Na manhã de ontem, 30, policiais militares e homens do Corpo de Bombeiros foram acionados para atender a uma ocorrência na sede do Instituto de Previdência do Estado de Roraima (Iper). Quando chegou ao local, a polícia encontrou, já detido, o professor aposentado Benício Lima da Mata, de 57 anos.
Depois de ir muitas vezes ao órgão reclamar sobre sua aposentadoria, desta vez ele entrou com um galão de gasolina, despejou o combustível e tentou incendiar o prédio, mas foi detido por funcionários. De acordo com a família, o aposentado trabalhou alguns anos na Universidade Estadual de Roraima (UERR) e seus proventos mensais ultrapassavam a quantia de R$ 6.000, entretanto, hoje precisa sobreviver com pouco menos de R$ 1.000 que recebe de aposentadoria. “É uma situação muito difícil, muito complicada e injusta”, frisou um familiar.
Nas redes sociais, o aposentado compartilhou todo o drama que ele vive e relatou que pensou várias vezes em cometer suicídio por conta de dívidas financeiras que ultrapassam o valor de R$ 400 mil e da suspensão de sua aposentadoria integral.
A Folha teve acesso a um dos pareceres médicos e descobriu que Benício sofre de alienação mental, quadro crônico incurável, é incapaz de gerir a própria vida depois que teve um Acidente Vascular Cerebral (AVC), diabetes e esquizofrenia. Além de todos os problemas crônicos, ele enfrenta uma forte depressão. “Tudo isso aconteceu depois que ele se aposentou e descobriu que não poderia desfrutar de forma sossegada. Imagine alguém trabalhar a vida toda e, no final das contas, não ter condições de passar o mês sem preocupação devido às condições financeiras. A aposentaria de R$ 900 é uma ‘cuspida’ na cara do servidor”, disse uma amiga que estava na delegacia prestando apoio.
Em uma postagem no Facebook, no dia 23, Benício detalhou os problemas de saúde que vem sofrendo: “Fui aposentado por invalidez por várias doenças psiquiátricas, alienação mental, depressão psicótica, diabetes, hipertensão, taquicardia, duodenite crônica, esteatose hepática crônica, infarto cerebral, AVC e artrose crônica com espondilose dorsal”.
FLAGRANTE – Depois de detido, o aposentado foi levado para a Delegacia-Geral de Homicídios (DGH) por ter atentado contra a vida de um servidor. As delegadas do Departamento de Homicídios da DGH Eliza Alice Lopes, Francilene Hoffmann e Mirian Di Manso realizaram as oitivas e todos os procedimentos relacionados ao caso.
“Ele foi autuado em flagrante, foi ouvido um PM, como condutor, e ouvidos três servidores do Iperr, como testemunhas. Ele tentou atear fogo e cometer suicídio em seguida. Além do combustível, tinha uma faca, dois isqueiros e uma caixa de fósforos. Chegou a despejar o combustível na sala e foi contido no momento em que estava tentando acionar o isqueiro para atear fogo na sala e no advogado. Precisou da força de três homens, servidores do Iper, para contê-lo”, explicou Di Manso.
Na delegacia, conforme a polícia, o professor demonstrou insatisfação diante da decisão da consultoria jurídica do Iperr porque solicitou a aposentadoria alegando um tipo de doença que, segundo previsão legal, não compreende a aposentaria integral. “Ele foi aposentado para receber proventos proporcionais ao tempo de contribuição. Não satisfeito com a decisão, dirigiu-se à sede do Iperr na tentativa de matar o advogado porque entendeu que o advogado foi responsável por esse parecer final que o impede de receber integralmente os proventos”, acrescentou a delegada.
Di Manso informou que não compete a ela analisar se o aposentado apresenta algum distúrbio psicológico, por isso não poderia opinar. O professor está sob a custódia da Polícia Civil e, na manhã de hoje, 31, o juiz em audiência de custódia decidirá se vai liberá-lo ou se ele será encaminhado à Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc) para cumprir a pena.
FAMÍLIA – Em entrevista à Folha, a esposa do acusado declarou que mora em Rorainópolis, Sul do Estado, mas que hoje estava no Hospital da Criança Santo Antônio quando recebeu um telefonema e foi informada sobre os fatos. Disse que foi surpreendida porque, apesar do quadro psicológico do aposentado, ele não apresentava sinais de que poderia praticar o crime.
“Ele toma uma grande quantidade de medicamentos e o dinheiro que ele ganha não cobre as despesas básicas. Desde então nós vamos ao Iper. Fomos duas vezes lá, e quando chegamos, o responsável pelo setor administrativo não queria falar com a gente. Aí o Benício disse que queria falar com ele. O Benício, que insistiu na conversa afirmando que o servidor queria prejudicá-lo. O homem botou dois seguranças e disse que não queria ouvir meu esposo”, ressaltou.
A mulher disse que tomou uma atitude e conseguiu conversar com o funcionário que se mostrou preocupado com a quantia que o Iper precisa dispensar ao aposentado. “Não deixaram subir, mas eu subi e disse ao servidor que teria que me ouvir porque sou esposa”.
De acordo com a esposa, o instituto concedeu que outra perícia fosse realizada. “Mas ontem o médico negou. Já tinha saído no Diário Oficial o resultado da perícia que deu ao meu marido a oportunidade de desfrutar de proventos integrais, mas agora foi cortado. Fico muito triste porque ele sempre foi uma pessoa que trabalhou pela manhã, à tarde e à noite, mas agora que está doente, não tem direito para nada e fica nessa situação aí?”, destacou.
IPERR – Em nota, a direção do Iperr lamentou o ocorrido e informou que o órgão cumpre integralmente a legislação previdenciária e que todas as aposentadorias por invalidez são concedidas com base em laudos da Junta Médica do Estado. (J.B)