O início do nadador Flávio Monteiro em sua carreira de esportista não foi dos melhores. Quando criança, enfrentou problemas com o peso, chegando a apresentar obesidade grau 1, que é considerada uma doença. Sua família chegou a matriculá-lo em escolinhas de futebol e de judô, mas nenhuma das modalidades o ajudou a perder peso.
No judô, sempre era certa a medalha de ouro. Mas não por uma questão técnica. Segundo o pai Silvio Monteiro, Flávio não tinha concorrentes para enfrentá-lo, e os combates nem sequer eram realizados. “Terminava em WO.”, disse.
Foi então que a família colocou o atleta nas aulas de natação do Iate Clube. Por lá, nadou de 2004 a 2005, até ser treinado pelo próprio pai, que é professor de Educação Física. Silvio Monteiro conta que a primeira prova de Flávio foi um fracasso, devido ao peso e ao pouco tempo de treinamento. O atleta ficou em último lugar numa competição de caça-talentos. “Entre os piores, ele era o pior”, lembrou.
Mas essa fase foi superada pelos ótimos resultados que vieram, como a primeira medalha (bronze) na prova dos 400 metros livres em um torneio da então Federação Aquática de Roraima (FAR), em 2005. Em 2006, com apenas dois anos de treinos, Flávio foi ao Rio de Janeiro para disputar a Travessia dos Fortes, uma das maratonas aquáticas mais tradicionais do País.
A intenção do atleta, que tinha 13 anos, era apenas competir. E nessa “brincadeira”, que reuniu cerca de 4 mil nadadores, Flávio Monteiro terminou em 20º lugar na categoria Infantil, e em 30º na classificação geral. Foi então que o pai Silvio Monteiro viu o talento de seu filho para a modalidade.
De lá para cá, vieram várias conquistas a nível estadual e nacional, defendendo vários times locais, até se tornar o maior nome das maratonas aquáticas de Roraima. O feito mais importante de sua carreira foi o título da Copa Brasil de 2014 na categoria Sênior (20 a 24 anos).
Hoje, com 23 anos, é atleta do Sindicato dos Policiais Civis do Ex-Território de Roraima (Sinpol), e lidera o ranking Sênior na Copa Brasil deste ano, com 138 pontos, 32 a frente do segundo colocado. Das sete etapas possíveis, já ganhou duas. Está a três etapas de levar o bicampeonato em sua categoria.
Além da vida esportiva, Flávio Monteiro se dedica ao curso de Matemática da Universidade Federal de Roraima. Está no terceiro semestre de sua graduação, iniciada em 2014.
Convocado para ser um dos 155 condutores da tocha olímpica em Boa Vista, neste sábado, dia 18, Flávio Monteiro diz que merece por representar bem Roraima pelo País. “Mereço porque eu tive mais resultados, eu mostrei a bandeira de Roraima por outros estados que competi, e que eu tenho mais qualificação. Será uma honra carregar a tocha olímpica”, disse o nadador.
E o pai argumenta o mérito citando os resultados do atleta, que nasceu no Rio de Janeiro, mas que se considera roraimense. “Desde 2010 ele vem se destacando a nível nacional. Quem acompanha a Folha de Boa Vista, os telejornais, as reportagens esportivas, e quem é do meio do esporte, sabe que o Flávio é medalhista da Travessia dos Fortes, é campeão da travessia Rei do Mar em 2012, que ele foi quarto lugar no Campeonato Brasileiro lá em Juazeiro, na Bahia, em 2013, que foi campeão da Copa Brasil de 2014. É um feito ímpar para um atleta de maratona aquática”, destacou.
“Apesar de ser um atleta que mora longe do mar, ele se empenha, treina, busca as técnicas melhores para poder vencer esses desafios e sempre conseguir superá-los, tanto na vida pessoal dele, quanto na vida de atleta. Como pai, posso dizer que ele é um excelente filho, excelente aluno – foi aluno do IFRR (Instituto Federal de Roraima) durante quatro anos, que se não é a melhor, é uma das melhores escolas de Boa Vista. É aluno da Universidade Federal de Roraima no curso de Matemática, ou seja, excelente aluno, excelente filho, excelente atleta, e é reconhecido hoje pela maior autoridade do esporte nacional (Luiz Lima, novo secretário de alto rendimento do Ministério do Esporte, que elogiou o atleta na semana passada, no Rio de Janeiro)”, acrescentou Silvio.
CURIOSIDADES – Flávio nasceu no Rio de Janeiro em 29 de dezembro de 1992, dia em que Fernando Collor de Mello renunciou à presidência da República. “Eu estava lá (na maternidade), de olho na televisão, e de olho no nascimento”, lembra Silvio Monteiro.
Quando Flávio tinha apenas seis anos de idade, seus pais se viram em meio à preocupação com a violência no Rio, e resolveram deixar a cidade. E a oportunidade de vir a Roraima surgiu quando a mãe de Flávio recebeu uma proposta de emprego no Estado. O ano era 1998.
Foi uma das decisões mais difíceis do casal Silvio e Rosanea Monteiro. “Apesar de a gente ter nascido lá e nossos parentes serem de lá, a nossa casa é aqui (em Roraima). Nós temos muito carinho, muito respeito por Roraima, porque é o lugar que escolhemos para viver, é um lugar que te dá oportunidade de criar os filhos próximos e que você está sempre em casa. Isso não tem preço. No Rio de Janeiro, você sai de manhã, só volta à noite. Lá, tudo é muito longe”, disse Silvio.