Cotidiano

Sem merenda, escolas servem leite a alunos

Servidores e pais de alunos afirmam que unidades de ensino do Estado não recebem merenda escolar desde o início do ano

A falta de merenda escolar obrigou gestores de escolas da rede pública de ensino estadual da zona Oeste de Boa Vista a servirem apenas leite aos estudantes. Segundo denúncia de servidores das unidades de ensino, o problema vem ocorrendo há pouco mais de duas semanas e não há previsão para que a situação seja resolvida. 

Algumas unidades, como as escolas Elza Breves de Carvalho e Sônia de Brito Oliva, localizadas no bairro Senador Hélio Campos, além da Severino Cavalcante, no Sílvio Botelho, ambas na zona Oeste, liberaram os alunos mais cedo, na manhã de ontem, 03, para que as crianças não ficassem com fome.

Na Escola Mário David Andreazza, no bairro Caimbé, também na zona Oeste, há duas semanas que a merenda servida é apenas leite com bolacha doce. Um dos alunos relatou que, antes disso, havia macarrão com salsicha, arroz com frango, mingau e outros alimentos. “Agora a gente fica com fome porque leite com bolacha não alimenta. Chego em casa com muita fome”, disse o aluno, que é filho de dois jornalistas.

Conforme os servidores das escolas, muitas crianças de famílias de baixa renda têm na merenda escolar sua principal alimentação do dia. Quem possui condições, está levando a merenda de casa para comer na hora do recreio. Inconformado com o descaso, um pai de alunos, que preferiu não se identificar, afirmou que os gestores das escolas estão tirando dinheiro do próprio bolso para comprar merenda aos alunos. “Não tem carne, não tem açúcar e nem feijão, por isso estão tendo que servir leite. Um dia ou outro ainda serve mungunzá com flocos de tapioca, mas é só isso”, disse.

Conforme ele, até ossadas de carne bovina misturadas com feijão foram servidas aos alunos. “Mandaram três vezes verdura para as escolas, mas não mandaram carne. A merenda é leite em pó, sem bolacha e sem nada. Conversei com os gestores e eles disseram que os fornecedores não foram pagos”, relatou.

Uma das alternativas para os alunos não ficarem sem merenda seria a compra de lanches em cantinas, mas o Governo do Estado publicou, no início do mês passado, uma portaria determinando a desativação de 131 cantinas que funcionavam nas escolas estaduais da Capital e do interior.

À época, o governo alegou que a mudança tinha como objetivo oferecer uma alimentação saudável para os alunos sem doces, frituras e refrigerantes. Com a medida, a merenda nas escolas passaria a ser exclusivamente gratuita e fornecida pelo governo, o que, segundo os servidores das unidades, não vem ocorrendo.

Outra medida implantada pelo governo para evitar a falta de merenda escolar foi a retomada, em novembro do ano passado, do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) da Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa).

Para que voltasse à ativa, o governo quitou uma dívida de R$ 563 mil com 141 produtores, atendidos entre os anos de 2012 e 2013. A ideia era comprar alimentos produzidos pela agricultura familiar, com dispensa de licitação, que seriam distribuídos de forma gratuita a 350 instituições como escolas, creches e entidades filantrópicas.

GOVERNO – Em nota, o Governo do Estado informou que, a denúncia dando conta de que alunos das escolas estaduais Elza Breves, Sônia de Brito e Severino Cavalcante teriam sido liberados mais cedo por falta de alimentação escolar não procedia. Conforme a Secretaria Estadual de Educação e Desportos (Seed), nenhum aluno foi liberado na manhã desta quarta-feira, dia 03, por falta de alimentação escolar nem por nenhum outro motivo.

A Seed afirmou que mantém a alimentação escolar nas escolas e que o cardápio é variado entre a preparação de doces e salgados, conforme recomendação do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).

Sobre a questão das verduras e legumes, informou que até o dia 15 de fevereiro a situação estará regularizada, pois, como o calendário escolar de Roraima é diferenciado dos demais Estados devido à greve que ocorreu em 2015, o fornecedor entrou em recesso no dia 31 de dezembro e voltará a fornecer os itens no dia 15 de fevereiro.

“Na segunda-feira (1º de fevereiro), 19 escolas tiveram os depósitos reabastecidos com gêneros de alimentação escolar. Na terça-feira (2) outras 20 escolas e nesta quarta-feira (3), mais 19 unidades de ensino foram abastecidas. Durante a semana o restante das escolas serão reabastecidas”, frisou a nota. (L.G.C)