Há quatro dias policiais militares, agentes penitenciários, homens da Tropa de Choque e do Batalhão de Operações Especiais (Bope) fazem vigília nas unidades prisionais do Estado. Desde segunda-feira, 22, os detentos estão fazendo reivindicações ao Estado que, segundo eles, seria responsável pela “opressão” aos internos da Cadeia Pública de Boa Vista (CPBV), no bairro São Vicente, zona Sul de Boa Vista, e da Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc), localiza na zona rural.
Na manhã de ontem, 25, o clima de tensão foi retomado quando os presos quebraram cadeados, saíram das celas e iniciaram um tumulto dentro de cada uma das unidades. Para reforçar a segurança, viaturas da Polícia Militar se deslocaram e ficaram de prontidão em frente aos presídios para dar apoio, caso necessário.
De acordo com a polícia, presos ligados a facções criminosas são os que comandam os tumultos, que iniciaram após a Secretaria Estadual de Justiça e Cidadania (Sejuc) ter adotado medidas administrativas no sistema penitenciário. Conforme o governo, o principal motivo de insatisfação dos internos foi um remanejamento de um grupo de alunos da escola da Pamc para uma ala isolada.
Alegando que a alimentação é de péssima qualidade, os presos se recusam a comer. Na Cadeia Pública, eles afirmam que os protestos e tumultos cessarão assim que os “irmãos” da Pamc deixarem de sofrer ameaças. Após a ação de repressão, os detentos divulgaram vídeos gravados por meio de celulares em que relatam as condições a que estão sendo submetidos e dizem que a situação nas duas unidades prisionais só voltará ao normal depois que as demandas exigidas forem atendidas.
GOVERNO – O secretário estadual de Justiça e Cidadania, Uziel Castro Júnior, esclareceu, em entrevista à Folha, na manhã de ontem, as causas das revoltas. “Houve uma readequação dos presos no Sistema Prisional, objetivando levá-los para uma área onde ficaria mais fácil o deslocamento deles para a escola, para estudarem. Os presos que estão remindo pena no trabalho, que são mais de 100, também foram deslocados para outra ala, e isso causou uma revolta, gerou uma insatisfação muito grande em algumas pessoas. Há de se ressaltar que a maioria deles está cumprindo a pena. Estão tranquilos, mas houve essa revolta, mas eu creio que a partir de hoje [ontem] estará normalizado”, disse.
Sejuc convoca imprensa e diz que presos querem ficar livres nas alas
No final da manhã desta quinta-feira, 25, a imprensa foi convocada para participar de uma coletiva na Secretaria Estadual de Justiça e Cidadania (Sejuc) e demais representantes do Governo do Estado que integram cargos de confiança dentro das unidades prisionais, incluindo os diretores dos presídios. O objetivo foi esclarecer a situação em que se encontra o sistema penitenciário. Foram apresentadas as ações que desencadearam uma série de protestos por parte dos presos da Cadeia Pública de Boa Vista e na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc).
O secretário estadual de Justiça e Cidadania, Uziel Castro Júnior, afirmou que as manifestações dos presos foram geradas pelas insatisfações de “pseudo-líderes de facções criminosas”, como o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC), que atuam nos presídios. “Queriam ficar andando pelas alas com celas abertas e isso não vai acontecer”, destacou.
O adjunto da Sejuc, Francisco Xavier, declarou que as ações foram aplicadas para que o sistema volte à realidade, controlado e íntegro, o que os presos não querem. “São ações administrativas para reorganizar”, enfatizou. Segundo o diretor, as determinações estão sendo feitas, mas os detentos não querem acatá-las, por isso estão se rebelando.
Em relação ao uso de telefones celulares pelos presidiários, Xavier ressaltou que os problemas desta natureza estão sendo resolvidos. “Estamos sanando as falhas. Essas medidas buscam acabar com a entrada de celulares, por exemplo”, acrescentou.
Uziel Castro informou que o Estado estuda a possibilidade de contratar uma empresa para coibir a entrada de celulares e que em nenhum presídio do Brasil a vigilância é totalmente eficiente para evitar que os aparelhos cheguem às mãos dos presidiários.
Segundo ele, israelenses apresentaram um projeto ao governo e vieram ao Estado fazer estudos para coibir a entrada dos telefones, no entanto, a Sejuc declarou que a proposta é cara e inviável. Se o serviço fosse implantado, Roraima seria o primeiro Estado do Brasil a utilizá-lo.
O diretor da Pamc, João Paulo Passos, observou que a penitenciária tem uma área muito extensa e que medidas serão realizadas para que os aparelhos telefônicos sejam banidos da unidade e que uma análise de cada situação envolvendo presos e o uso dos aparelhos será feita.
ALIMENTAÇÃO – Questionados sobre a alimentação servida aos presos, a direção da Cadeia Pública relatou que não falta comida, o que acontece é que os detentos a recusam, alegando que seria de péssima qualidade. “A alimentação é de qualidade. Detentos alegam que não presta, mas é uma decisão deles não comer”, salientou o diretor da Cadeia Pública, Lisando Diniz.
Oito marmitas foram disponibilizadas aos profissionais da imprensa para que pudessem provar da mesma alimentação oferecida aos detentos. “Esssa é a marmita que os reeducandos vão comer, contendo arroz, feijão, macarrão e uma proteína. Todos os dias é assim”, detalhou Castro.
As visitas de parentes estão temporariamente suspensas até que os presídios sejam colocados em ordem. A Sejuc disse que é uma medida cautelar para prevenir qualquer incidente e garantir a segurança de quem entrar nas unidades prisionais. (J.B)