O número de índios em Boa Vista aumenta a cada ano, apesar de não haver dados oficiais dessa migração. Eles deixam suas terras por causa da precariedade dos serviços públicos e vêm à Capital em busca de melhores condições de vida. Nas feiras e esquinas movimentadas da cidade já virou cena comum ver índios vendendo água ou pedindo esmola.
Os índios vêm de quase todas as regiões de Roraima e até de países vizinhos. A agente em indigenismo, Mariana Lima da Silva, da Fundação Nacional do Índio (Funai), explicou que alguns fatores provocam a migração dos índios a centros urbanos, como a falta de educação e saúde, por exemplo.
“O que se observa também é uma crescente demanda por uma fonte de renda fixa, pois o índio não quer mais sobreviver apenas da agricultura de subsistência. Os jovens indígenas, principalmente, estão procurando outro estilo de vida, de consumo. E isso os traz ao meio urbano, onde arranjam um emprego para poder mudarem de vida”, observou.
Os Macuxi e Wapichana, segundo a agente, são os que mais deixam suas comunidades para arriscar uma vida melhor na cidade. Mariana observa ainda que não há necessariamente uma migração em Roraima, mas um movimento variado dos índios, que vêm à Capital trabalhar de segunda a sexta, mas voltam às suas comunidades nos finais de semana.
Ainda conforme a agente, os índios trabalham na construção civil ou na jardinagem e as índias são contratadas para o trabalho doméstico. “Muitos também vêm à cidade atrás de formação acadêmica e técnica, a maioria jovem. Querem uma educação que não têm em suas comunidades”, ressaltou.
Mariana disse que para esses casos, de educação e emprego, a Funai promove a acessibilidade do índio ao seu direito de cidadão, dando orientações e emitindo documentos necessários. Mas nos casos de índios que chegam a centros urbanos por causa do alcoolismo ou de conflitos com outras tribos, a Funai providencia o remanejamento deles para outra região longe dos conflitos, dos vícios.
O índio macuxi João Paulo Filho, de 29 anos, vendedor ambulante na Avenida das Guianas, no bairro 13 de Setembro, zona Sul, confirmou o que disse a agente indigenista da Funai. Há seis meses em Boa Vista, ele deixou a sua comunidade, Jacamim, no município do Bonfim, Nordeste de Roraima, para arriscar uma vida melhor na Capital.
“Lá não tem educação, não tem saúde, não tem emprego. Então, outros parentes vieram pra cá e conseguiram se estabelecer. Então, decidi vir também. O dinheiro que ganho com as vendas dá para meu sustento porque divido aluguel com mais dois parentes. Também já comecei a estudar”, comentou.
De calça jeans, óculos escuros, camiseta de manga e um boné de marca, João Paulo disse que não pretende voltar à sua comunidade tão cedo. “Aqui a gente tem chance de trabalhar e vencer. Lá, não. Não quero mais aquela vida, de roça. Aqui a gente se alimenta melhor, tem médico”, justificou.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) também não tem número da migração indígena em Roraima. O último Censo, de 2010, apenas aponta que o Estado tinha uma população indígena declarada de 55.922. Desses, 9.417 declararam morar fora de área indígena. (AJ)