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Atuação da máfia no mercado de coleções

Nas redes sociais, a prática de enganar o consumidor tornou-se comum

O nome, à primeira vista, parece não fazer muito sentido, mas é quase certo que todo consumidor já foi vítima da chamada venda casada. Trata-se de uma prática ilegal, onde um produto é vendido condicionado a outro.

É uma situação presente em diversos setores comerciais, e começou a atingir também com osamantes do colecionismo, que têm investido milhares de reais em diferentes produtos da Cultura Pop, como figuras de ação, novelas gráficas ou carros em miniatura, essenciais na galeria de qualquer fã ou colecionador.

A venda casada, segundo o Artigo 39 do Código de Defesa do Consumidor (CDC), é expressamente proibida e considerada uma prática abusiva, constituindo, inclusive, crime contra as relações de consumo e contra a ordem econômica.

Mas, mesmo assim, nas redes sociais, a prática de enganar o consumidor tornou-se comum, e os praticantes das vendas casadas do mundo pop, conhecidos como ‘mafiosos do colecionismo’, vêm faturando alto por conta da grande procura por itens colecionáveis.

Eles ‘bombardeiam’ os produtos nas mídias sociais para chamar a atenção dos consumidores, que, mesmo sendo lesados, apostam altos valores em objetos divulgados como ‘específicos ou raros’.

Segundo os clientes denunciantes, os vendedores de objetos colecionáveis especulam, exorbitam, superfaturam o preço de produtos básicos usando de uma artimanha já conhecida dos brasileiros: “se colar, colou”.

“Até agora, não existe nada que possamos fazer para acabar com a ‘máfia da coleção’ e manter nosso hobby frequente. Você pedir um pouco acima, eu até não vejo problema. A situação com a que não concordo é vender uma miniatura, por exemplo, de 25 reais por 60”, comentou o colecionador Alexander Costa.

As vendas casadas atualmente têm se proliferado cada vez mais, até mesmo nos melhores sites de coleções do Brasil.

“A justiça brasileira é incompetente para atuar frente às vendas casadas tão explicitas na internet, atualmente. As reclamações são constantes, mas os sites de colecionismo continuam cabulando os consumidores. A verdade é que vivemos num país no qual a corrupção prevalece mais que a lei”, desabafou o colecionador Pedro Henrique.

A venda casada é caracterizada quando um consumidor, ao adquirir um produto, leva conjuntamente outro, seja da mesma espécie ou não. A venda casada pode ser percebida quando o fornecedor de produtos ou serviços condiciona que o consumidor só pode adquirir o primeiro se adquirir o segundo. A Lei 8.884 / 94, artigo 21º, XXIII, define essa ação como infração de ordem econômica. A pena é de detenção de dois a cinco anos ou multa.

“Aqui em Manaus, os beneficiados são aqueles que possuem esquema com gerentes e vendedores de loja. O colecionador é avisado sobre a chegada das caixas antes de serem colocadas à venda. Assim, eles são chamados para conferir no depósito e obter as minis desejadas, já sabendo que existirá grande procura pelo colecionável. Dessa forma, quando os colecionadores queriam a mini e não achavam, as únicas opções eram ficar sem o item na coleção ou comprar dos mafiosos”, comentou o colecionador Everaldo Djacy.

A máfia dos colecionáveis age em todo o Brasil e miniaturas da Hot Wheels estão entre os produtos mais caros. Por exemplo, existe uma série especial dentro da mainline chamada T-Hunts, ou seja, “Caça ao Tesouro”, identificada por uma tarja verde na lateral da cartela com a inscrição “T-Hunt”.

De 2007 até 2012, existiam dois tipos de T-Hunts: o normal e o super. O normal vinha geralmente em uma unidade por caixa e tem rodas de plástico. O super vem em uma a cada 17 caixas, e tem pintura especial e pneus de borracha. O valor dessa série no mercado paralelo é alto devido à dificuldade de serem achados.

“Já vi uma mini Datsun ofertada por 450 reais. Acho absurdo! Também encontrei um mafioso pedindo 750 reais numa mainline do Snoopy, fabricado pela Hot Wheels”. Eu me sinto lesado com esta situação recorrente. Imagina você ir ao comércio, gastar seu combustível, pagar estacionamento e quando entra na loja, as ‘minis’ mais procuradas já foram desviadas, nem mesmo chegaram a ser colocadas nas gôndolas!”, comentou Felipe Tavares.