Cotidiano

Mães não encontram vaga em creches

Maioria das mulheres que trabalham fora deixa o filho na casa de parentes porque elas não conseguem matrícula em creches

A vida da agricultora Sunaira Level Salomão, de 32 anos, não é fácil. Indígena da etnia Macuxi, ela acorda todos os dias às 5 horas, faz o café e depois segue para a roça com a filha mais nova, de 4 anos, nos braços. A agricultora mora na vicinal 7 do pólo I, no projeto de Assentamento Nova Amazônia, zona rural de Boa Vista, e não tem com quem deixar a filha. Ela e outras mães cobram a construção de creches e Casas Mãe.

“Meus dois outros filhos, de 8 e 10 anos, estudam na escolinha do projeto, mas a minha caçula não tem com quem ficar. Por isso, ela vai comigo. É ruim porque eu tenho que trabalhar de olho nela. Ela reclama do sol, mas eu tenho que plantar pra poder colher depois”, justificou a mãe.

O problema vivido na zona rural também se repete no meio urbano. A falta de creches e Casas Mãe atrapalha a vida de muitas mulheres que trabalham. É o caso da professora Naiara Teixeira Brasil, de 29 anos, moradora do bairro Aeroporto, zona Norte da Capital.

“Dou aula e tenho que deixar minha filha, de 3 anos, com parentes. Tem vezes que viajo para o Município de Uiramutã e ela fica com o pai. O bairro não tem creche nem Casa Mãe. Fica difícil trabalhar desse jeito”, reclamou a professora.

A feirante Luziane Sampaio, de 36 anos, é outra que enfrenta dificuldade. Ela tem um filho de 16 anos que cuida dos dois menores, de 3 e 6 anos. O cotidiano de Luziane é corrido. Ela tem que acordar às 4 horas para receber frutas e verduras na Feira do Produtor, no bairro São Vicente, zona Sul, onde tem uma banca. Depois, volta de bicicleta para casa, no bairro 13 de Setembro, também na zona Sul, para fazer o café da manhã dos filhos.

“É de segunda a segunda este meu corre-corre. Os dois mais velhos estudam, mas o mais novo não tem com quem ficar. Passo o dia todo fora de casa, trabalhando, pois sou pai e mãe, e tenho que batalhar para sustentar meus filhos. Fui até a creche do bairro, mas não havia vaga. Vou levando como posso”, lamentou.

DADOS – O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou que a Capital roraimense tem 33.953 crianças, incluindo as da zona rural. O bairro Senador Hélio Campos, zona Oeste, é o que mais tem crianças: 1.181. Em segundo lugar aparece o Pintolândia, com 1.110. Depois, o São Bento, com 1.076; Santa Luzia, com 939; e o Caranã, com 884 crianças. O bairro Airton Rocha, próximo ao Anel Viário, é o que apresenta o menor número de crianças, apenas três.

Prefeitura afirma que construiu mais 17 creches e ampliou vagas

A Prefeitura de Boa Vista afirmou que a Educação Municipal tem passado por um processo de ampliação no atendimento à primeira infância com a construção das 17 novas creches e mais 11 Casas Mãe, aumentando o número para 33, somado a 22 unidades já existentes. Disse que a educação não recebeu nenhuma reclamação de mãe que tenha ficado sem vaga em unidade de ensino.

A prefeitura orienta que as mães procurem a sede da Família que Acolhe, localizada na Rua Sólon Rodrigues Pessoa, no bairro Pintolândia, zona Oeste, para cadastrar seu filho e assim efetuar a matrícula em uma Casa Mãe.

“Com esse trabalho desenvolvido, a Secretaria Municipal de Educação e Cultura (Smec) já está oferecendo em sua estrutura o atendimento à Educação Infantil em cinco creches pró-infância, inauguradas recentemente na atual gestão. Com relação às Casas Mãe, é importante destacar que todas passam por processo de reforma, sendo que nove tiveram as obras concluídas, com ampliação de mais uma unidade, totalizando dez entregues e uma ampliação.

As demais estão sendo reformadas e ampliadas para se chegar ao total de 33”, frisou.

A Smec ressaltou que a Prefeitura de Boa Vista vem trabalhando para atender aos alunos da melhor maneira. Até o momento, consta nos dados, o total de 6.368 alunos matriculados na Rede Municipal de Ensino atendidos na Educação Infantil que compreende a idade de 2 a 5 anos (creche, 1º e 2º períodos).