Um novo princípio de rebelião na Cadeia Pública de Boa Vista (CPBV), no bairro São Vicente, zona Sul, foi iniciado na manhã desta terça-feira, 23. O clima de tensão se estendeu até o final da tarde. De acordo com familiares, os detentos reivindicam que o Estado deixe de “oprimir” os presos que estão na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc), na zona rural de Boa Vista.
A Sejuc afirma que os próximos dias serão de tensão no sistema prisional, uma vez que uma série de ações será desencadeada e que os ânimos dos presidiários se exaltarão. Por volta das 11h de ontem, ouviu-se os primeiros protestos. Os presos batiam nas grades e gritavam. Policiais militares se deslocaram para a cadeia onde agentes penitenciários já tentavam conter os rebeldes.
Pouco tempo depois, uma viatura com homens da tropa de choque deu auxílio à tentativa de colocar a unidade em ordem, mas o Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar já tinha agido e silenciado os presos. Familiares compareceram à Cadeia para saber se há feridos, mas não foram atendidos pelos policiais que estavam no portão.
Os detentos exigem que o Estado cesse com suposta “truculência” em suas decisões na Pamc, principalmente no que diz respeito a remanejamento de detentos pela polícia a pedido da Secretaria Estadual de Justiça e Cidadania (Sejuc).
Em entrevista à Folha, o secretário adjunto de Justiça e Cidadania, Francisco Xavier, afirmou que o objetivo dos manifestantes é impedir que o sistema prisional se organize para que continuem à vontade na prática de ilícitos dentro das unidades de detenção. “Eles atuam de maneira conjunta. O que está sendo feito no sistema, agora, de modo que se organize a vida deles e a questão administrativa, está incomodando. Porque, na verdade, a intenção de alguns presos de facções é que o sistema não se organize, para que os policiais e agentes penitenciários continuem sem um foco definido. Então, vamos definir um foco para organizar o sistema de maneira geral”, declarou.
A Sejuc explicou que nos próximos dias algumas ações serão aplicadas dentro das unidades, por isso os detentos continuarão protestando. “A primeira ação foi remanejamento de detentos para uma ala única, para que os estudantes da Pamc não tivessem atrasos nas aulas. Desde então estão se manifestando, mas sem uma motivação relevante. O Estado e a Sejuc vão continuar firmes no próposito”, acrescentou Xavier.
Familiares de detentos disseram que a alimentação não foi servida desde as primeiras horas da manhã de ontem. “Eles não serviram a comida. Toda vez que tem rebelião os presos não comem”, disse uma das pessoas que estava na frente da Cadeia Pública.
A Sejuc informou que o café da manhã e o almoço foram servidos, todavia os detentos recusaram a recebê-los. “O café da manhã, eles não pegaram. A alimentação do almoço está sendo colocada em frente às alas e eles estão se recusando a pegar essa alimentação. E se recusaram a sair hoje para assistir às aulas. Tanto a alimentação que está sendo desperdiçada quanto à demanda do ensino, porque os professores estão indo para lá, geram um prejuízo para Estado. Eles não querem cumprir com as obrigações”, destacou. (J.B)