O alto nível de mercúrio entre os povos das etnias Yanomami e Ye’kuana já foi apontado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que divulgou estudo, no inicio do ano, comprovando a contaminação através da ingestão de peixes que provocaram sérios problemas de saúde nos indígenas, principalmente mulheres e crianças. O nível de mercúrio nas pessoas estudadas chegou a 92,3%, conforme a pesquisa. Em entrevista à Folha, à época, o líder Yanomami Davi Kopenawa afirmou que o garimpo ilegal praticado dentro da terra indígena é o principal responsável pela contaminação.
O professor do Curso de Geologia da Universidade Federal de Roraima (UFRR), Wladimir Souza, fez um alerta de que essa contaminação já pode estar chegando à população não indígena através dos peixes contaminados próximos a garimpos, como também pelos lixões a céu aberto e sem critérios de uso. “Já é uma preocupação real. Temos que ter fiscalização mais efetiva dos órgãos ambientais, no uso indiscriminado de mercúrio, principalmente nos garimpos ilegais nos nossos rios e também conscientização de uso dos lixões, devido ao mercúrio existente em lâmpadas, por exemplo”, disse.
Embora tenha afirmado que não exista ainda um estudo sobre a real situação dos rios de Roraima, devido à complexidade de localizar o mercúrio, Souza disse que os mais contaminados são os rios Uiraricoera e Mucajaí, pela comprovação de garimpo em suas margens. Ele alertou para a necessidade de saber a procedência do pescado que colocamos à mesa.
Para ele, o mercúrio é um mal silencioso e invisível que, aos poucos, está chegando próximo às pessoas. “É complicado fazer um estudo sobre a presença do mercúrio na água, pois ele não fica submerso. Mesmo fazendo a pesquisa, ele não será acusado, pois é um metal pesado e, em contato com a água, vai direto para o fundo do rio”, disse.
Ele explicou que, justamente por ir direto para o fundo do rio, o mercúrio se junta aos sedimentos que são ingeridos facilmente pelos peixes e, dessa forma, chega à nossa cadeia alimentar. “Ao comer esse mercúrio, ele entra na cadeia alimentar de um peixe para outro até chegar à nossa mesa. Uma vez ingerido, esse metal adere ao tecido adiposo e não é expelido. Ataca o sistema nervoso central e provoca várias doenças, podendo afetar órgãos vitais, como pulmões e rins das pessoas. Então, temos que ao menos procurar saber a procedência desse peixe, se não é de regiões próximas a garimpos”, frisou.
Entre as ações que devem ser feitas para evitar a ingestão de mercúrio, Wladimir Souza disse que aumentar a fiscalização e o combate ao garimpo clandestino, maior responsável por jogar o metal nos rios de Roraima, seria o ideal. “O mercúrio é um dos maiores e piores problemas que temos nos rios da Amazônia, e isso precisa ser combatido o quanto antes. Mas o mercúrio não é só do garimpo, vem também dos lixões, principalmente das lâmpadas que trazem uma pequena quantidade de mercúrio e contamina o lençol freático. Temos que ter essa preocupação em cobrar fiscalização dos órgãos públicos”, frisou. (R.R)