Cotidiano

Preço da cesta básica chega a R$ 442,83, a mais cara do Norte

Crescente procura de alimentos por venezuelanos foi um dos fatores determinantes para inflacionar o preço dos produtos na Capital em 8,02% no mês de julho

O preço da cesta básica do boa-vistense disparou no mês de julho e sofreu alta de 8,02%, chegando a R$ 442,83, cerca de R$ 32,86 mais cara em relação ao mês anterior, quando o valor era de R$ 409,97. A pesquisa do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) apontou que a cesta da Capital passou da 13ª para a 6ª mais cara do Brasil e a mais cara da região Norte.

Conforme o Dieese, a alta acumulada nos sete primeiros meses de 2016 foi de 21,69%. O Departamento informou que o trabalhador boa-vistense, que recebe o equivalente a um salário mínimo, cerca de R$ 880,00, comprometeu 54,70% da remuneração líquida, ou seja, após os descontos previdenciários, com a cesta básica em julho. Em junho, o percentual exigido era de pouco menos de 50,64%.

Para conseguir comprar uma cesta básica, o boa-vistense que recebe apenas um salário mínimo precisou cumprir, em julho, jornada de 110 horas e 43 minutos, menor que as 102 horas e 29 minutos registradas em junho. O levantamento também apontou que a alta de 8,02% no preço da cesta básica foi a maior do País para o período.

Levando em consideração a determinação constitucional que estabelece que o salário mínimo deve ser suficiente para suprir as despesas de um trabalhador e sua família com alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência, o Dieese estimou que mensalmente o valor do salário mínimo atual necessário para a manutenção de uma família de quatro pessoas deveria ser de R$ 3.992,75, ou 4,54 vezes mais do que o mínimo vigente, que é de R$ 880,00.

PRODUTOS – Entre junho e julho, sete produtos aumentaram mais do que a média da cesta (8,02%): arroz agulhinha (24,04%), tomate (16,43%), feijão carioquinha (15,35%), leite integral (14,32%), açúcar (9,97%), banana (8,93%) e manteiga (8,56%). Já o preço da farinha de mandioca (7,43%), óleo de soja (0,65%) e pão francês (0,51%) permaneceu abaixo da média mensal.

Apenas dois produtos obtiveram redução no valor: o café em pó (-0,54%) e a carne bovina de primeira (-0,27%). Na Capital, os 12 produtos que compõem a cesta básica são: carne, leite, feijão, arroz, farinha, tomate, pão, café, banana, açúcar, óleo e manteiga. Ao contrário de outros estados, a batata não é incluída na cesta do boa-vistense.

Procura de venezuelanos por alimentos elevou preço dos produtos, diz Dieese

Um dos fatores apontados pelo Dieese para a alta no preço da cesta básica em Boa Vista foi a crescente procura de alimentos por venezuelanos no Estado. “Passamos por um fator peculiar com essa migração de venezuelanos devido a uma grande recessão que ocorre no país vizinho, fazendo com que a maior parte dos produtos da cesta básica tenha aumentado devido a esse brusco consumo repentino”, disse a técnica do Dieese, Adisley Mesquita.

A técnica avaliou que faltou preparo por parte dos empresários e produtores para a alta demanda. “Na verdade, os empresários não estavam preparados, e até os produtores foram pegos de surpresa. Em muitos locais, os produtos estão em fardo porque não dá mais nem tempo de colocar nas gôndolas. Ocorre especulação, falta de produto e o valor do produto aumenta por conta de diversos fatores”, afirmou.

Além da elevação dos preços, ela alertou para uma possível falta de produtos nas prateleiras do Estado. “Já está ocorrendo. Tínhamos várias marcas de arroz no mercado e hoje temos apenas duas ou três, assim como o feijão carioquinha, que está com apenas uma marca. A diversidade diminui muito. Os proprietários dos mercados devem se readequar a essa realidade e fazer com que os preços voltem aos seus valores normais”, frisou.

Conforme a técnica do Dieese, o feijão foi um dos poucos itens da cesta que teve alta no preço, por conta da falta do produto. “O feijão é um produto que possui uma peculiaridade porque é vendido e consumido apenas no Brasil. Então, quando ocorre redução na produção, não tem de onde o País importar o produto, fazendo com que o preço aumente”, destacou.

O Departamento pesquisou 87 estabelecimentos comerciais que englobam supermercados, feiras livres, padarias e açougues distribuídos em quase todos os bairros de Boa Vista. “Fazemos essa pesquisa em mercados de pequeno, médio e grande porte porque a pessoa que possui transporte vai a certo local, mas aquela que não possui, opta por ir onde fica mais próximo, por isso que essa amostragem é válida para dar a oportunidade de a população pesquisar”, explicou.

Preço da cesta básica compromete renda familiar, reclamam consumidores

A reportagem da Folha percorreu supermercados da Capital para saber a opinião dos consumidores sobre o preço da cesta básica em Boa Vista. “Sinceramente, a subida do preço está constante. Independente desse assédio, eu acho que a vinda dos venezuelanos acelerou o aumento do preço”, disse o autônomo Luciano Arruda, que afirmou gastar quase 40% do salário com alimentação por mês.

Para ele, a única forma de fugir dos altos preços é pesquisar nos estabelecimentos. “A concorrência está grande e creio que se pesquisar a pessoa encontra algum produto mais barato. A realidade mudou com a inflação, que está corroendo o nosso salário. Em muitos lugares já encontrei promoções entre um e outro com diferença de 40% no preço. A questão é pesquisar e não comprar de primeira”, aconselhou.

O vendedor Francisco Bezerra afirmou que os mais afetados são os trabalhadores assalariados. “Quem ganha salário mínimo gasta numa cesta básica mais da metade do seu ganho mensal. Sobra-lhe R$ 438,00 para transporte, luz, água, gás, aluguel, vestuário, carga de celular, saúde e lazer. É até um deboche”, reclamou. (L.G.C)