Haitianos ingressam cada vez no mercado de trabalho informal roraimense. Sem carteira assinada, trabalhando à margem da lei trabalhista, eles também são alvos de preconceito e racismo. A dificuldade maior é regularizar a documentação para que os estrangeiros consigam tirar a Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS). É o caso de Colin José, de 30 anos, que chegou a Boa Vista no ano passado e hoje trabalha vendendo picolé pelas ruas da cidade. Após o terremoto que devastou seu país, em 2010, ele teve que buscar meios para sobreviver e veio com mais sete a Roraima. Lembrou da difícil viagem até chegar aqui. Passou fome e frio, mas nunca desistiu dos seus sonhos: de trabalhar e ganhar dinheiro para mandar aos familiares.
“Quando cheguei aqui, demorou um pouco para eu conseguir emprego, mas alguns amigos me ajudaram. Hoje trabalho vendendo picolé para uma sorveteria na zona Oeste. Ganho pouco, mas já dá para comer. E já estou até juntando dinheiro para mandar para a minha família”, disse.
Colin José vende uma média de 80 picolés por dia, a R$ 1 cada. Seu lucro é de R$ 15,00. Trabalha de manhã, à tarde e só para ao anoitecer, quando retorna à sorveteria para acertar com o patrão. Entre as dificuldades, o haitiano reclama das hostilidades sofridas. “Já fui xingado e me mandaram voltar para o meu país. Um homem me esculhambou e disse que aqui já tinha preto demais. Foi preconceito, racismo, mas levantei a cabeça e segui empurrando meu carrinho de picolé. Tenho fé em Deus que vou vencer”.
O haitiano mora no bairro Jardim Equatorial, zona Oeste, em uma casa alugada. O sonho dele é trazer a família para Roraima, mas quer fazer tudo dentro da lei. “Por isso estou correndo atrás para regularizar minha documentação. Quando estiver trabalhando assegurado por lei, aí minha família vem, se Deus quiser”.
DOCUMENTOS – Para regularizar a situação no Brasil há duas situações. Para os haitianos que obtiveram visto permanente na Embaixada do Brasil em Porto Príncipe, ele deve se dirigir ao setor de imigração da Polícia Federal assim que chegar ao Brasil para registrar-se e fazer o pedido de Carteira de Identidade de Estrangeiro.
Após o registro na PF, o haitiano estará apto a retirar seu documento para trabalho: a Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS), nas agências credenciadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). De posse da CTPS, ele já poderá trabalhar em qualquer entidade empregadora em igualdade de condições com os brasileiros.
Para os haitianos que ingressaram pela fronteira terrestre e solicitaram refúgio no Brasil, que é o caso da grande maioria, o haitiano deve procurar a sede da Polícia Federal para ser orientado. Ele não será extraditado porque o Governo Brasileiro, por meio do Conselho Nacional de Imigração (CNIg), decidiu autorizar a permanência por razões humanitárias. (AJ)