Quem passar pela Praça da Cultura, localizada na avenida Ene Garcez, vai se deparar com uma manifestação artística inusitada. Os estudantes Wellmar Roth e Tafinis Said, do curso de artes visuais da Universidade Federal de Roraima, quiseram dar um visual diferente ao local, além da premissa da arte como meio para questionar e transformar a vida urbana cotidiana.
Como parte do projeto ‘Olhares que fazem a diferença’, os estudantes vestiram uma estátua que simboliza os indígenas do Estado com uma beca universitária. Segundo os alunos, a proposta é apresentar uma reflexão sobre as visões que os nãos índios têm dos povos indígenas.
“Será que é sempre a mesma representação do indígena, usando tanga segurando arco e flecha? A estátua desse indígena reforça a mais tradicional representação que se tem do nativo, uma visão que existe em nosso imaginário e da grande maioria dos brasileiros”, explica o estudante Wellmar Roth.
A Praça da Cultura, inaugurada em 1992, mostra um indígena, um vaqueiro e um garimpeiro como fundadores da sociedade roraimense.
“Sabemos que o campo da arte contemporânea é um terreno novo para a sociedade boa-vistense, e para isso são fundamentais propostas de trabalhos como esses, que, além de ter a produção artística em si, ainda embarcam de conceitos baseados em pesquisas bibliográficas que ajudam a sustentar o discurso sobre os estudos da arte contemporânea no Estado de Roraima”, relatou a estudante Tafinis Said.
Segundo Roth, a ideia surgiu em sala de aula a partir da disciplina Seminários Temáticos em Artes Visuais quando resolveram incorporar símbolos e evidenciar a visão de que índio é capaz de possuir formação e qualificação profissional se ele quiser.
“No final da disciplina teríamos que apresentar um trabalho artístico, onde optamos pela linguagem Intervenção Artística, mostrando um novo olhar à imagem do índio e refletir sobre os processos culturais na sociedade. Agora o índio usa beca, capelo, faixa, capa e um canudo, instrumentos tradicionais usados numa formatura universitária”, conta.
A obra possui também tecidos amarelos, que simbolizam, além da sua materialidade, o vento, a flexibilidade e o movimento.
“O tecido representa a fluidez de trocas culturais junto aos processos de construção e desconstrução de identidades que não somente as culturais mais tradicionais, como a indígena vem passando, mas como também toda a sociedade contemporânea de modo global”, contou. A intervenção fica até o dia 29 de julho.