Cotidiano

Tripulação de avião desaparecido é resgatada e socorrida em BV

O resgate foi realizado por equipes de busca da Força Aérea Brasileira (FAB), que localizaram os passageiros a uma distância de 3,5 quilômetros de onde a aeronave foi encontrada

Os passageiros que ocupavam o avião Cessna U206G foram encontrados na manhã desta sexta-feira, dia 31, após cinco dias de buscas. Os sobreviventes chegaram em um helicóptero da Aeronáutica, no Aeroporto Internacional de Boa Vista ao meio dia, onde eram aguardados por ambulâncias e familiares. O piloto e o socorrista foram encaminhados para o HGR (Hospital Geral de Roraima), onde receberam atendimento e foram liberados
Já a paciente Marinês Vieira Barrosa, a criança recém-nascida e a acompanhante Françoisa Rodrigues da Silva, com 34 semanas de gestação, foram encaminhadas para o Hospital Materno-Infantil Nossa Senhora de Nazareth. Marinês foi submetida a procedimento cirúrgico, devido a complicações pós-parto. Todos estão bem, estáveis e sendo acompanhados pela equipe de plantão.
O resgate ocorreu por volta das 10h30, de ontem, quando as equipes de busca da Força Aérea Brasileira (FAB) localizaram os passageiros a uma distância de 3,5 quilômetros de onde a aeronave foi encontrada, na quinta-feira, dia 30. Um bilhete deixado no local do pouso informando o trajeto que eles iriam percorrer, auxiliou as equipes na busca pelos sobreviventes.
Conforme o bilhete, os tripulantes permaneceram no local do pouso por três dias. Eles deixaram o acampamento montado próximo a aeronave, pois passavam fome e temiam o ataque de uma onça que rodeava o lugar. “Estamos indo para o Rio Branco, mata 270º, a equipe tá fraca passando fome há três dias. Por isso o motivo da saída do acampamento. Informamos mata perigosa com onça em volta. Peço que vocês vão até o Rio Branco proa 270º precisamos de alimento. Vamos tentar pegar barco no Rio Branco”, informava o manuscrito.
O CASO – No domingo, dia 26, o médico responsável pela Unidade de Saúde Rosa Vieira, localizada na vila Santa Maria do Boiaçu, no município de Rorainópolis, solicitou ao Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) a remoção de Marinês, pois ela ainda estava com a placenta colada ao útero após o parto realizado na noite anterior. 
O acesso à região é possível apenas via aérea ou fluvial. Para atender a paciente a Secretaria Estadual de Saúde solicitou da Casa Militar uma aeronave. O avião deixou a Capital em direção ao Sul do estado por volta das 9h15, com o piloto e socorrista do Samu. 
Após os primeiros atendimentos, a tripulação deixou o local às 10h15. Além da paciente, do piloto e do socorrista estavam a bordo a criança recém-nascida e a acompanhante, no nono mês de gestação.
O avião deveria ter chegado em Boa Vista por volta das 14 horas, porém foi declarado desaparecido somente no final da tarde, pois segundo o chefe da Casa Militar havia combustível suficiente para mais três horas de voo. Como a aeronave não chegou a Boa Vista, foi declarada desaparecida no início da noite.
Na segunda-feira, dia 27, a Casa Militar solicitou da Força Aérea Brasileira (FAB) equipes para realizar as buscas pelo Cessna. Na quarta-feira, o Corpo de Bombeiros integrou as buscas, enviando equipes para realizar buscas no baixo Rio Branco. (I.S)
Piloto afirma que tinha esperanças de ser localizado
Em entrevista a Folha, o piloto do Cessna, Raimundo Nonato da Costa Lima, afirmou que tinha esperanças que ele e o restante da tripulação fossem encontrados. Ele descreveu a experiência como a mais inusitada dos 20 anos de profissão.
O piloto relatou que o motor da aeronave apresentou problemas e parou no trajeto entre a vila Santa Maria do Boiaçu e Boa Vista. “Fui obrigado a fazer um pouso de emergência. Graças a Deus que deu tempo de chegar em terra firme antes que uma tragédia pior acontecesse”, disse Lima ao relatar que a vegetação de lavrado facilitou o pouso do avião.
Lima relatou ainda que a tripulação permaneceu no local do pouso por três dias, onde montaram um acampamento. “Iríamos ficar no avião, mas o socorrista achou melhor irmos atrás de comida, pois se não iríamos morrer de fome”, explicou.
Antes de deixar o local, Lima resolveu escrever um bilhete descrevendo o trajeto que eles iriam percorrer, pois tinha esperança de um resgate. “Nós comíamos frutas e folhas. O bebê foi amamentado pela acompanhante da mãe, pois ela estava muito debilitada e sangrando”, relatou.
Segundo o piloto haviam onças na região. “Dava pra ver de longe as onças rodearem o nosso acampamento. Durante a noite, ouvíamos apenas o rugido delas”, comentou.
Apesar do ocorrido, Lima afirmou que pretende continuar trabalhando como piloto. “Esses são os desafios da profissão. Vou continuar pilotando o tempo que for necessário. Essa experiência, foi a mais inusitada de toda a minha carreira e me deu mais ânimo para seguir em frente”, disse. (I.S)