Cotidiano

Mais de 23 mil adolescentes estão fora da sala de aula em Roraima

Estudo revela ainda que, entre os anos de 2013 e 2014, o Estado teve a maior queda do país em relação ao atendimento de jovens nas escolas

Uma pesquisa lançada recentemente pelo Instituto Rui Barbosa (IRB) e a Associação dos Membros dos Tribunais de Contas do Brasil (Atricon), com base em dados mais recentes do Plano Nacional de Educação (PNE), do ano de 2014, revelam que mais de 23 mil adolescentes, de idade entre 15 e 17 anos, estão fora da sala de aula em Roraima. O relatório divulgou que, de acordo com os últimos dados lançados, somente 77,7% dos jovens estão estudando.
 
A porcentagem representa ainda a maior queda do país, com relação ao atendimento de alunos nas escolas, pois o Estado tinha um percentual de 87,9% de adolescentes sendo atendidos em 2013, uma redução de 10,2% em comparação ao ano anterior.

O documento, feito com base na análise de informações prestadas pelo Observatório do Plano Nacional de Educação (PNE) e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (Ibge), demonstrou que desde a implantação da Emenda Constitucional nº 59/2009, que trata sobre a educação básica e obrigatória e a Lei Federal 3005/2014, que estipula as medidas do PNE, o nível de oferta nunca esteve tão baixo.

Apesar das mais recentes informações ainda serem de dois anos atrás, o secretário estadual de Educação, Marcelo Campbell, confirmou que os dados não são uma novidade. Um dos pontos levantados por Campbell para motivar a desistência do aluno seria o fato de que muitos alunos não estão matriculados em séries de acordo com a sua idade.

“O Estado ainda tem uma distorção de idade/série muito grande, ou seja, casos dos alunos que não estão na série correta, na idade correta. Tanto que nós temos muitos alunos cursando o EJA (Educação de Jovens e Adultos) para tentar recuperar o tempo dos seus estudos. Muitos estados da Região Norte estão trabalhando nesse sentido”, acrescentou.

Além disso, o secretário acredita que a evasão seja um cenário comum em todas as escolas públicas do país, em especial, para os alunos da faixa etária especificada na pesquisa, com idade entre 15 e 17 anos, que normalmente estão cursando o ensino médio. “O abandono do ensino médio, a nível nacional, é muito grande. Mais de 50% dos alunos abandonam o ensino médio no Brasil, pelas estatísticas do Ministério da Educação (MEC). Por isso que o país está rediscutindo o que é o ensino médio hoje, para tentar tornar o estudo mais atrativo, que traga o aluno para dentro da sala”, revelou.

Para Cambpell, uma situação que influencia muito para a redução do atendimento de jovens nas escolas é que muitos alunos abandonam os estudos para procurar um emprego e contribuir com a renda familiar. “A crise econômica contribui muito. A partir dos 14 anos, os pais já querem que o filho vá trabalhar para ajudar nas despesas da casa e, em muitos casos, eles acabam abandonando a escola e indo se dedicar a um emprego, isso acontece muito, principalmente na área rural. Os alunos acabam saindo da escola para ajudar na sobrevivência da casa e depois eles retornam, por meio do EJA”, disse.
 
Para tentar reverter a situação, Campbell disse que a Secretaria Estadual de Educação tem investido no combate à evasão, à repetência e no reforço escolar através de programas como o Mais Educação, além de atuar junto com o Conselho Tutelar para fiscalizar os jovens que evitam a sala de aula.

Já para os próximos anos, o secretário adiantou que o Governo do Estado está planejando um grande programa para reduzir os números da distorção idade/série e o início das escolas de tempo integral, que manterá o aluno por mais tempo nas unidades de ensino, com o objetivo de evitar a saída precoce.

“Na escola de tempo integral, o aluno ficará na unidade tendo as aulas regulares, depois deverão ter aulas de reforço, principalmente nas áreas de português, matemática e ciências, além de matérias optativas na área do esporte, teatro, música e afins. Ainda não está fechado o quadro de matérias e o que vai ser oferecido, mas pela experiência da escola em tempo integral, é por isso aí que a gente caminha. O aluno deverá ficar na escola das 7 da manhã até as 16 horas, também para obedecer uma meta do Plano Nacional de Educação, que é tornar o ambiente escolar mais atrativo”, acrescentou.

O secretário também reforçou que os próximos dados da pesquisa ainda devem demonstrar índices mais baixos, por conta da greve dos professores ocorrida no ano passado e o aumento das matrículas nas escolas particulares, mas disse acreditar que o percentual deve mudar já nos anos de 2017 e 2018. “A gente vê que o Estado está cada vez mais exportando pessoas, os jovens estão indo estudar fora e ano passado, por conta da greve, muitos pais matricularam seus alunos em escolas particulares e a gente prevê o retorno desses alunos para 2017, quando os calendários já estiverem regulados. Eu acredito que a gente deve melhorar a situação”, disse.

Para finalizar, o secretário falou ainda que o trabalho de recuperação do índice de evasão dos alunos não é de recuperação rápida e deve ser trabalhado por pelo menos cinco ou seis anos, pois, para ele, o foco tem que ser na base do aluno, já no ensino fundamental. “O foco tem que ser combatendo os pontos críticos do sexto ao nono anos. Se o aluno já distorce, começa a abandonar e a repetir no fundamental, ele entra no ensino médio com os mesmos problemas. A gente tem certeza que nos anos de 2017 e 2018 nós já vamos ter uma grande diferença nestes números”, concluiu o secretário. (P.C)