Cotidiano

Data é marcada por insatisfação da população com os serviços em RR

Demora na marcação de consultas, no atendimento depois de estarem marcadas e até no atendimento em unidades de urgência são algumas das reclamações frequentes

Amanhã, dia 05, é comemorado o Dia Nacional da Saúde. Apesar da data, a população usuária do SUS (Sistema Único de Saúde) no Estado diz que não têm motivos para comemorar. Relatam dificuldades para marcar consultas, falta de aparelhos para realizar exames e demora no atendimento médico.
A equipe de Reportagem da Folha percorreu algumas unidades de Saúde do Estado e constatou que mesmo depois do decreto de “Situação Especial de Emergência na Rede Pública Estadual de Saúde”, pelo Governo do Estado, há mais de dois meses, as reclamações ainda são muitas. A Folha percorreu unidades municipais de Boa Vista também e verificou que a situação não é muito diferente da rede estadual.
Os pacientes que foram ao Hospital Coronel Mota, na última terça-feira, dia 29 de julho, para realizar exame de Raio-X, retornaram para casa sem o procedimento realizado. A zeladora Maria da Conceição chegou à unidade às 7h30. Ela estava com o exame marcado há cerca de um mês e relatou que esperou ser chamada por mais de duas horas, quando duas servidoras da unidade informaram que os exames marcados para aquele dia seriam remarcados, pois a máquina de Raio-X estava com uma peça queimada. “Como não fiz o exame hoje, precisarei faltar o trabalho”, lamentou.
A dona de casa Zenaide Costa acompanhava a avó de 82 anos, que anda em uma cadeira de rodas devido a complicações de uma doença. A idosa que também estava com o exame marcado, retornou para casa sem realizar o procedimento. “Minha avó está muito doente. Como ela não anda mais, é muito difícil a locomoção. Acordamos cedo e nos deslocamos até aqui para nada. Acho que deveriam ter um pouco mais de respeito com a nossa situação’, disse.
Nas unidades de pronto atendimento do Estado, como a Policlínica Cosme e Silva, no bairro Pintolândia, na zona Oeste da cidade, a insatisfação da população é em relação, principalmente, à demora no atendimento e à classificação dos casos como emergência ou não.
Na última quinta-feira, dia 31 de julho, o autônomo Batuel Gomes levou a filha de cinco anos à unidade, pois ela estava com febre e garganta inflamada. “Esta é a vida de quem depende do sistema público de saúde: esperar por horas. E o pior de tudo é que há apenas um médico para atender cerca de 50 pessoas”, reclamou.
No mesmo dia, a dona de casa Ana Lúcia Cruz chegou à Policlínica, às 5 horas, com a filha de dois anos, que estava com uma ferida na cabeça. “O ferimento virou um buraco. Tenho medo que isto vire algo pior ou que infeccione”, relatou.
Ana Lúcia afirmou que, apesar da situação, a filha recebeu a classificação verde, que não é considerada emergência. “Ela chora bastante porque o ferimento dói, mas, mesmo assim, não foi considerada prioridade. Já estou esperando há mais de cinco horas. É difícil contar com um atendimento de qualidade no sistema público”, reclamou.
SESAU – A Sesau (Secretaria Estadual de Saúde) informou, por meio de nota, que um aparelho mais moderno foi adquirido para o Hospital Coronel Mota e a suspensão nos atendimentos foi justamente para viabilizar a capacitação dos técnicos para operarem o novo equipamento. A nota ainda informou que a maioria dos pacientes foi avisada, mas que não possível contato com todos.
Informaram, ainda, que na Policlínica Cosme e Silva, um funcionário inicia às 6h30 a organização das filas e das prioridades, para que logo em seguida, às 7 horas, seja feito o agendamento das consultas.
Conforme a nota da Sesau, os incidentes que surgem nestes horários, na maioria, ocorrem por parte de usuários que não aceitam aguardar a vez por conta do atendimento prioritário a idosos, gestantes e lactantes. Quanto à quantidade de médicos no Pronto Atendimento, naquele dia, pela manhã, eram quatro profissionais, entre consultório, sutura e observação.
Demora e falta de estrutura fazem pacientes desistirem de postos e contribuir do próprio bolso
A doméstica Regina Selmo de Souza mora no bairro Raiar do Sol, zona Oeste da Capital, há 11 anos. Ela relata que durante este período, nunca conseguiu marcar uma consulta no posto de saúde do local. “Sempre que vou ao posto, enfrento uma fila enorme para marcar consultas, o atendimento é lento e o serviço prestado não é de qualidade”, disse.
Regina afirmou que quando conseguia marcar a consulta, o médico não aparecia no dia previsto. “Quando se tem um problema de saúde, não podemos esperar muito tempo para resolvê-lo. Ao invés de aguardar semanas, às vezes até meses por uma consulta, prefiro procurar direto o HGR [Hospital Geral de Roraima], onde, apesar da demora, tenho a garantia que serei atendida”, desabafou a doméstica.
Ela tem uma filha de 11 anos de idade e quando necessita marcar consultas para a criança, enfrenta o mesmo problema. “A única coisa que consigo no posto de saúde são as vacinas. Se minha filha estiver doente, já procuro logo o Hospital da Criança”, disse.
Para o mestre de obras Ivan Nascimento, o sistema público de saúde em Roraima é péssimo. Ele fala da necessidade de investir na contratação de mais servidores e de melhorias na estrutura dos postos de saúde. “Semana passada estive com minha esposa no posto de saúde do bairro Pintolândia, os sintomas eram febre, fortes dores de cabeça e garganta inflamada. Ela estava com sede, então, fui buscar-lhe água, mas não foi possível bebê-la, pois não havia copos descartáveis. Saí e comprei cinco pacotes para resolver o problema”, disse.
PREFEITURA – A Folha entrou em contato com a Prefeitura de Boa Vista para obter esclarecimentos em relação aos problemas referentes ao atendimento nos postos de saúde, mas não houve retorno até o fechamento desta matéria, às 16 horas deste domingo, dia 03.