Alunos do Núcleo Insikiran e integrantes do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade Federal de Roraima (UFRR) se reuniram, na manhã de ontem, em uma manifestação contra o ato de racismo ocorrido em dezembro de 2015 nas dependências da instituição.
Além dos estudantes, estavam presentes em frente à Reitoria representantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). O objetivo da ação foi exigir da administração da universidade que sejam tomadas providências contra o ato de racismo que ocorreu no dia 14 de dezembro do ano passado e solicitar atenção maior sobre a questão racial dentro da instituição.
Outra manifestação foi realizada em frente ao Restaurante Universitário, por volta das 11h30, local onde teria ocorrido o ato de racismo a alunos indígenas, e houve também uma ocupação cultural no Parlatório, às 18h, com a apresentação da Banda Cruviana, formada por alunos do Insikiran.
Uma das pessoas que disse ter sido vítima, Edison Freitas, que é da etnia Macuxi, destacou que a mobilização é uma forma de apelo por justiça. “Não quero nenhuma retratação pública, quero que essas pessoas sejam punidas. Inclusive, para isso, temos o apoio da diretoria do Insikiran, porque racismo é crime e, se eles não forem punidos, vão continuar discriminando outras pessoas, sejam indígenas ou qualquer outra minoria”, reivindicou.
Ele relatou que, durante uma reunião com membros da Reitoria e representantes do DCE, os alunos indígenas teriam sido coagidos pela administração da instituição a retirarem a queixa. “Fomos acuados. Eles queriam que entrássemos em acordo sem levar para a justiça, mas em nenhum momento pensamos em desistir, pois não vamos nos calar”, complementou.
A integrante da direção do DCE, Tamires Rayane, ressaltou que, apesar de existirem na universidade vários locais com nomes indígenas, a instituição não tem atuado de forma incisiva nas questões raciais dentro da universidade. “Apesar das denominações ‘Insikiran’, ‘Paricarana’ e até o nome do próprio restaurante, ‘Wayaschi’, que são de origem indígena, não se vê essas questões raciais sendo veementemente discutidas na universidade, não só em relação ao racismo contra indígenas, mas também contra negros, que também acontece aqui dentro”, frisou.
Os estudantes registraram a denúncia na Ouvidoria da UFRR e Boletim de Ocorrência nas polícias Civil e Federal. O caso está sendo investigado pela Comissão de Direitos Humanos da OAB/RR.
O CASO – Conforme a denúncia, o ato de racismo aconteceu dentro do Restaurante Universitário (R.U.) do Campus Paricarana da UFRR, no dia 14 de dezembro do ano passado, onde quatro alunos indígenas, sendo duas mulheres e dois homens, do Curso de Bacharelado em Gestão Territorial Indígena (GTI), foram ofendidos por quatro alunos não indígenas.
Uma nota de repúdio veiculada na página do Insikiran diz que o grupo de estudantes que cometeram o ato de racismo se dirigiu aos indígenas em voz alta com palavras ofensivas e depreciativas, discriminando-os pela sua maneira de comer, de se vestir e por sua aparência. Teriam dito que suas presenças os incomodavam e, posteriormente, se retiraram da mesa coletiva como forma de “não se misturarem”.
UFRR – Conforme o chefe de gabinete da Reitoria, professor Alberto Moura de Castro, a UFRR recebeu a denúncia no dia 17 de dezembro de 2015 e que, após os trâmites iniciais, foi analisada pelo setor competente da instituição. “Assim que a denúncia foi registrada na Ouvidoria da universidade, providências foram tomadas no sentido de constituir uma comissão de sindicância”, disse.
Conforme ele, a comissão ainda não concluiu seu trabalho, necessitando de prorrogação para a conclusão. “O trabalho da comissão cumpre o rito legal de processo disciplinar e está atuando no sentido de apurar as responsabilidades e apresentar a conclusão do trabalho para que a gestão tome as devidas providências”, complementou.
O chefe de gabinete nega que a Reitoria teria pressionado os alunos a retirarem a queixa. “Em nenhum momento os alunos foram induzidos pela Reitora da universidade a retirarem a queixa. A reitora Gioconda Martínez imediatamente repudiou a situação relatada e disse com veemência que a instituição não aceita qualquer forma de preconceito”, frisou.