Em mais uma tumultuada sessão na Câmara Municipal de Boa Vista para votação do polêmico Projeto de Lei 090/2015, que concede gratuidade no transporte público aos estudantes da rede municipal de ensino, o chamado passe-livre, manifestantes contrários e a favor da aprovação lotaram ontem o plenário da Casa. Sob gritos de protestos e bate-boca, a votação foi adiada pela quarta vez mediante alegação de que não houve tempo hábil para que as emendas ao projeto fossem analisadas. Ainda não há previsão de quando ocorrerá uma nova votação.
Entre os que se posicionam contra a gratuidade estão os trabalhadores do transporte coletivo de Boa Vista. Eles paralisaram 70% da frota, das 8h às 10h, para acompanhar a sessão. Cerca de 50 coletivos ficaram estacionados nas imediações da Câmara Municipal, enquanto os usuários aguardavam nas paradas de ônibus, sem saber o que acontecia.
A categoria teme que a gratuidade destinada aos estudantes provoque queda na arrecadação das empresas que prestam serviço de transporte urbano, o que poderia ocasionar demissões. Taxistas de lotação também estiveram presentes e se colocaram contrários à aprovação. Do outro lado do plenário, alunos defendiam o passe-livre, enquanto as discussões se acaloraram entre os vereadores.
“Hoje, os estudantes representam boa parte dos passageiros e já pagam metade da passagem. A atividade econômica das empresas é transportar pessoas e, com a gratuidade total, a arrecadação pode diminuir e os reflexos negativos atingirem nós, trabalhadores. Tivemos assembleia com os representantes das empresas, e eles nos mostraram gráficos com informações que indicam a possibilidade de demissões para aproximadamente 40% dos trabalhadores, caso o projeto seja aprovado”, disse o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Coletivos Urbanos e Rodoviários (Sintrur), Marinaldo Brito Costa.
Taxistas de lotação também realizaram uma paralisação próxima ao Terminal Urbano de Boa Vista, no Centro, com intuito de chamar a atenção dos demais motoristas para participarem da sessão. Eles reforçaram o coro contrário a gratuidade, pois alegam que a lei obrigará a categoria a conceder espaços gratuitos durante as corridas.
“Não temos condições de oferecer lugares nos veículos gratuitamente, pois só possuem espaço para quatro passageiros. Será uma queda acentuada no ganho dos motoristas se estes poucos lugares forem periodicamente ocupados por alunos”, protestou o vice-presidente do Sindicato dos Taxistas e Condutores Autônomos de Veículos de Roraima (Sintacarver/RR), Sales de Lima.
ESTUDANTES – O vice-presidente da Associação dos Estudantes de Roraima (Assoer), Wilson Júnior, disse que o passe-livre é um projeto que já funciona em outros estados. “A categoria do transporte coletivo acha que haverá prejuízos para as empresas, no entanto, é o contrário. Haverá incentivos fiscais, ocasionando melhor rendimento financeiro, garantindo e gerando mais empregos. Em relação aos taxistas, o projeto não abrange a eles, por isso não sabemos por que são contrários”, disse.
O estudante Lucas Gomes, 16, defende a gratuidade ao dizer que não se trata de uma regalia, e sim de um direito necessário. “Muitas famílias possuem cinco, seis filhos, e é muito difícil para os pais pagarem essas passagens, mesmo sendo metade do valor. No meu caso, pago mensalmente R$ 150,00 de passagem. Fico imaginado esse valor multiplicado para mais filhos”, comentou.
EMPRESAS – A Folha entrou em contato com as empresas Viação Cidade Boa Vista e Cidade de Boa Vista Transportes, responsáveis pelo transporte coletivo na Capital, mas preferiram não se manifestar. (A.D)