O comércio nos semáforos de Boa Vista tem se tornado cada dia mais comum, com a recente ampliação da diversidade de produtos oferecidos. A venda de produtos alimentícios, como sucos, água de coco e castanhas e a limpeza nos vidros dos veículos deu espaço para o comércio de água mineral, refrigerantes, doces, frutas e até aparelhos de origem tecnológica, como carregadores de celular, cabos usb e pen drives.
A motivação para o crescimento do número de pessoas localizadas nos canteiros próximos aos sinais de trânsito se deve, em sua maioria, à crise econômica. Em pesquisa rápida realizada pela Folha nos locais mais conhecidos de venda de produtos, como nos cruzamentos da Avenida General Ataíde Teive com a Avenida Venezuela, no bairro Liberdade, dez entre dez entrevistados revelaram que o motivo das vendas de produtos tem o objetivo de garantir uma renda extra no fim do mês.
É o caso de três jovens mulheres, de idades entre 19 e 20 anos, que vendiam jujubas à R$ 1 no semáforo. O trio de amigas, que preferiu não se identificar, por motivos de segurança, relatou que são vizinhas e que decidiram se unir no comércio para obter uma renda maior em casa e para não estarem sem companhia nos sinais. A princípio, as mulheres fizeram várias tentativas de venda até decidirem por um só produto. “A gente fez testes para saber que saía muito. Vendemos outras coisas também, mas vimos que com a jujuba a gente conseguia mais. Já tentamos com empada, beijo de moça, e percebemos que com o doce a gente conseguiu alcançar mais o nosso objetivo”, disse uma das jovens.
Em um dia bom, o trio consegue a venda de quatro caixas com 30 unidades de jujuba, o que resulta em uma quantia de R$ 120 para cada. Em uma semana boa, é possível obter até R$ 400 ou R$ 500. “Nós viemos pela manhã, pelas 09h, 10h da manhã. Aí meio-dia a gente vai em casa, almoça e, às vezes, volta as 16h, horário que o trânsito está mais movimentado e também por causa do sol”, comentou.
A jovem também ressaltou que, durante suas vendas, é mais comum encontrar pessoas de outros países trabalhando nos sinais. “Dá para perceber que tem vindo muito venezuelano, por isso que está enchendo os sinais. É a única alternativa que eles têm. Eles não têm como abrir o próprio negócio”, avaliou.
Uma dupla de amigos de origem venezuelana, de 30 e 20 anos, também optou por se manter no anonimato, mas confirmou que o motivo de trabalhar com vendas nos sinais era por razão econômica. Em Roraima, há um mês e meio, os dois vendem carregadores de celular para produzir o sustento da família.
“Quando nós viemos para o Brasil, para poder trabalhar, em um trabalho normal, legal, é necessária uma documentação especial. Essa documentação é feita quando se finaliza o protocolo, são três meses necessariamente que tem que passar aqui para receber a documentação completa. Nesses três meses, temos que arranjar uma maneira de nos sustentar”, disse o jovem.
O homem também reclamou da atuação policial junto aos estrangeiros. “Eles não querem deixar a gente trabalhar assim. Todo dia acontece alguma coisa, eles nos mandam embora daqui. O problema é que não podemos trabalhar de outra coisa, sem a documentação”, disse.
ENTRADA DE ESTRANGEIROS NO PAÍS – De acordo com a Polícia Federal em Roraima (PF/RR), a recomendação para a entrada de estrangeiros no Brasil é que antes seja feita uma consulta prévia junto ao Consulado Brasileiro no país de origem, em razão das várias categorias de vistos disponíveis, como para estudo, trabalho, turismo e negócios.
Na representação consular, o estrangeiro deve se informar sobre a documentação necessária para entrar em outra localidade. Em alguns casos, dependendo da sua nacionalidade, o visto de turista também pode ser opcional. Os postos de fiscalização da PF estão localizados nos municípios de Pacaraima, fronteira com a Venezuela; em Bonfim, fronteira com a Guiana e no Aeroporto Internacional de Boa Vista. (P.C)