Cotidiano

Moradores de conjuntos habitacionais cobram mais atenção do poder público

Vivendo onde termina a área urbana de Boa Vista, na zona Oeste, moradores do Cidadão, Manaíra e Cruviana se dizem esquecidos

Moradores do Conjunto Cruviana, no bairro Senador Hélio Campos, zona Oeste, tem que acordar de madrugada para poder conseguir atendimento médico. É que eles só dispõem do posto de saúde do Conjunto Cidadão, distante mais de cinco quilômetros. Crianças já deixaram até de tomar vacina por causa da dificuldade, segundo relatam os pais.

“O transporte coletivo é precário, não passa lotação e o ônibus demora. Não temos como pagar táxi para ir até a unidade de saúde. Precisamos que a prefeitura implante um posto aqui, no conjunto”, reivindicou a dona de casa Lucideia Camargo, de 39 anos, moradora da rua Cláudio Brabosa de Araújo.

O comerciante Edinaldo Silva, de 32 anos, também morador do Cruviana, reclamou da falta de cobertura dos pontos de ônibus e da demora do coletivo. Ele também denunciou que taxistas de lotação não passam pelo conjunto. “Aí, a gente tem que esperar horas pelo ônibus debaixo de muito Sol”.

Na área de lavrado que fica no final do conjunto, moradores de outros bairros estão jogando lixo e até animais mortos. “É um absurdo esta porcaria aí! O forte odor causa náuseas e a gente nem consegue almoçar”, reclamou uma dona de casa que preferiu não se identificar.

No Conjunto Manaíra, também no Hélio Campos, o público infanto-juvenil cobra programas sociais do poder público, praças e quadras esportivas. A Folha conversou com seis adolescentes que procuram serviço, batendo palma na porta das casas. “A gente tem que trabalhar para ajudar em casa. Minha mãe não trabalha e não tenho pai, por isso procuro serviço”, disse um menino de 11 anos, morador do conjunto.

Os outros também alegaram a mesma coisa. Eles estavam querendo cavar uma fossa para ganhar R$ 60,00, mas contaram que “mataram” aula para poderem fazer o serviço. “Estudamos na Escola Elza Breve, no Conjunto Cidadão, mas não fomos porque senão a gente não faria o serviço”, justificou um deles.

Questionados sobre o cotidiano, os adolescentes disseram que pela manhã estudam, à tarde jogam bola em um campinho de areia e à noite não fazem nada. Todos garantiram que usam droga, mas um admitiu que já furtou. “Mas foi porque eu não tinha o que comer”, justificou.

No Conjunto Cidadão, no mesmo bairro e zona da Capital, moradores cobraram melhorias no transporte público e denunciaram taxistas de lotação. Segundo os moradores, os taxistas estariam cobrando duas passagens para ir até o conjunto. Para piorar a situação, ainda conforme os denunciantes, os ônibus demoram mais de uma hora para passar aos fins de semana.

“A gente não consegue sair de casa e ir ao Centro porque não tem transporte público. A passagem do ônibus e do lotação aumentou, mas os serviços são péssimos. Cadê a fiscalização?”, questionou a comerciante Elisabete da Silva, de 32 anos, moradora da rua CC-05.

O único posto de saúde do conjunto anda sobrecarregado. A unidade atende a três conjuntos e mais dois bairros da zona Oeste. Lá existem mais de três mil agendamentos para o dentista do posto, único que atende até oito pacientes por dia. No Centro de Saúde ainda falta oftalmológico. “O problema é que vem paciente de vários bairros e temos apenas dois médicos e um dentista para atender a grande demanda. Já foram solicitados mais médicos, mas até agora não chegaram”, lamentou um servidor da unidade de saúde, que preferiu não se identificar.

Os conjuntos Cidadão, Manaíra e Cruviana somam quase 15 mil moradores. Além do péssimo serviço de transporte público e a grande demanda pela única unidade de saúde básica, a insegurança preocupa os moradores. “Mas agora os carros da polícia voltaram a fazer rondas por aqui”, observou uma moradora. (AJ)