Passados quase 16 anos, a Justiça de Roraima realizará nesta terça-feira, 06, no Fórum Criminal da Comarca de Boa Vista Ministro Evandro Lins e Silva, o julgamento do ex-delegado da Polícia Civil, Silvino Lopes, acusado de ser mandante da chacina do Cauamé, crime ocorrido no dia 05 de novembro de 2000 na praia do balneário Cauamé, no trecho norte da BR-174.
Na ocasião, sete adolescentes e jovens, com idades entre 13 e 21 anos, foram brutalmente assassinados às margens do rio Cauamé. Outros dois jovens acabaram sobrevivendo à ação, mesmo feridos. Um deles se fingiu de morto e uma jovem conseguiu fugir e ser socorrida por um homem que a levou até o Pronto Socorro, no Hospital-Geral de Roraima (HGR).
Durante a chacina, os criminosos obrigaram os jovens a deitarem no chão. Em seguida, com requintes de crueldade e armados com revólveres e facas iniciaram a execução das vítimas. O fato gerou repercussão nacional pela crueldade dos crimes. Os jovens H.S.N., E.S.L., J.C., R.A.S., R.A.S., T.M.F.R., G.A.L.S., R.S.V., e R.A.S. foram executados com aproximadamente 80 facadas e seis tiros.
Na época do crime, o advogado Silvino Lopes era ex-presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados em Roraima (OAB-RR), o que acabou causando grande repercussão na sociedade. Um dos sobreviventes do massacre o reconheceu por meio de fotografia, o que motivou a sua prisão.
O Ministério Público do Estado de Roraima (MPRR) enviou nota esclarecendo que Silvino Lopes, o seu cunhado Mocélio Pereira Linhares e o ex-policial civil Wellington Gentil são os acusados pelos crimes. Consta nos autos que os réus agiram de forma premeditada.
Familiares ainda esperam que a justiça seja feita. “Faz 16 anos, mas a gente precisa que os jurados e todas as pessoas que sabem do caso entendam que nem todo mundo que estava no Cauamé naquela noite era bandido. Eu não sei de quem eles estavam atrás, mas mataram gente inocente”, destacou.
A irmã de três adolescentes mortos na chacina comentou que a família ainda sofre. “É uma ferida que não sara, é uma ferida aberta e todas às vezes que tocamos no assunto ou ouvimos o nome dos acusados a gente sangra por dentro. Meus irmãos tinham 17, 16 e 15 anos, eram meninos que estavam se divertindo. Foi a maior tristeza que aconteceu na minha vida e hoje temos a chance de ver mais um dos criminosos preso”, frisou.
JÚRI – O julgamento inicia às 8 horas e segue durante o dia. Aberto ao público, o júri acontece no Fórum Criminal, na Avenida José Tabira de Alencar Macedo, nº 602, bairro Caranã. A acusação será conduzida pelo promotor de justiça Carlos Paixão de Oliveira.
Conforme a denúncia do MPRR, Silvino Lopes será julgado por homicídio triplamente qualificado em razão do motivo fútil, meio cruel e recurso que dificultou a defesa das vítimas e ainda por tentativa de homicídio. Os crimes são previstos no artigo 121, combinado com 14 e 69, todos do Código Penal.
Esta é a segunda vez que o réu vai a julgamento. Em 2001, Silvino Lopes foi absolvido pelo júri, porém o MPRR recorreu e a justiça anulou o julgamento. Apesar de recorrer da decisão, o réu teve todos os pedidos indeferidos, inclusive pelo Supremo Tribunal Federal. Na época da absolvição, o promotor Carlos Paixão explicou que, enquanto nada era decidido, a população de Roraima e os familiares das vítimas aguardavam ansiosos por justiça.
CONDENADO – No ano de 2007, o ex-policial Wellington Gentil foi condenado a 115 de reclusão. Atualmente, ele cumpre pena na Cadeia Pública de Boa Vista (CPBV). Foi o segundo julgamento do réu, que em 2001 também foi absolvido dos crimes e teve o julgamento anulado após pedido do Ministério Público.
Outro envolvido no crime, Mocélio Pereira Linhares, chegou a ser preso, mas está foragido do sistema prisional desde o ano 2000. (J.B)