Um avião monomotor de uso particular que transportava mantimentos caiu na manhã da última quinta-feira, 02, numa região de mata fechada, depois do Rio Mucajaí, dentro do território do município de Alto Alegre, na região Centro-Oeste de Roraima. O acidente causou a morte do piloto comercial Roberto Fernandes da Silva, de 56 anos, que estava sozinho na aeronave no momento da queda. Um dos filhos confirmou que falha mecânica no motor foi o motivo da perda de controle da aeronave. A família não relatou qual seria o destino final do avião.
O filho da vítima, Alberto Fernandes, disse que levou o pai ao aeroporto na manhã da quinta-feira e que o pai estava bem e não aparentava cansaço ou qualquer anormalidade. “Ele estava muito alegre naquela manhã, como sempre era. Quando o deixei no aeroporto, ele desceu do carro e a gente se despediu normalmente, eram 07h30 e o avião caiu por volta das 08h30, pouco tempo depois da decolagem”, ressaltou.
Somente no último sábado, dia 04, os destroços do avião e o corpo da vítima foram localizados, dois dias após o piloto ter caído e não ter dado mais sinais de vida. O filho mais velho do piloto, o empresário Roberto Fernandes Júnior contou que o pai já havia sofrido outros dois acidentes, no entanto, conseguiu sobreviver. “Das outras duas vezes ele fazia fumaça na mata, então a gente encontrava ele por causa disso. Dessa vez não teve fumaça e eu imaginei que ele estivesse vivo, mas que estava bastante ferido e não conseguiu acender o fogo”, relatou.
Roberto Júnior também afirmou que tinha preocupações com a profissão exercida pelo pai, especialmente porque nem todos os aviões estão em condições favoráveis para voo. “Eu me preocupava demais e tinha muito medo de acontecer alguma coisa. Eu sempre pedia para ele não pilotar qualquer avião, mas não tinha jeito, ele era apaixonado e se ele entendesse que o avião estava “lisinho” e tinha como voar, ele voava”, explicou.
Com mais de 40 anos de contato direto com os aviões, inclusive como mecânico, os filhos revelaram que Roberto era experiente e que a falha do motor foi muito grave para que ele não tivesse como reverter o voo ou pousar de forma segura. “Meu pai era do tipo de piloto que dizia que o avião não o controlava, mas que ele controlava o avião. Ele estudava muito e era especialista em aviação. Conhecia desde a mecânica aos procedimentos técnicos que deveriam ser aplicados durante um voo”, destacou Júnior.
Peritos do Instituto Médico Legal (IML) recolheram o corpo do piloto, mas não foram responsáveis pela remoção até Boa Vista. Após a realização dos exames, que apontaram a causa da morte como traumatismo craniano grave, o corpo foi liberado para a família.
TRAJETÓRIA – Na manhã de ontem, durante cerimônia fúnebre, os filhos do piloto Roberto Fernandes da Silva relataram à Folha a importância do ofício do pai e a relevante contribuição que deu ao Estado.
De acordo o filho mais velho, Roberto era conhecido em Roraima e nos demais estados por outros pilotos apenas como “Robertinho” e que se dedicava inteiramente à aviação. “Ele era apaixonado por avião e morreu fazendo o que mais gostava de fazer. Tenha certeza de que ele foi muito feliz até o último dia de vida”, afirmou Roberto Júnior.
Os filhos disseram que o próprio pai contava que aos 14 anos teve o primeiro contato com um avião na cidade de Campina Verde (MG), região do Triângulo Mineiro, quando entrou em uma oficina mecânica de aviões e começou a trabalhar. Logo estabeleceu uma boa relação com os mecânicos mais experientes, assim como com os pilotos. Depois que as aeronaves eram consertadas, os testes eram realizados, e algumas vezes o então adolescente foi convidado para participar dos voos.
“Os mecânicos começaram a pagar os consertos das aeronaves com voos, então ele trabalhava e os mecânicos perguntavam se ele queria fazer um voo. Ele entrava, foi aprendendo e depois de um tempo ele já começou a voar e não parou mais. Meu avô morreu quando ele tinha 12 anos, e, naquela época, como meu pai era o mais velho, teve que ajudar a criar todos os irmãos. Ele teve uma vida só de trabalho”, acrescentou Júnior.
A família afirmou que Roberto tinha 40 anos de aviação e que ainda não estava cansado. “Semana passada eu disse, em uma conversa que tivemos, que ele voava demais em avião velho, tudo o que aparecia ele queria voar, porque a paixão era tão grande que ele não determinava se o avião iria cair, ele queria voar, embora ele falasse que tinha preocupação com o estado do avião. Ele era mecânico e sabia quando o avião estava bom. Quando falamos de aviação em Roraima, somente uns dois pilotos fazem o que ele fazia e sabem o que ele sabia”, destacou o filho.
O piloto também dedicava parte de seu tempo para ensinar os novos pilotos que tinham conseguido o brevê (permissão para voar). “Ninguém tem paciência para ensinar a voar, mas ele fazia questão de entrar no avião com os novos pilotos que tinham concluído o curso de piloto e precisavam de horas de voo para ganhar experiência. Quando ele percebia que o iniciante não tinha perfil para pilotar automaticamente, ele deixava de dar as aulas porque tinha medo que o pior acontecesse. Meu pai sempre se preocupou muito com a vida dos outros”, destacou.
Os filhos relembraram que o pai já havia sofrido outros acidentes, mas que sempre conseguia sobreviver às quedas na mata. “No último acidente, antes do fatal, ele fraturou uma das vértebras da coluna e o médico pediu que ele repousasse para se recuperar do trauma e que tinha sorte de não estar paralítico, mas cinco dias depois ele já estava dentro do avião e trabalhando”, confirmou. (J.B)