o rapaz que me atendeu retornou e me disse que a única coisa que poderia fazer era devolver meu dinheiro ou trocar por outras caixas do mesmo produto. Eu recusei e disse que iria levar minhas caixas de volta, mas que tomaria as medidas cabíveis”, complementou.

DESABAFO – Durante todo o desenrolar das situações envolvendo os três filhos, Fernanda Assis utilizou seu perfil em uma rede social para alertar os amigos sobre a situação. A primeira publicação, feita no dia 14, recebeu mais de 900 compartilhamentos, enquanto a segunda publicação, feita no dia 15, teve mais de 400 compartilhamentos.

Fora isso, vários usuários relataram problemas semelhantes ao que ela enfrentou, em outros supermercados da Capital. “A intenção das publicações foi justamente alertar a todos, quanto aos cuidados que se deve ter em relação aos congelados. Meus filhos quase morreram e foi uma provação o que aconteceu com minha família por descaso de pessoas sem responsabilidade”, comentou. (M.L)

Supermercado diz não ter sido notificado

Por telefone, o Gerente de Operações da franquia de supermercados, José Carlos Farias, disse que tanto a gerência da unidade do bairro 31 de Março, quanto a direção da rede não haviam sido notificados a respeito do problema. Ele ressaltou ainda que em todos os estabelecimentos da rede há placas informando um contato onde o consumidor pode buscar soluções.

“Nós temos uma linha disponível para que o consumidor comunique sobre possíveis problemas. Nas lojas, existem, próximas às entrada, placas azuis em que o cliente tem dois números de whatsapp da direção da empresa, que são o 99120-3185 e o 99120-3197. Esses dois números funcionam 24 horas. Ou seja, teve algum problema e não conseguiu ser atendido por um dos nossos gerentes? Pode relatar o que está acontecendo por meio desses canais, podendo ter a certeza de que vai ter o seu problema resolvido”, disse.

Em relação à denúncia de desligamento do freezer de frios, Farias afirmou que essa informação não procede, destacando que em eventuais quedas ou desligamentos de energia, a unidade passa a ser socorrida por um gerador, além de ressaltar que todas as unidades da franquia dispõem de especialistas para que avaliem a temperatura dos alimentos oferecidos ao consumidor.

“Naquela loja, inclusive, há um gerador de energia elétrica para que, no caso de um apagão, aquela unidade mantenha os equipamentos de refrigeração ligados, tamanha a nossa preocupação com esse tipo de assunto. Além disso, nós temos uma nutricionista que, todos os dias, faz a avaliação desses produtos. Ou seja, antes da fiscalização sanitária, nós também fazemos uma verificação criteriosa, porque a gente não quer pôr em risco a saúde dos nossos consumidores”, pontuou. (M.L)

Vigilância Sanitária municipal também não foi acionada

Por meio de nota, a Prefeitura de Boa Vista informou que a Vigilância em Saúde Municipal realiza fiscalizações todos os dias, de segunda a sexta-feira e, em alguns casos, no sábado, dependendo da demanda específica.

Segundo ela, as ações têm como finalidade tanto a avaliação dos estabelecimentos para concessão de alvará como para atender às denúncias. Diariamente são atendidas cerca de 10 a 15 denúncias, principalmente sobre alimentos, existindo ainda uma equipe de prontidão especialmente para essa finalidade.

“Casos de intoxicação alimentar, quando chegam às unidades de saúde, devem ser comunicados à Vigilância Epidemiológica e Sanitária para realização de investigação em conjunto para elucidar as causas da mesma e aplicar ações para evitar e prevenir novos casos”, ressaltou.

A nota esclarece ainda que a Vigilância não foi informada oficialmente sobre o caso em questão, ou seja, não recebeu a referida denúncia. “Casos como este devem ser denunciados à Central de Atendimento 156 ou pelo telefone 3623- 1314”, concluiu. (M.L)