A família do adolescente de 14 anos que morreu esta semana, vítima de raiva humana, em Roraima, voltou a procurar a Folha para anunciar que entrará com uma ação contra o Governo do Estado e a médica que realizou os primeiros atendimentos ao paciente, na Policlínica Cosme e Silva, no bairro Pintolândia, zona Oeste, no dia em que ele foi mordido pelo filhote de gato que o infectou.
De acordo com os familiares, a morte do garoto foi causada pela negligência por parte da médica da Policlínica, que demorou em prestar o atendimento e prescreveu apenas a vacina antitetânica e dipirona, conforme o prontuário obtido com exclusividade pela Folha.
Segundo o padrasto do adolescente, José Maria Nunes, a família não recebeu nenhum tipo de orientação por parte da Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) mesmo após a confirmação do caso. “Desde o momento em que o quadro da criança se agravou, pois não sabíamos a gravidade do caso, não tivemos nenhuma orientação para saber se poderia se complicar o quadro dele. Primeiro que, logo no atendimento inicial, fizeram tudo errado. Eu me sinto como se tivesse levado o meu filho para a morte”, lamentou.
O irmão da vítima, Samuel Santana, também reclamou que a família não foi procurada pelos secretários de Saúde nem ao menos para orientá-la sobre a necessidade de imunizar a criança contra a raiva. “Ninguém veio falar comigo, não prestaram nenhum tipo de solidariedade, não ligaram para informar que o caso era grave, não vacinaram ninguém da família. Tinham que ter dado uma explicação, mas simplesmente disseram que meu irmão havia falecido e pronto”, afirmou.
Conforme o atestado de óbito, o adolescente morreu por disfunção múltipla dos órgãos e hipertensão intracraniana causados pela doença. “No dia do velório, avisaram a funerária que o caixão tinha que ficar fechado, mas não tiveram o respeito de ligar para nós. O secretário disse que iria falar com a gente, mas, até agora, ninguém veio”, reclamou o irmão da vítima.
Conforme ele, pertences pessoais do adolescente, que foram comprados pela família durante a internação no Hospital Geral de Roraima (HGR), foram levados sem autorização. “A Vigilância Sanitária levou travesseiros e outros pertences para incinerar, mas não entraram em contato com a gente para explicar o motivo. Tivemos custos para comprar aquilo e ficamos sabendo por terceiros”, disse.
A família informou que já acionou um advogado para entrar com a ação. “Vamos entrar com um processo contra o governo e contra a médica, porque houve irresponsabilidade e as pessoas que erraram devem ser responsabilizadas pelo erro. É um absurdo, porque ninguém teve a sensibilidade de falar nada para nós. Já falamos com o advogado e vamos acionar o Ministério Público também”, frisou Samuel.
GOVERNO – Em nota, o Governo do Estado informou que, ao chegar ao HGR, o adolescente que contraiu raiva humana foi prontamente atendido e, em 30 minutos, encaminhado para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI), onde todo o suporte necessário lhe foi dado.
Ressaltou que foi aberta uma sindicância para apurar a suposta negligência no atendimento prestado na Policlínica Cosme e Silva. “O resultado será divulgado em até 30 dias. Caso seja detectada alguma irregularidade, as medidas cabíveis serão tomadas”, frisou. (L.G.C)