Os municípios de Caroebe, Iracema e São João da Baliza decretaram situação de emergência, nesta terça-feira, por conta da forte estiagem e do grande número de queimadas. Desde o início de janeiro, 13 dos 15 municípios do Estado passaram a integrar o decreto em busca de recursos para combater a seca que assola Roraima.
Na sexta-feira passada, 22, o Governo do Estado já havia assinado o decreto de número 20.368-E que declarou emergência nos municípios de Amajari, Alto Alegre, Bonfim, Cantá, Caracaraí, Mucajaí, Normandia, Pacaraima, Rorainópolis e São Luiz do Anauá. Apenas a Capital, Boa Vista, e Uiramutã, na região Nordeste, não decretaram situação de emergência até o momento.
À Folha, o secretário-executivo da Defesa Civil de Roraima, coronel Cleudiomar Ferreira, explicou que, com a assinatura do decreto, as ações de combate a estiagem serão intensificadas. “A situação se agravou em alguns municípios. Em Iracema, na região de Campos Novos, há um grande número de queimadas, assim como nos municípios do Sul. Em outras localidades, a necessidade maior é em relação à resposta quanto à estiagem e à distribuição de água”, disse.
Todos os municípios que declararam situação de emergência solicitaram água potável para atender à população e água para o rebanho, assim como o combate a incêndios. Para atender a demanda, o governo contratou sete caminhões-pipa para fazer a distribuição de água, que começará a ser feita a partir desta semana, em Alto Alegre.
Os caminhões-pipa também passarão por outros municípios que sofrem com a falta de água, como Amajari, Pacaraima, São Luiz do Anauá, Bonfim e Mucajaí. De acordo com a Defesa Civil, outros sete caminhões serão empregados na próxima semana para intensificar as ações de distribuição de água potável.
Outra solução para enfrentar a seca nas localidades é a escavação de bebedouros e poços. O Corpo de Bombeiros Militar de Roraima (CBMRR) e o Governo definirão, ainda esta semana, a quantidade de máquinas escavadeiras e retroescavadeiras que deverão ser enviadas para cada município.
Segundo Cleudiomar, o Município de Uiramutã deverá ser o próximo a declarar situação de emergência. “Só ainda não decretou porque lá ainda não tem sequer nomeação de coordenadoria da Defesa Civil. Fizemos um levantamento e vimos que há necessidade de decretar, sim, porque o município está seco”, afirmou.
Já a Defesa Civil Municipal de Boa Vista alegou que tem recursos para combater a estiagem. “Estive reunido com o secretário de segurança urbana e trânsito, coronel Barros Oliveira, que nos informou que o município está atendendo bem ao combate à estiagem”, frisou.
De acordo com o coronel, todos os recursos que serão aplicados nas ações de combate à estiagem são provenientes do Estado. “Quando se decreta situação de emergência está se dizendo que o Governo tem condições de atender essa demanda com recursos próprios. O decreto serve para viabilizar as ações de forma mais rápida”, explicou Ferreira.
Ainda assim, a Defesa Civil do Estado estima pedir ajuda de R$ 8 milhões junto à Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (Sedec) do Ministério da Integração Nacional. “Há chance de esses recursos virem, mas tem que aguardar a tramitação de documentação que será encaminhada a Brasília. Não temos a certeza de quanto iremos pedir, pois depende de um levantamento e sabemos que está havendo contenção de gastos no Governo Federal”, afirmou.
DECRETO – Para assinar o decreto que declara 13 dos 15 municípios roraimenses em situação de emergência, o governo considerou que as ações climáticas provocadas pelo fenômeno El Niño, elevando a temperatura da superfície do mar nas águas do pacífico a patamares raramente alcançados, afetou o regime climático e, consequentemente, a redução da precipitação pluviométrica na Amazônia, principalmente em Roraima.
Para o governo, a forte estiagem que atinge Roraima vem causando redução dos níveis dos mananciais, dos reservatórios de água para a população urbana e rural, assim como para os animais. “A perda parcial da produção agrícola de subsistência tem proporcionado prejuízos econômicos, sociais e ambientais, além da potencialização dos riscos de incêndios florestais devido à baixa umidade, altas temperaturas e persistências de dias sem chuvas”, alegou.
Conforme o decreto, o quadro atípico vem se prolongando desde o ano de 2014 e, segundo o Boletim Climatológico do Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam), a previsão para os próximos três meses do ano é de permanência do quadro.
Brigadistas do Amazonas e do Exército devem apoiar no combate a incêndios
As ações de combate a incêndios florestais e queimadas em Roraima devem dispor de mais efetivo. Além de enviar 70 bombeiros para os municípios em emergência e aumentar a escala de plantões, a Defesa Civil fará a contratação imediata de mais 150 brigadistas. O edital de seleção foi encaminhado à Procuradoria-Geral do Estado (PGE) e deve ser concluído ainda esta semana.
O coronel Cleudiomar Ferreira explicou que, após a contratação, os brigadistas passarão por testes físicos e iniciarão os trabalhos de combate no início de fevereiro. “Contamos a semana que vem para fazer a seleção do pessoal e mais uma semana para fazer teste físico. Serão mais 150 homens trabalhando direto nas ações de combate a incêndios”, destacou.
Também já foram elaboradas as minutas de ofícios solicitando ao governador do Amazonas, José Melo, e ao general da 1ª Brigada de Infantaria de Selva, Carlos Alberto Mansur, do Exército Brasileiro, apoio de contingentes de brigadistas. “Estamos aguardando a disponibilização desse efetivo. Estimamos que venham pelo menos mais 200 homens para reforçar as ações”, informou. (L.G.C)
Emissão de licenças para queimadas é suspensa
O calendário itinerante de queimadas, que havia sido lançado no dia 11 de janeiro, foi suspenso na tarde de ontem pela Fundação Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Femarh). Com a decisão, as emissões de licenças para a realização de queimadas no Estado estão proibidas por tempo indeterminado.
Segundo o diretor da Femarh, Rogério Campos, a decisão foi tomada junto ao Comitê de Queimadas devido ao grande número de focos de incêndio em Roraima. “O número de focos de calor é intenso e a equipe técnica achou melhor suspender todas as queimadas”, disse.
Conforme ele, o Estado nunca passou por um período tão crítico em relação a queimadas como agora. “Nunca passamos por uma situação dessa. O que vai definir o período de queimadas são a estiagem e o número de focos de calor. A verdade é que não temos mais controle e os números mostram focos de calor intensos”, explicou.
Campos informou que não há previsão para a retomada do calendário de queimadas. “Não tem previsão. Depende do clima, da temperatura, umidade, e do controle de focos. Se tivermos com tudo isso a favor, poderemos voltar a discutir o retorno, mas nesse momento não há previsão”, frisou.
Ele ressaltou que quem realizar queimadas em terrenos ou propriedades estará infringindo uma legislação ambiental e pagará multa. “A multa é a partir de R$ 5 mil por hectare. Se a queima for em áreas de preservação ou reserva legal, a multa aumenta. Pedimos à população que evite colocar fogo até mesmo em lixo, porque está tão seco que o risco de o fogo se espalhar é grande”, alertou.
FOCOS – De acordo com a Defesa Civil de Roraima, foram registrados 2.400 focos de calor somente nesse sábado, 23, no Estado. Houve também registro de incêndios criminosos e a queima de pontes que ocorreram em Campos Novos e na região do Itã, em Caracaraí, região Centro-Sul.
Estão sendo observados recordes nos focos de calor em Roraima devido ao fenômeno El Niño, que geram problemas sérios como seca, escassez de água para consumo humano e incêndios florestais. Os municípios com mais registros foram Caracaraí (61), Iracema (41) e Mucajaí (32). (L.G.C)