Polícia

Estuprador mantinha família em cárcere

Homem que estuprava sobrinha e estava foragido decidiu manter a família em cárcere privado para que não o denunciasse

Por volta das 16h de domingo, 19, a Polícia Civil do Município de Caracaraí, localizado a aproximadamente 150 quilômetros de Boa Vista, na região Centro-Sul do Estado, prendeu João Rodrigues Lopes, 47 anos, vulgarmente conhecido como “João Bem-Ti-Vi”, pelos crimes de sequestro, cárcere privado, estupro, tortura e ameaça. Ele estava foragido da Justiça e era investigado há cerca de 40 dias por abusar sexualmente da sobrinha, de 14 anos. A prisão aconteceu na Vicinal 07 da Vila do Roxinho, que fica no Município de Iracema, também na região Centro-Sul de Roraima.

Segundo o titular da Delegacia de Caracaraí, delegado Fernando Edson Olegário Gomes, o homem estuprava a sobrinha diante de seus filhos biológicos, todos crianças. “A vítima sofria de trombose, que afetou tanto a questão motora quanto psíquica. Mesmo assim, ela contou os detalhes do crime, afirmando que sentia dores na barriga. Fizemos o exame de corpo de delito, que confirmou o abuso sexual. Então, essa menina não tinha paz”, destacou.

Antes de ser vítima do tio, a adolescente era abusada pelo padrasto, que foi preso há mais de um mês. O caso foi noticiado pela Folha. “Era estuprada na casa dela pelo padrasto e, quando a mãe saía para resolver problemas na cidade, a deixava na casa da tia, onde o tio a estuprava. Esse tio, além de estuprar a sobrinha, praticava o ato abominável na frente dos próprios filhos, primos da vítima, que têm idade entre 3 e 11 anos”, explicou Olegário.

O desdobramento do caso começou a ser feito há 40 dias. Naquela ocasião, a polícia foi procurada pela mãe da adolescente, que relatou os constantes abusos sofridos pela filha, tanto pelo padrasto como pelo tio “Bem-Ti-Vi”. “Face à questão desse relato, representei pela prisão preventiva dos dois acusados, padrasto e tio. O juiz concedeu e aí nós cumprimos a prisão preventiva do padrasto pelo estupro, mas o tio conseguiu fugir. Nesse ínterim de aproximadamente 30 dias, desde a prisão do padrasto, ele [foragido] apareceu no sítio, em Caracaraí, onde a família estava morando, e sequestrou a esposa e os filhos sob ameaça de que, se eles não fossem com ele, iria matar todo mundo naquele momento”, enfatizou o delegado.

A família foi levada para a Vicinal 07 do Roxinho, que fica no Município de Iracema. Todos viviam sob constante ameaça, passando fome, inclusive as crianças relataram que havia dias que não comiam nada. Na tarde do sábado, 18, a esposa do acusado conseguiu ir para Caracaraí, porque precisava sacar um benefício social na agência bancária, deixando os filhos no sítio com o infrator.

“Então ele autorizou a ida da mulher à sede de Caracaraí, mas disse que as crianças ficariam com ele no sítio e que se porventura ela denunciasse, mataria todos. Ele exigiu que a mulher não falasse com ninguém, mas ela já estava numa situação de desespero, procurou a polícia na delegacia. Já estávamos à procura desse meliante porque eu já havia pedido a prisão preventiva dele. Então, ela nos mostrou onde ficava o local onde as crianças estavam sendo mantidas em cativeiro”, salientou o delegado de Caracaraí.

Assim que chegaram ao sítio, os policiais se depararam com o cativeiro, com o infrator e deram voz de prisão a ele, libertando a família. Não houve reação por parte do acusado, que foi pego de surpresa pela equipe policial. “Nas empreitadas que fizemos para prendê-lo, ele sempre fugia entrando na mata. Por ser serrador, conhece muito bem a região. Então, quando ouvia o barulho dos carros, se embrenhava na mata”, acrescentou Olegário.

Depois de ouvido no 5o Distrito Policial, onde o Auto de Prisão em Flagrante (APF) foi lavrado, o acusado foi encaminhado para a Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc), onde ficará à disposição da justiça.

O receio de que o acusado consiga fugir da Penitenciária, tendo em vista as sucessivas fugas dos últimos meses ou que seja liberado pela Justiça por algum motivo, preocupa o delegado. “Na verdade, temos o receio de que essas pessoas fujam ou sejam libertadas em pouco tempo e tentem matar as vítimas. A preocupação é para saber se eles vão ficar na Penitenciária. Queremos que eles tenham o cuidado para deixar esse tipo de gente, de alta periculosidade, numa cela onde ele possam realmente ficar custodiados, porque é um absurdo se conseguirem fugir. As vítimas têm uma característica peculiar: ficam extremamente sensibilizadas e amedrontadas com a presença do meliante, porque eram violentadas dentro da casa, que é um lugar onde naturalmente procuramos segurança, ação repugnante realizada pelo homem da família que deveria dar o sustento e educação moral para os filhos”, ressaltou o delegado.  

PERFIL – A polícia observou que o provedor da casa geralmente é o abusador porque ele tem facilidade em manter as vítimas omissas, em alguns casos a própria mãe, que vive em extrema pobreza e que, temendo passar fome com os filhos, torna-se submissa a essas situações. “Essa mãe teve muita coragem de contar o que estava acontecendo. São crianças que, além de torturadas, estavam passando fome”, frisou. (J.B)