Cotidiano

Aneel e Eletrobras preferiram o silêncio

Quem deveria fiscalizar e tomar providências para o caos energético que Roraima enfrenta se omitiu em falar com a imprensa

As quedas de tensão no fornecimento de energia e os apagões têm sido rotina para os roraimenses, que somente nas três primeiras semanas do ano já enfrentaram quatro longos blecautes, conforme levantamento feito pela Folha. No final da noite de quarta-feira, 20, ocorreu mais um apagão, desta vez de poucos minutos, mas que deixou vários bairros da zona Oeste da Capital sem energia. Porém as autoridades não se mostraram interessadas pelos problemas que Roraima vem enfrentando.

Somente nos últimos três meses de  2015, foram mais de 20 apagões de grandes proporções, conforme registro na última audiência pública realizada para debater o assunto no Estado. Único Estado brasileiro que não faz parte do Sistema Interligado Nacional (SIN), Roraima é dependente, desde 2001, do fornecimento de energia elétrica que vem da Venezuela por meio do Linhão de Guri. Já houve, inclusive, dois princípios de incêndios no parque termelétrico de Jardim Floresta este mês.

Em busca de respostas sobre a crise energética no Estado, a Folha entrou em contato, durante toda a semana, com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), em Brasília, e com a sede da Eletrobras, no Rio de Janeiro. Por várias vezes, foram feitos telefonemas e enviados e-mails para as duas empresas questionando a posição delas diante do caos energético e se algo seria feito para resolver o problema.

Tanto a Aneel quanto a Eletrobras, no entanto, omitiram-se e fizeram pouco caso com o problema, não atendendo aos questionamentos e afirmando, em nota, após várias semanas de insistência, que não iriam se posicionar sobre o assunto. (L.G.C)

Empresários relatam prejuízos com constantes cortes no fornecimento 

A crise no abastecimento de energia elétrica em Roraima tem causado uma série de prejuízos a empresários do setor comercial. Os recorrentes e demorados apagões, como o ocorrido na noite de sábado, têm danificado máquinas e equipamentos, além de produtos que, sem a devida refrigeração, estragam-se.

As quedas de energia atingem principalmente pequenos comerciantes que não possuem condições de manter geradores para recompor a energia nos estabelecimentos e evitar os prejuízos. É o caso da empresária Jociele Saldanha, que possui uma frutaria no bairro 31 de Março, zona Norte. Segundo ela, o último blecaute gerou prejuízo de R$ 1,5 mil por conta da queima de um frízer. “Tive que arrumar com urgência, sem tempo de fazer pesquisa, porque as mercadorias se estragam se ficarem muito tempo sem refrigerar”, disse.

Ela afirmou que, além dos prejuízos materiais, é obrigada a fechar mais cedo quando há blecautes. “Não tem como vender sem luz. Tem que fechar mais cedo, fora o perigo de sermos assaltados. É uma situação complicada, mas a única coisa que não podemos perder é a fé de que um dia isso irá melhorar”, relatou.

Situação parecida vive o empresário Gabriel Valentim, dono de um mercado localizado no bairro dos Estados, também na zona Norte. Os apagões e quedas de energia, segundo ele, causaram perdas e prejuízos. “Já tivemos centrais de ar queimadas e vários equipamentos. Os produtos armazenados em frios são todos perdidos”, afirmou.

Ficar uma ou duas horas com o comércio fechado por conta da falta de energia gera perda de R$ 2 mil a R$ 3 mil. “Perdemos bastantes vendas. Como não temos gerador, a única saída é fechar. É bem difícil essa situação aqui em Roraima”, lamentou.

O presidente da Associação Comercial de Roraima (Acirr), Joaquim Gonçalves, informou que vários empresários já se reuniram para tentar encontrar uma alternativa para o setor. “A verdade é que dá prejuízo para todo mundo. Nada funciona sem energia e sofremos muito com esses blecautes. A verdade é que não temos a quem recorrer. Tivemos reuniões a respeito desse assunto, mas nada foi resolvido”, comentou. (L.G.C)