Cotidiano

População corre risco com animais de rua

O Centro de Zoonoses do município de Boa Vista não recolhe mais animais soltos nas ruas e isso fez aumentar o número de cães e gatos perambulando pelos bairros da Capital. Cães e gatos abandonados nas ruas provocam acidentes de trânsito e, sem a devida vacinação, podem transmitir doenças. Os animais também rasgam sacos e espalham lixo.

No último final de semana, o autônomo Josemar Rodrigues, de 38 anos, foi parar no setor de trauma do Pronto Socorro Francisco Elesbão porque caiu de moto ao atropelar um cão. O acidente ocorreu na rua Dico Vieira, no bairro Caimbé, zona Oeste.

“Vinha devagar, mas não deu tempo de frear. O vira-lata surgiu do nada e correu para frente da moto. Bati, caí e quebrei o braço. Moradores me informaram que o cachorro era de rua, pois não tinha dono. É uma irresponsabilidade abandonar um animal. É um crime!”, reclamou Rodrigues.

Realmente é um crime. A pena prevista no artigo 32, da Lei de Crimes Ambientais, é de detenção de três meses a um ano e multa para quem maltrata ou abandona um animal doméstico. Já no Código Penal, o artigo 164 prevê detenção de 15 dias a seis meses, ou multa.

Além do risco de acidentes, os animais domésticos que não são vacinados podem transmitir várias doenças ao homem, chamadas de zoonoses. Entre elas: brucelose, escabiose (a popular sarna), giardíase, leishmaniose, leptospirose, micoses, toxoplasmose e raiva.

No dia 23 de maio deste ano, um adolescente de 14 anos morreu no Hospital Geral de Roraima após contrair raiva. Ele foi mordido por um gato e contraiu a doença. O animal também morreu semanas depois.

As donas de casa têm outra reclamação. Os cães rasgam os sacos atrás de comida e espalham o lixo pelas ruas e calçadas. “A gente tem que pendurar o saco para o bicho não alcançar. Tem muito vira-lata aqui na rua”, reclamou uma aposentada, moradora da rua S-15 do bairro Senador Hélio Campos, zona Oeste.

Em áreas comerciais, os animais de rua também são um tormento, principalmente para donos de restaurantes. É que o cheiro da comida atrai os cães, o que incomoda os clientes.

“A prefeitura deveria reativar a ‘carrocinha’ para tirar esses bichos da rua. Eles provocam acidentes e trazem risco à saúde pública”, alertou um proprietário de restaurante que preferiu não se identificar.

Na Universidade Federal de Roraima (UFRR), no bairro Aeroporto, zona Norte, acadêmicos e professores também reclamam do problema. Inúmeros cães e gatos abandonados ficam nas imediações do restaurante universitário. “Não sei como um ser humano abandona um animal desse jeito. É desumano!”, lamentou uma acadêmica de História.

Veterinário consultado pela Folha orientou donos de cães e gatos a darem uma dose de vacina óctupla ao animal que já estiver com 45 dias de vida, depois, a segunda dose após 30 dias, e a terceira dose, a antirrábica, com mais 30 dias. Assim, segundo o médico, o animal fica protegido.

“Algumas doenças podem ser transmitidas dos animais domésticos para os homens, por isso, protegendo seu animal, você também protege a sua saúde e a da sua família”, observou o veterinário.

CONTROLE – O Centro de Zoonoses da Prefeitura de Boa Vista trabalha com foco no controle e prevenção de doenças ou infecções causadas por animais e por isso não abriga animais de rua. Paralelo a isso, o trabalho para buscar um lar para os cães abandonados pode ser feito em parceria com Organizações não Governamentais (ONGs).

A carrocinha é uma prática extinta há muitos anos. Já existe uma Lei de Responsabilidade Ambiental que pune o abandono e os maus-tratos aos animais. Essa causa deve ser abraçada por governos e cidadãos, independentes da carga de deveres.

O Centro de Zoonoses do município disponibiliza a vacina antirrábica durante o ano inteiro, além de realizar campanhas de vacinação contra raiva na Capital. No total, nas últimas ações de vacinação em 2016, foram alcançados 2.077 animais, entre cães e gatos.

Quanto ao controle de doenças, se algum animal for verificado como um possível transmissor de doenças ou apresentar algum perigo à comunidade, é preciso entrar em contato com o Centro de Zoonoses ou através da central 156. A equipe fará a avaliação para verificar o risco que esse animal representa. (A.J)