Cotidiano

Engenheiro analisa túnel feito por presos

Trabalhando 24 horas sem parar, presos levariam somente cerca de 7 dias para concluir a obra, retirando 10 caminhões de terra

O túnel de 4 metros de profundidade, com 36 metros de extensão, encontrado na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc) causou surpresa em todos. A ousadia, a organização e a riqueza de detalhes da construção feita pelos presos assustaram até os especialistas no assunto, pois o buraco já havia passado o muro do presídio e faltava apenas um alambrado de proteção para que o túnel alcançasse a área externa.
O engenheiro civil Rodrigo Ávila fez uma análise, a pedido da Folha, sobre o trabalho realizado pelos detentos. Após visualizar as fotos divulgadas e um vídeo que mostra o conteúdo interno do túnel, disponível no site da Folha, o engenheiro afirmou que a “obra é realmente de espantar”.  Conforme ele, trabalhando 24 horas sem parar, os presos levariam cerca de 7 dias para concluir a obra, retirando 10 caminhões de terra.
Ele fez algumas simulações para ver, em média, quanto tempo se levaria para a construção do buraco. Ciente de que o túnel tinha 36 metros de extensão, ele calculou, primeiramente, quanto de areia foi retirada do local. Na conta, calculando o volume de espaço que ele tem (36 m de extensão por 4 m de profundidade), por uma medida estabelecida em uma tabela de metros cúbicos, o resultado foi de 41 m³ de terra, o que se compara a 10 caminhões carregados de areia.
Um fator apontado pelo engenheiro, que possivelmente ajudou na construção foram as condições do solo. “O solo dessa região, como é possível ver no vídeo, é um siltoso, argiloso, o que permite uma certa estabilidade. Se fosse um solo, por exemplo, arenoso, à medida que fosse cavando, ele iria caindo, então o solo ajudou na construção”, afirmou o engenheiro.
Conforme ele, quando se analisa a estrutura dentro do túnel, que continha um sistema de iluminação e ventilação (a cada três metros, foram instalados ventiladores e lâmpadas, é possível perceber que os presos usaram poucas escoras para que o teto não desabasse, evidenciando o solo favorável para este tipo de construção.
Quando questionado se uma pessoa sem  conhecimento sobre engenharia seria capaz de construir um túnel como o encontrando da Penitenciária, o engenheiro afirmou que seria impossível. “Uma pessoa sem um certo conhecimento técnico não conseguiria fazer um trabalho desse, porque é preciso haver toda uma questão de planejamento. É preciso saber como a pessoa vai passar, o espaço de ir e voltar com o material, as ferramentas e, conforme vai cavando, é preciso saber como vai recolher a terra. Então, é preciso muito planejamento”, enfatizou.
Sobre as ferramentas de trabalho, disse que, ainda levando em consideração o solo, qualquer tipo de material com rigidez poderia ter auxiliado. “Com a própria madeira você vai cavando e vai tirando com a mão. Para fazer um trabalho desse, teria que ter ferramentas de mão, uma pá de pedreiro, por exemplo. Mesmo porque, não haveria espaço para uma picareta”, explicou.
Em sua análise, o engenheiro considerou que três pessoas seriam necessárias só para se dedicar ao trabalho no túnel. “Uma seria para cavá-lo, outra, para passar a terra e outra, para carregá-la. Agora, é claro que quanto mais pessoas, melhor, em questão de rapidez”.
Quanto ao tempo de trabalho para a construção, ele estabeleceu uma “condição ideal de trabalho”, no qual três trabalhadores devidamente equipados, trabalhando oito horas por dia, o tempo para a construção seria de 184 horas. “Trabalhando sem parar, daria uma média de 7 dias e meio para construção do túnel”, analisou.
Feita outra simulação, levando em conta os mesmo fatores de pessoal e modificando o tempo trabalhado para uma média de 8h por dia, é possível dizer que o túnel levaria 23 dias para ser construído. Em outra simulação, Rodrigo Ávila calculou que eles trabalhariam 20 horas por dia, “levando em consideração que eles não fazem muitas coisas durante o dia”, eles levariam 12 dias para concluir a obra.
Na simulação feita com as informações repassadas pelo setor de inteligência da Polícia Militar, dando conta de mais ou menos três meses que eles estariam trabalhando na obra, Rodrigo Ávila fez o cálculo e afirmou que somente com três horas de trabalho por dia seria possível concluir a obra. “Imaginando também que os presos precisavam estar presentes todas as vezes que as chamadas eram feitas, tudo isso demandava organização, tudo isso mostra o quão impressionante foi o nível de trabalho qualificado que foi usado na obra”, frisou.