Os feirantes e consumidores da Feira do Produtor, localizada no bairro São Vicente, zona Sul, estão preocupados com a decisão judicial que mandou interditar o local, que é um dos principais mercados de Boa Vista. A preocupação é quanto a possíveis prejuízos financeiros e riscos à única garantia de renda para muitos que lá comercializam frutas, verduras e outros produtos.
Até ontem o local funcionava normalmente e os consumidores que circulavam entre as bancas ressaltaram a importância da feira como destino de quem procura por produtos com preços mais baratos. A Justiça determinou que a Secretaria Estadual de Agricultura Pecuária e Abastecimento (Seapa) feche a feira no prazo de cinco dias, a contar de segunda-feira, quando foi feita a notificação judicial.
Tanto os feirantes como os consumidores alegam que os problemas que motivaram a interdição não são na parte interna da feira, mas sim na rua Ricardo Fróes, que fica ao lado. “A feira não tem problema quanto à limpeza ou estrutura física. O problema é a lama empossada na rua, causando mau cheiro, atraindo moscas e insetos”, disse o feirante Naldo Cunha Ribeiro, 37. Outro feirante, Paulo Henrique, 19, que tem dois filhos, disse que a preocupação é quanto ao sustento da família. “É daqui que a gente tira o nosso sustento”, comentou.
O autônomo Ozineto Pereira da Silva, 56, que frequenta a feira há anos, lembrou da tradição e a importância do local para quem quer adquirir produtos cultivados em Roraima e com preços mais baixos. “A decisão é um equívoco. O problema são a sujeira e o mau cheiro na rua. Aqui é tradição, é o dia a dia de todos. Isso tem que ser revisto”, protestou o consumidor.
A feirante Silvênia Silva, 35, reclama que os trabalhadores não foram consultados sobre a decisão. “Os problemas até existem, mas não é motivo para tanto, porque vivemos de nossas vendas”, disse. “Se eles fecharem a feira, vai gerar problemas, principalmente para mim, que faço tratamento de saúde e preciso comprar remédios constantemente”, reclamou a outra feirante, Luzia Alves Ferreira, 57, ao lembrar que água empossada na rua ao lado feira pode atrair mosquitos e doenças.
DECISÃO – A decisão de interditar a Feira do Produtor foi tomada pela Justiça estadual com base no descumprimento ao Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), firmado entre a Secretaria Estadual de Agricultura (Seapa) e o Ministério Público do Estado de Roraima (MPRR), que previa, desde 2002, a reparação de irregularidades na parte estrutural e sanitária da feira.
O Governo de Roraima informou, por meio de nota, que a Seapa ainda não foi comunicada oficialmente sobre a decisão judicial, que tramita há 14 anos. O secretário estadual de Agricultura, Gilzimar Barbosa, informou que melhorias são realizadas desde 2015 e que fiscalização sanitária realiza coleta diária de resíduos, manutenção de banheiros e dedetização dos espaços onde os produtos são comercializados. “O Estado vai estruturar o estacionamento com instalação de placas de forma que a área contemple os idosos e pessoas com deficiência”, frisou.
MP – A Folha entrou em contato, via e-mail, com a Assessoria de Comunicação do Ministério Público, mas não houve retorno. No entanto, em matéria publicada ontem, na Folha, edição 7868, o MP manifestou preocupação com a situação dos feirantes e consumidores, e informou que se coloca à disposição do Estado para juntos buscarem uma solução.
PREFEITURA – A Prefeitura Municipal de Boa Vista informou, em nota, que o problema da rua citado pelos feirantes é devido ao entupimento da rede de esgoto sanitário de responsabilidade da Companhia de Águas e Esgotos de Roraima (Caer). A Folha entrou em contato com a Caer, mas não houve resposta até o fechamento desta matéria.