Reclamações relacionadas à falta de materiais no Hospital Geral de Roraima (HGR) continuam. Na manhã de ontem, a vendedora Bárbara Diniz, 39, denunciou à Folha que o problema tem afetado a realização de cirurgias naquela que é considerada a maior unidade hospitalar no Estado. Ela disse que deu entrada no hospital no dia 26 de janeiro, após sofrer um acidente de moto, quando sofreu traumatismo craniano e deslocamento de clavícula, sendo necessária a realização de cirurgia.
“Na época, fui removida para o HGR, fiquei internada por um tempo devido ao traumatismo craniano e um deslocamento de clavícula. Fizeram a cirurgia da minha cabeça e não realizaram o da clavícula devido à complexidade do outro procedimento. Depois de 15 dias, me deram alta e pediram que eu retornasse depois para fazer a outra cirurgia”, afirmou.
Após o período que ficou internada, recuperando-se da cirurgia da cabeça, Bárbara foi liberada para voltar para casa e aguardar retorno para a realização do procedimento cirúrgico da clavícula. No retorno, a vendedora ainda chegou a ficar internada por alguns dias, mas teve de ser liberada novamente devido à falta dos materiais para a realização da operação.
“Fui internada novamente no hospital, ficando lá por uma semana. A equipe fez os exames novamente, mas eles disseram que me dariam alta novamente porque os materiais básicos da unidade já estavam em falta. Até mesmo para tomar medicação o meu namorado teve que comprar as escalpes, que são aquelas torneirinhas que controlam o fluxo do soro, porque nem isso tinha por lá”, frisou.
Para não comprometer ainda mais seu estado de saúde, o médico que atendeu Bárbara recomendou que ela passasse a fazer fisioterapia pelo Hospital Coronel Mota. Lá, ela recebeu toda a atenção necessária. Apesar disso, foi alertada que o problema só poderia ser resolvido com a realização de cirurgia. Ela retornou ao HGR e novamente não obteve sucesso.
“No caso, não é o material para a realização para a cirurgia, mas sim os itens mais básicos, que seriam gaze, esparadrapo, algodão e máscara. Eu pedi a relação do material para comprar, porque já não aguento mais estar nessa situação. Infelizmente, uma coisa está puxando a outra. O meu cotovelo já está duro, faço fisioterapia para não perder os movimentos e simplesmente não consigo uma cirurgia. Eu temo que essa demora possa me prejudicar”, frisou.
Por orientação do médico ortopedista, a vendedora tentará internação novamente nesta quinta-feira, 02, para tentar a cirurgia. “Eu sou uma cidadã que pago meus impostos, estou com o braço imobilizado, doendo, tendo que depender em tudo, já que até impossibilitada estou de dirigir para ir ao trabalho. Infelizmente, não consigo uma cirurgia para resolver meu problema porque o hospital não tem material”, reforçou.
GOVERNO – Em nota, o Governo do Estado informou que, desde o dia 23 passado, as cirurgias eletivas no HGR foram retomadas, priorizando os pacientes das áreas de ortopedia e oncologia. Os procedimentos de urgência não sofreram alteração, enquanto os procedimentos agendáveis, de pessoas que não correm risco iminente de morte, foram contingenciados, devido à empresa que venceu a licitação para fornecimento da maior parte dos itens não cumpriu o contrato, conforme frisou.
“Diante deste fato, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) realizou novo pregão eletrônico e em tempo recorde conseguiu restabelecer o estoque de materiais, possibilitando a retomada das cirurgias. Os pacientes estão sendo operados de acordo com o grau de urgência e conforme a especificidade de cada caso. Na situação específica da paciente Bárbara Diniz, a direção do Hospital Geral de Roraima (HGR) irá avaliar a paciente para entender melhor o caso e providenciar uma solução o quanto antes”, afirmou.
A nota ressalta ainda que desde 2015 as cirurgias na rede estadual de saúde ganharam uma atenção especial e o resultado foi um crescimento significativo na quantidade de procedimentos realizados, o que fez diminuir o tempo de espera dos pacientes. “Em 2015 foram quase 30% cirurgias a mais que no ano anterior. Neste ano, no primeiro trimestre, já foram realizadas 1.946 cirurgias, um número 36% maior que no mesmo período do ano anterior”, complementou.
Ainda segundo o governo, a especialidade principal responsável pelo aumento no número de cirurgias foi a ortopedia, em que o aumento foi de 76% em 2015 em relação ao ano anterior. Somente nos três primeiros meses deste ano foram realizadas quase 800 cirurgias na especialidade, 64% a mais que no mesmo período do ano passado e quase o dobro do primeiro trimestre de 2014.
Segundo a Sesau, estes avanços foram possíveis graças à implantação de mutirões em algumas especialidades e da criação do terceiro turno de cirurgias no HGR. Atualmente, o HGR dispõe de quatro centros cirúrgicos preparados para atender à demanda. (M.L)