Há cerca de dois anos, indígenas das comunidades Raimundão1 e Raimundão 2, localizadas no Município de Alto Alegre, região Centro-Leste do Estado, estão em um verdadeiro pé de guerra. De acordo com o presidente da Sociedade de Defesa dos Índios Unidos de Roraima (Sodiur), Altevir de Souza, a rixa iniciou quando três famílias do Raimundão2 decidirem deixar o local para integrar a Raimundão 1, com a intenção de unificar as duas comunidades.
“A comunidade Raimundão1 pertence à organização do Conselho Indígena de Roraima, o CIR. Já o Raimundão 2 é assistida por nós, da Sodiur. Toda essa briga foi iniciada porque o pessoal de lá decidiu querer a unificação das duas comunidades. Só que as lideranças e a população que vivem na Raimundão 2 são contra essa proposta. A Sodiur também não vê sentido nisso”, disse.
Segundo ele, a proposta de unificação teria partido do membro de uma das famílias que saíram da comunidade Raimundão2, que seria irmão de uma das tuxauas da localidade. De lá para cá, as desavenças entre as duas partes só aumentaram, criando um clima de extrema hostilidade na região. “Ele é o causador do problema, convidando as pessoas do Raimundão 1 para vir ajudar ele a tirar a tuxaua para poder unificar as duas comunidades, mas eles (da Comunidade Raimundão 2) já declararam que não vão deixar que isso aconteça”, disse.
Souza disse que várias ocasiões tentou envolver o CIR no diálogo entre as comunidades, não obtendo sucesso. “Eles (coordenadores) deveriam estar nos auxiliando nessas negociações, até por também se tratar de uma comunidade que é assistida por eles. Já ligamos inúmeras vezes a eles e nunca quiseram nos atender. Quando atendem, já ficam estressados, pensando que estamos pressionando, mas a nossa intenção é apenas resolver essa situação”, frisou.
Disse ainda que tentou buscar ajuda com Ministério Público Federal (MPF) e Polícia Federal (PF) para a mediação do conflito e também não obteve resposta favorável. A única exceção tem sido a Fundação Nacional do índio (Funai), que tem colaborado na medida do possível. “A Funai é a única que fez a sua parte, indo até a Polícia Federal para pedir auxilio nessa questão, mas a PF nunca se manifestou a favor dessa mediação. Da mesma forma o MPF, que até se negou de ir para a região para ajudar”, destacou.
CIR – A Folha foi à sede do CIR, no bairro São Vicente, na zona Sul, mas foi informada que os coordenadores estavam participando de reuniões em Brasília. O secretário da entidade disse que uma comissão estava sendo formada para auxiliar nos trabalhos de diálogo
MPF – Por meio de nota, o MPF informou que existe um procedimento em curso para apurar as causas e buscar solução imediata para o conflito envolvendo representantes das duas comunidades.
Segundo o órgão, foi aberto procedimento administrativo e realizada reunião no dia 18 de abril com representantes das comunidades, a Funai, a Sodiur e o CIR para tentar resolver a desavença. Foi solicitado ainda apoio da Universidade Federal de Roraima (UFRR) para que um antropólogo produza uma análise que irá auxiliar o trabalho do MPF na questão.
O MPF afirmou que, na última sexta-feira, 6 , também houve despacho determinando que a Funai disponibilizasse servidores para laborar em regime de plantão durante o final semana a fim de monitorar a situação nas comunidades e, em caso de deflagração de conflito, acionasse as forças policiais.
PF – A Folha também entrou em contato com a assessoria de comunicação da Polícia Federal, mas até o fechamento dessa matéria, às 18 horas, não obteve resposta. (M.L)