Cotidiano

Hospital da Criança suspende cirurgias

Uma mãe, cansada de esperar, foi a Manaus comprar fio de sutura, mas cirurgia do filho foi novamente cancelada porque faltou anestésico

A falta de medicamento e material no Hospital da Criança Santo Antônio, localizado no bairro 13 de Setembro, zona Sul, tem deixado várias crianças na fila de espera por uma cirurgia. O fato obrigou uma mãe a comprar fios de sutura para que fosse realizada a cirurgia do filho de 01 ano, que tem fenda no palato. A fissura palatina ocorre quando há uma abertura direta entre o palato, ou “céu da boca”, e a base do nariz.

Apesar de a servidora pública Maceli Carvalho Souza ter comprado os fios, a cirurgia, pela qual aguarda há mais de seis meses, foi adiada novamente, desta vez por falta de anestésico. Em entrevista à Folha, ela denunciou que está enfrentando dificuldades para conseguir a cirurgia para o filho.

Ela teve que ir a Manaus (AM) para comprar fios de sutura, pois não aguentava mais a espera pelo material, que ocasionou o adiamento da cirurgia. “Da primeira cirurgia reparadora que meu filho fez, a cirurgia reabriu por causa dos fios de sutura utilizados no hospital, que eram de péssima qualidade”, afirmou, frisando que por isso decidiu ela própria comprar o material fora do Estado.

Quando Maceli voltou de Manaus, no mês passado, foi avisada pelo hospital que a cirurgia iria ser adiada novamente, agora por falta de anestésico, o Sevoflurano. Ela disse que o anestésico é item básico para qualquer hospital. “Se houver um acidente e alguma criança precisar de cirurgia emergencial, não tem anestésico. Isso é uma calamidade! A gente sabe que não é culpa dos médicos. Eu, que trabalho na área da saúde, sei que a gente tenta fazer de tudo. Mas se não tem material, o médico ou o enfermeiro não podem fazer nada”, destacou.

Segundo ela, a direção do hospital apenas informou que o anestésico devia ter chegado anteontem, porém isso não aconteceu nem foi informado quando iria chegar. “Há dez dias a cirurgia foi marcada para a próxima terça-feira, dia 15, mas vai ser adiada mais uma vez”, lamentou.

Maceli destacou que o médico recomendou que a cirurgia seja feita até 1 ano e 5 meses de idade, pois, quanto maior a demora, mais problemas a criança pode ter, como dificuldades de alimentação, de respiração e de fala, além do risco de a criança se engasgar. “Essa dificuldade de alimentação pode prejudicar o desenvolvimento dele e causar desnutrição. Temos que fazer logo essa cirurgia para poder correr atrás do próximo passo, que é a fonoaudiologia”, explicou.

A mãe afirmou que procurou o anestésico nas distribuidoras de remédios de Boa Vista e foi informada que é muito difícil encontrar o remédio na cidade. “Disseram que nenhuma distribuidora de medicamentos se interessa em comprar para vender para a prefeitura ou governo porque eles só querem comprar fiado e só querem comprar quando já acabou o estoque”, complementou.

PREFEITURA – Por meio de nota, a Prefeitura de Boa Vista informou que lamenta o transtorno e que já providenciou a compra do medicamento, que é usado para indução e manutenção de anestesia. Frisou que a empresa vencedora do certame desistiu do contrato e que entrou em contato com a segunda e a terceira empresas, que não tiveram interesse em fornecer o medicamento. Destacou que continua trabalhando para resolver esse problema.

Segundo a nota, para não colocar em risco a vida das crianças que necessitam dos procedimentos de emergência, a secretaria decidiu suspender as cirurgias eletivas até que seja regularizado o fornecimento do medicamento. Ressaltou que o centro cirúrgico do Hospital da Criança permanece realizando as cirurgias de emergência e não está colocando em risco a vida das crianças. (N.N.)