Cotidiano

Família denuncia morte por negligência

No mesmo dia em que a Folha publicou denúncia de mau atendimento na Policlínica, paciente morreu quando recebia atendimento na unidade

A família do ourives William dos Santos, de 47 anos, acusa a Policlínica Cosme e Silva, localizada no bairro Pintolândia, zona Oeste, de negligência em sua morte. Segundo os familiares, ele deu entrada na unidade por volta das 06 horas de ontem, 22, com fortes dores, mas o médico que estava no plantão não teria prestado atendimento.
“Chegamos aqui cedo, meu irmão estava quase desmaiado e o único médico que estava realizando os atendimentos deixou ele aos cuidados dos enfermeiros e foi embora”, denunciou a irmã da vítima, Gleice Kelly. Ela disse que o irmão estava há dois dias vomitando e com diarreia, por isso havia solicitado uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) para que o levasse até o hospital. “Ele mesmo ligou, pois estava passando muito mal. Mas informaram que não havia ambulância disponível no momento e fizeram o atendimento apenas por telefone”, disse.
A cunhada da vítima, Marilda Castro, que o levou até a unidade, disse que se o médico tivesse adotado os procedimentos de emergência, ele poderia ter sobrevivido. “Trouxe ele aqui na Policlínica de carro, pois a ambulância não veio e o estado dele era crítico. Achamos estranho o fato de o médico não ter atendido ele. Talvez se tivesse feito isso, não teria acontecido”, afirmou.
Por telefone, um outro irmão de William, Raimundo dos Santos, também acusou de negligência o médico da unidade de saúde. “Em nenhum momento falamos com o médico. Ele não nos deu nenhuma satisfação e não conseguimos entender o motivo de haver apenas ele atendendo”, frisou.
No atestado de óbito, a causa da morte acusava hipoglicemia, desidratação e infecção, diferente da informação que foi repassada à família por meio de funcionários da Policlínica, que atestaram a causa da morte como “parada cardíaca”.
O corpo de William Dos Santos foi encaminhado ao IML e liberado por volta das 15 horas. O enterro será na tarde de hoje, no Cemitério Campo da Saudade, no bairro Centenário, zona Oeste.
FILAS – A Folha, que recebeu denúncias da demora dos atendimentos na Policlínica Cosme e Silva no dia anterior, foi novamente até o local e averiguou que as filas no setor de emergência da unidade continuavam longas. “Não é a primeira vez que uma pessoa morre aqui. E se continuar do jeito que está, não vai ser a última”, protestou um paciente que preferiu não se identificar.
SESAU – Por meio de nota, a Assessoria de Comunicação da Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) informou que o paciente deu entrada na unidade na manhã de quarta-feira apresentando quadro de parada respiratória e sem pulso. “Após a medicação, o paciente recebeu manobras de reanimação por aproximadamente 50 minutos, porém sem sucesso, chegando a óbito”, afirmou.
A direção alegou que o médico não se ausentou e nem recusou a prestar o atendimento. “O médico acompanhou todos os procedimentos adotados no paciente, conforme registro em prontuário, inclusive prestando a comunicação aos familiares. A família recebeu todo o atendimento da equipe de Assistência Social”, diz a nota.
Sobre o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), a Central de Regulação esclareceu que foi registrada uma única chamada, na terça-feira à tarde, pelo próprio paciente, que se queixava apenas de vômito e diarreia, sem febre. O paciente foi orientado a tomar soro oral e retornar a ligação caso o quadro piorasse, mas que não houve nenhum chamado posterior.